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70 anos sem Gandhi: o que ele nos ensinou

70 anos sem Gandhi: o que ele nos ensinou

Paz, amor, igualdade... Lições que continuam atuais até hoje

Publicado em 26 de janeiro de 2018 às 13:50

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Mahatma Gandhi - estátua. (Shutterstock)

Alguém que prega o amor, a paz, o respeito e a igualdade entre todos os seres não passa em branco neste mundo. Deixa uma marca que não se apaga, e ensinamentos que perpassam várias gerações.

Mahatma Gandhi, morto há exatos 70 anos, é um dos líderes políticos e religiosos mais importantes da história. Enquanto viveu, no século 20, teve pensamentos e atos revolucionários para uma pessoa que era contra qualquer tipo de violência.

Na sua luta nacionalista, ele fez com que as atenções se voltassem para a Índia, até então considerada um submundo, como explica Lidice Meyer, professora de História de Ciências da Religião da Mackenzie de São Paulo.

“A grande importância de Gandhi se dá pelo fato de ser um ser humano, não é figura mítica. Um homem que conseguiu, através de seu esforço pessoal, conquistar o mundo inteiro para que observassem o que acontecia na Índia sob domínio britânico”, explicou a professora.

Para Emiliano Unzer, professor de História da Ásia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o maior legado de Gandhi talvez tenha sido incorporar os conceitos filosóficos e religiosos do universo indiano para as contestações sociais e políticas, tal como a não-violência e a busca pela verdade. “Disso resultou a grande projeção de sua figura e seu discurso no mundo indiano, asiático e mundial”.

Mensagem

Fato é que sua mensagem era clara e forte. “Era uma mensagem acessível a todos. O discurso de Gandhi não era hermético, fechado na teologia hindu. Ele era muito inteligente, com conhecimento de muita literatura. Mas tinha uma fala muito simples, e isso era interessante. Os dirigentes o entendiam, e o povo também conseguia entendê-lo”, diz Lidice Meyer.

Segundo ela, mais do que um líder político, Gandhi era um líder social. “Ele queria mostrar que o povo indiano tem seu valor. A ideia era resgatar um valor intrínseco, e isso vai ao encontro do valor espiritual, valor interior de cada um. Por isso, uma espiritualidade muito grande exala de Gandhi. Criado numa atmosfera britânica, ele usava muito a Bíblia em seus discursos”.

Para Mahatma Gandhi, diz Lidice, só havia um único Deus, e esse Deus era contra a violência. Uma lição que, para ela, continua importante nos dias de hoje. “Ele defendia que, havendo um Deus único, era possível conviver em paz, não importa a religião de cada um. É algo ainda difícil nos dias de hoje, de tanta intolerância religiosa”, observa.

Para ambos os especialistas, as ideias de Gandhi continuam influenciando. “É alguém que admiro muito. Um dos grande líderes do século 20. Acredito que ele continua influenciando, vejo interesse nos ensinos dele. Na própria Índia, Gandhi continua sendo uma figura importante, reverenciada. E fora da Índia, ainda desperta curiosidade e admiração”, aponta a professora.

“As ideias de Gandhi remetem a uma forma de resistência civil não-violenta que fundamenta toda manifestação contra as formas policiais. Seus conceitos vieram do ideário indiano, mas a forma de protesto revelou-se universal, como foram os protestos de Occupy Wall Street de 2011. E sua defesa contra a discriminação racial e social ecoou muito além de seu tempo e local”, destacou Emiliano Unzer.

Depoimento

"É uma inspiração para mim", diz psicólogo chamado Gandhi

Gandhi Trópia, psicólogo. (Reprodução/Facebook)

Quando nasci, minha mãe, Lúcia Trópia, queria que eu me chamasse Wilson Junior, nome de meu pai. Meus irmãos têm nomes bíblicos, como Francisco de Assis e Maria, a caçula. Mas meu pai estava lendo um dos livros de Gandhi, e acabaram me dando esse nome. Essa escolha tem muito a dizer sobre meus pais, que criaram a primeira clínica naturista e o primeiro restaurante vegetariano do estado de Minas Gerais. Eles viviam em prol das pessoas.

Depois que o restaurante fechou, por problemas administrativos, meu pai ficou famoso ao dar aulas de filosofia de vida, na década de 1990. Ele acabou tendo influência na criação do Instituto de Desenvolvimento Pessoal, o Indesp, no Espírito Santo. Depois, foi dirigir a Legião da Boa Vontade (LBV) em Belo Horizonte. Um dia, o presidente da instituição na época, Alziro Zarur, queria se candidatar à presidência da República. E meu pai, que não concordava com esse envolvimento da LBV com política, resolveu fazer um jejum em forma de protesto.

Ele foi para o Parque Nacional de Petrópolis, onde passou 40 dias em jejum para tentar forçar a direção da LBV a desistir da ideia da candidatura. Voltou para casa pesando 37 quilos, parecendo um ET, o que deixou minha mãe tão preocupada que ela decidiu fazer uma macarronada para ele. Meu pai comeu e passou tanto mal que precisou ser internado, quase morreu. Ele tinha essas atitudes extremas... Mas acabei seguindo um pouco os passos dele. Sou psicólogo, mas já trabalhei com acupuntura, massoterapia. Agora dou palestras em várias cidades do país, entre elas Vitória.

A influência de Gandhi foi grande sobre minha família e sobre mim também. Há muito aprendizado a tirar a história de Gandhi. Já li vários livros dele, vi filmes. É uma figura que me inspirou muito. Na minha infância, adolescência, na formação do meu caráter. Por influência de Gandhi, fui buscar ioga, meditação e um caminho mais equilibrado na vida...”

Saiba mais sobre a "Grande Alma"

Quem foi: Mohandas Karamchand Gandhi -, ou como ficou conhecido, Mahatma (“A grande alma”, em sânscrito) Gandhi - nasceu na Índia em 2

de outubro de 1869

Estudos e carreira: Sua família era rica. Seu pai era um político local. Quando jovem, Gandhi foi enviado para estudar na então Inglaterra e lá se forma em Direito

Vegetarianismo: Ser vegetariano era tradição hindu e jainista. Ele escreveu vários livros sobre o assunto enquanto cursava a faculdade, em Londres

Casamento e castidade: Gandhi casou-se aos 13 anos com Kasturbai, da mesma idade, numa união acertada entre as famílias. O casal teve quatro filhos. Depois dos 30 anos de idade, ele resolveu adotar o celibato e abdicou do sexo

Choque cultural: Na juventude, em Londres, Gandhi sofreu um acidente de trem. Ele viajava de primeira classe quando solicitaram que se transferisse para a terceira classe, por ele não ser branco. Como se recusou a obedecer à ordem, foi jogado do trem. O episódio o fez se interessar em combater as leis discriminatórias da época

Vida na África: Gandhi se forma e volta à Índia. Mas não consegue se estabelecer na carreira e vai trabalhar em uma firma hindu na África do Sul, onde desperta para a consciência social e passa a defender os direitos das minorias

Simplicidade: Gandhi passou a usar roupas feitas por ele mesmo, numa vestimenta mais comum à maioria dos hindus. Caminhava a pé com as pessoas nos protestos. Passava dias em silêncio, meditando e escrevendo. E fazia longos jejuns em protesto

“Satiagraha”: O termo, que significa, em sânscrito, “a busca da verdade”, foi usado por Gandhi durante

sua campanha pela independência da Índia. É o que baseou a pregação de não-violência nos protestos. O termo deu nome a uma operação da Polícia Federal Brasileira em 2008 contra desvio de verbas públicas

“Soldado da paz”: “Me considero um soldado da paz”, disse Gandhi durante uma conferência em Genebra, nos anos 30

Morte: No dia 30 de janeiro de 1948, Gandhi foi assassinado a tiros, em Nova Déli, por Nathuram Godse, um hindu radical que se entregou logo depois do crime e foi enforcado em 15 de novembro de 1949

Funeral: O cortejo fúnebre de Gandhi, realizado no dia seguinte de sua morte, durou cinco horas, em uma procissão acompanhada por milhões até o rio Yamuna, onde seu corpo foi colocado em uma jangada e incinerado, conforme a tradição hindu

Nobel da paz: Gandhi foi indicado ao prêmio Nobel da Paz cinco vezes, entre 1937 e 1948, mas nunca ganhou

Sobre Gandhi: O físico Albert Einstein escreveu que “as gerações por vir terão dificuldade

em acreditar que um homem como este realmente existiu e caminhou sobre a Terra”

O filme: O filme sobre a biografia de Gandhi, lançado em 1982 e estrelado pelo ator Ben Kingsley, que ficou tão parecido com o verdadeiro Gandhi que alguns nativos da Índia acharam que ele fosse seu fantasma. O segredo pode estar nos genes: a família paterna do ator é oriunda do estado indiano de Gujarat, o mesmo de Gandhi. O filme ganhou vários prêmios, entre eles oito Oscars

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Fonte: Wikipedia, Infoescola e site Adoro Cinema

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