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Dor lombar afeta cerca de 540 milhões de pessoas no mundo

Dor lombar afeta cerca de 540 milhões de pessoas no mundo

Ao invés de remédios, governos devem incentivar terapias físicas

Publicado em 21 de março de 2018 às 19:03

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A dor lombar é o principal fator de incapacitação em todo o mundo, afetando aproximadamente 540 milhões de pessoas. Agora, uma nova série de artigos na revista “The Lancet” destaca como o tratamento à doença é negligenciado.

Diversas evidências sugerem que a lombalgia deve integrar a atenção primária, iniciando o tratamento pela educação e orientação para que as pessoas se mantenham ativas e capazes de trabalhar.

No entanto, uma alta proporção de pacientes em todo o mundo é atendida em serviços de emergência, encorajados a descansar e a interromper o trabalho. Muitos são encaminhados para o consumo de analgésicos ou realização de exames e até cirurgia.

"A maioria dos casos de dor lombar responde a terapias físicas e psicológicas simples que mantêm as pessoas ativas e permitem que elas permaneçam no trabalho", explica a autora dos estudos, Rachelle Buchbinder, da Universidade de Monash, na Austrália. "Muitas vezes, porém, são promovidos tratamentos mais agressivos de benefícios duvidosos".

Rachelle examinou casos em países de alta e baixa renda e constatou que muitos erros cometidos em nações desenvolvidas estão sendo replicados no resto do mundo. O descanso é frequentemente recomendado nos países em desenvolvimento, e os recursos para modificar o local de trabalho são escassos.

A lombalgia é responsável por 2,6 milhões de atendimentos de emergência nos EUA a cada ano, com altas taxas de prescrição de opioides. Um estudo de 2009 descobriu que os medicamentos foram prescritos em aproximadamente 60% dos casos. Já os exercícios físicos foram recomendados em apenas metade das situações.

Na Índia, segundo o levantamento, o repouso é o recurso mais recomendado, enquanto na África do Sul os remédios para dor foram prescritos em 90% dos casos como única forma de tratamento.

"Em muitos países, os analgésicos, que têm efeito positivo limitado, são rotineiramente prescritos para dor lombar. Falta ênfase em outras intervenções, como exercícios físicos" acrescenta Nadine Foster, professora da Universidade de Keele, no Reino Unido e coautora dos levantamentos. "É fundamental evitar que os tratamentos equivocados sejam repetidos nos países de baixa renda".

O estudo “Carga Global de Doenças”, publicado no ano passado, descobriu que a dor lombar é a principal causa de incapacidade em quase todos os países de alta renda, assim como na Europa Central, Leste Europeu, Norte da África, Oriente Médio e partes da América Latina. Todos os anos, um total de 1 milhão de anos de vida produtiva é perdido no Reino Unido por causa da deficiência de dor lombar; 3 milhões nos EUA; e 300 mil na Austrália.

A carga global de incapacidade devido à dor lombar aumentou em mais de 50% desde 1990, e deve crescer ainda mais nas próximas décadas à medida que a população envelhece.

A lombalgia afeta principalmente adultos em idade ativa. Raramente uma causa específica pode ser identificada, de modo que a maioria é denominada como não específica e as evidências sugerem que fatores psicológicos e econômicos são importantes na persistência da dor.

A maioria dos episódios é de curta duração, com pouca ou nenhuma consequência, mas casos recorrentes são comuns, cerca de uma em cada três pessoas registrarão recorrência em menos de um ano. Além disso, a enfermidade é cada vez mais entendida como uma condição duradoura.

Segundo os autores do estudo, os sistemas de saúde pública devem evitar tratamentos prejudiciais e inúteis, optando por estratégicas mais seguras, eficazes e econômicas. As pesquisas também destacam a necessidade de divulgar para a população quais seriam as melhores alternativas para combater a dor. Já os profissionais de saúde devem entender quais são as causas, os prognósticos e a eficácia das diferentes terapias para a dor lombar.

"Milhões de pessoas em todo o mundo estão recebendo os cuidados errados contra a dor lombar", alerta Jan Hartvigsen, professor da Universidade do Sul da Dinamarca, que também assina os estudos. "Cabe às autoridades de saúde alertar ao público sobre tratamentos contraproducentes, promovidos por empresas interessadas em manter o status quo".

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Para Hartvigsen, o poder público deve parar de financiar testes e terapias ineficazes ou que maléficos à saúde, além de intensificar a pesquisa em prevenção e melhores tratamentos.

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