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Escritor e médico explica como chegar aos 100 com qualidade de vida

Escritor e médico explica como chegar aos 100 com qualidade de vida

Médico fala que envelhecer bem passa por cuidar do corpo e da mente. E indica a meditação como um dos melhores meios para se chegar lá

Publicado em 17 de dezembro de 2017 às 01:13

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Rejuvelhecer. Não, a palavra não está errada. A expressão é do médico Sérgio Abramoff, autor do livro “Rejuvelhecer: a saúde como prioridade”, que mostra o caminho para que cheguemos a uma velhice com saúde. Atingir os 100 anos, é possível? “Sim. O problema não é chegar aos 100 anos, mas sim chegar com qualidade de vida”, comenta o médico. Nesta entrevista, ele fala que envelhecer bem passa por cuidar do corpo e da mente. E indica a meditação como um dos melhores meios para se chegar lá.

Segundo a ONU, em 2100, o mundo terá 21 milhões de pessoas com 100 anos ou mais e o Brasil aumentará sua população de centenários em 110 vezes. O que precisamos fazer para entrar nesse grupo?

Nossa expectativa de vida vem progressivamente aumentando, e todas as pesquisas vêm demonstrando o impacto do estilo de vida na mortalidade precoce. Enquanto toda a ausência de cuidados médicos contribui com 10% das mortes prematuras, e a herança genética com 30%, o estilo de vida inadequado é responsável por 40% destas mortes prematuras. Quando digo que precisamos “rejuvelhecer”, significa que devemos colocar a saúde como prioridade. Uma velhice saudável é possível se vier como uma consequência dessa postura, se as pessoas começarem a praticar aquilo que já foi provado que faz diferença para uma velhice saudável. O problema não é chegar aos 100 anos, mas sim chegar com qualidade de vida.

No livro, o senhor diz que dois terços da população mundial desenvolvem, com o passar dos anos, pelo menos duas doenças crônicas. Quais são os problemas mais comuns na velhice?

As doenças prevalentes são hipertensão arterial, diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares, câncer, demência, sem falar na fragilidade na musculatura, que deixa a pessoa sem mobilidade. São doenças que incapacitam muito, mas grande parte delas podem ser prevenidas.

É possível, então, reverter essa estatística?

As medidas mais eficientes nesse sentido são atividade física; dieta saudável; abstenção de fumo e outras drogas; uso de álcool com moderação; controle de pressão arterial, glicemia e colesterol; sexo seguro; sociabilização e redução do estresse. Não é tão difícil de seguir essa receita. Basta mudar o foco: as pessoas hoje vão mais ao médico cuidar da doença, quando deveriam ir cuidar da saúde.

Por que é tão difícil pensar em prevenção em relação à velhice? É uma questão cultural mesmo?

O livro procura informar os riscos e as pesadas multas que acometem as pessoas que negligenciam os cuidados com seu corpo. Acredito que com informação é possível reverter o comportamento de risco dos pacientes. Muita gente ainda acredita naquele mito: “para quê vou ao médico? Para procurar doença?”. Na verdade, você vai procurar saúde.

E aí, pode ser tarde...

Sim. Muitas vezes, quando você descobre uma doença que dá sintomas, ela já evoluiu muito. Um colesterol alto não dói. E 50% dos infartos não têm aviso prévio. O Alzheimer, quando tem já sintomas, a pessoa já perdeu 80% dos neurônios. Não dá para esperar os sintomas. É preciso colocar a ida ao médico na rotina. Até os 50 anos, uma vez ao ano basta. E nessa consulta, é possível ver o estado geral, saber quais taxas tem que controlar. Não é tão complicado.

Ainda vale a máxima “é melhor prevenir do que remediar”?

É melhor cuidar da saúde do que da doença, concorda? Não somos imortais, mas a maioria de nós vive como se fosse. Se não encontrarmos tempo para cuidar da saúde, certamente encontraremos para a doença.

O senhor recomenda o método de mindfulness (consciência plena) para prevenir doenças crônicas como o Alzheimer. A meditação é capaz mesmo de operar milagres?

A meditação é um dos mais importantes mecanismos de redução do estresse e de fortalecimento de nosso sistema imunológico. Estado emocional e estado físico têm uma ligação importante. Quanto maior o estresse, menos defesa imunológica temos, mais adoecemos.

Devemos aprender a meditar?

É preciso aprender a meditar. Tem gente que ensina. Há cursos para isso. Até na internet há formas de aprender sobre meditação, e depois vai praticar. A meditação é a aquietação da mente. Você sai dos problemas do dia a dia, foca na respiração. Pelo menos 20 minutos por dia são suficientes. É um momento de calma, de reequilíbrio. Com a mente equilibrada, você equilibra o corpo inteiro.

O senhor condena o uso de polivitamínicos, alardeados especialistas na medicina antienvelhecimento. Ginkgo biloba não ajuda na memória?

Condeno o uso indiscriminado de vitaminas como utilizado no passado sem que houvesse uma confirmação laboratorial de deficiência, uma vez que esta prática foi associada a efeitos colaterais, inclusive o câncer digestivo e pulmonar. Quanto ao Ginkgo biloba, as pesquisas científicas são contraditórias, a maioria não evidenciando resultado benéfico. A verdade é que todas as medicações para o combate à demência devem ter seu emprego em fase muito precoce da doença, uma vez que após o surgimento das queixas as doenças neurodegenerativas já se encontram em estágio avançado.

Jovens que sofrem com estresse e a ansiedade podem ter problemas sérios na velhice?

Hoje em dia é difícil evitar o estresse. Muita cobrança, muita informação, dificuldades econômicas, insegurança, sobrecarga com múltiplas funções principalmente entre as mulheres. Daí a importância de otimizar os outros fatores de proteção.

O senhor afirma que de cada 100 projetos para emagrecer, 92 fracassam. Onde está o erro na maioria das pessoas?

Todos querem o atalho, as pílulas emagrecedoras, o balão intragástrico, o SPA etc. Poucos aceitam e persistem na mudança de hábitos alimentares a longo prazo, e na atividade física diária.

No livro, o senhor lista dicas para um envelhecimento saudável. Entre as dicas, estão conservar o otimismo e não ter medo da morte. De que forma esses fatores influenciam na qualidade de vida lá na frente?

O otimista vive em média 30% a mais que o pessimista, porque seus hábitos são mais saudáveis, sua resiliência mais presente. Sobre não ter medo de pensar nossa finitude e perceber que tudo tem um princípio, meio e fim faz com que valorizemos cada dia como uma bênção. Ainda, com que nos tornemos menos autocentrados e, finalmente, com que trabalhemos para que no momento derradeiro possamos ter um sorriso nos lábios e a paz de espirito de termos sido o melhor que nos seria possível.

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