Hartung topa tudo
Confira a coluna Praça Oito desta terça-feira, 6 de novembro
FHC tinha 62 anos quando chegou à Presidência da República. Lula tinha 57 anos. Dilma Rousseff, 63. Na média, os três últimos presidentes brasileiros eleitos pelo voto popular chegaram ao Planalto aos 61 anos de vida. É precisamente a idade que o governador Paulo Hartung terá na eleição presidencial de 2018. Mas Hartung, candidato à Presidência da República? Não soa como um exagero?
A princípio, sim, certamente. Mas as últimas declarações e gestos feitos pelo governador não permitem dúvida: Hartung está determinado a participar diretamente, em algum nível relevante, da eleição presidencial do ano que vem. O papel que ele pode vir a desempenhar está completamente em aberto, até porque isso depende de uma série de variáveis sobre as quais ele não tem o menor controle – o arranjo dos grandes partidos e dos grandes líderes nacionais na disputa, por exemplo. Mas nesta segunda-feira (6), em entrevista exclusiva à Rádio CBN Vitória, Hartung foi incisivo: “Topo tudo”, afirmou, fazendo lembrar Silvio Santos.
Se o peão da candidatura própria parar de rodar apontando para o nome dele (uma chance remotíssima, mas não de todo desprezível), Hartung agarra a chance no ato. Mas não necessariamente ele almeja ser protagonista. Com base em suas declarações recentes, PH é antes de tudo candidato a ter participação ativa nesse Show de Calouros em que está se convertendo a eleição ao Planalto, onde todos, de Luciano Huck a Henrique Meirelles, querem exercer alguma influência.
Não quero que o Estado seja retaliado por posições políticas minhas. Vou para um partido que tenha mais conexão com meu campo de pensamento
Ao jeito dele – despistando e girando todos os pratos ao mesmo tempo –, PH alimenta as especulações de que pode ser vice em alguma chapa em um projeto com o qual se identifique. Ao mesmo tempo, flerta com Doria (PSDB), Rodrigo Maia (DEM) e Joaquim Barbosa. Acima de tudo, porém, o que PH a esta altura parece querer mesmo é ser uma voz, audível e levada em conta, nessa próxima eleição nacional, esteja ele ou não compondo alguma chapa presidencial.
Nesta segunda-feira (6), na entrevista à CBN, Hartung falou o tempo todo do cenário político nacional. Além do rotineiro autoelogio de quem oferece o próprio governo como exemplo para o resto do país, fez uma análise qualificada do passado, do presente e do futuro: os erros na política e na economia que nos conduziram até aqui e o risco de que a atual disputa entre correntes políticas extremistas de direita e de esquerda propicie a ascensão de algum aventureiro populista em 2018 – repetindo Trump nos Estados Unidos, segundo Hartung “um bravateiro”. “Os extremos não são bons. Pessoas raivosas pensam com o fígado e não com a cuca. (...) Os extremos (de direita e de esquerda) acabam se encontrando em alguns pontos. Ambos acreditam na força do Estado e que o governo pode fazer tudo. Apresentam bravatas e soluções simples para problemas complexos. Não tem solução simples para o Brasil”, disse o governador.
Hartung criticou com veemência o “intervencionismo governamental irracional do governo do PT”, aplicado desde o fim do governo Lula – “Governo bom é governo que sabe das suas limitações”, afirmou ele. Ao mesmo tempo, rejeitou um liberalismo também de certo modo extremista e irracional, que só beneficie empresários e investidores, sem considerar o resto da sociedade – “Produz maravilhas do ponto de vista financeiro, mas uma impactante exclusão social”.
Hartung, enfim, volta a bater acima de tudo na tecla de necessidade de uma agenda para o país. E apresenta diretrizes dessa agenda. “Precisamos sair desse buraco. Tem que ajustar este país. E temos que mobilizar a população para ela entender o que precisa ser feito. É esse o programa que a gente precisa trabalhar junto aos brasileiros e às brasileiras”, afirmou o governador, dizendo-se, ainda, “pau para toda obra”. “Se precisarem de mim na política nacional, vou estar à disposição. Se precisarem de mim na política local, vou estar à disposição.”
Para bom entendedor, Hartung valoriza seu passe e se insinua ao mercado político nacional. Tipo, “tô aqui, hein!”. É uma guinada que o leva de volta à postura mantida até o fim de 2016. Convém, contudo, um pouco de cautela extra nesta análise dos planos de PH para 2018. Afinal, com tantas idas e vindas, saber se daqui a dois meses ele dirá a mesma coisa é mais difícil do que antecipar o que a Porta da Esperança nos reserva.
Posição moderada
Se há duas características que ninguém pode negar em Hartung é a sua inteligência política e a qualidade das suas formulações. Pois bem, o faro do governador parece ter captado o atual vácuo de vozes políticas mais moderadas que se apresentem em meio a essa disputa de extremos desenhada para daqui a um ano – extremismos igualmente criticados por ele, tanto o de esquerda como o de direita.
Entre extremos
Mais do que isso, Hartung indica ter identificado a carência e a necessidade de líderes políticos que preencham esse vácuo. Mesmo na polarização estabelecida quanto ao papel do Estado na vida econômica, Hartung adota discurso moderado, posicionando-se entre os dois extremos hoje formados, de um lado, por uma esquerda míope que deseja voltar aos tempos de “intervencionismo estatal irracional” e do desgoverno fiscal que originou toda esta crise econômica; do outro, por uma direita liberal monofocal que ignora, deliberadamente ou não, as exclusões sociais geradas por um mercado sem freios nem obrigações.
Autodefinição
“Sou um político de centro-esquerda. Hoje é preciso ser um social-democrata radical no olhar da questão social, no prover de educação e serviços sociais básicos. Eu apoio as reformas liberais, mas me preocupam muito os efeitos sociais dessa globalização”, afirma o governador.
A guinada da guinada
Hartung volta a mudar o foco após um período, iniciado em maio passado, no qual pareceu se voltar 100% para uma agenda doméstica, liderando uma bateria de eventos dignos de vereador pelo interior do Estado e indicando claramente, até para seus auxiliares diretos e diletos, que ele havia desistido da ideia de arriscar algum voo nacional e decidido se concentrar mesmo na reeleição em 2018. Agora, ele volta a embicar para Brasília. É a guinada da guinada da guinada.
Eleição no PSDB
Candidatos à presidência do PSDB-ES, Max Filho realiza hoje, às 19h30, reunião com aliados no Dispensário S. Judas Tadeu, na Prainha, enquanto Colnago sai de férias para se focar na campanha.