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Transplante dá fim a luta de 20 anos para enxergar

Transplante dá fim a luta de 20 anos para enxergar

Empresária perdeu a visão de um olho por causa de um fungo

Publicado em 30 de março de 2018 às 23:50

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Rosimeri, em sua casa, em Vitória, após o transplante de córnea. Ela pretende cursar Artes Cênicas e casar. (Fernando Madeira)

A visão ainda não é perfeita, está meio embaçada, o que é natural para alguém que se recupera de um recente transplante de córnea. Mas o resultado é mais do que Rosimeri Lorenzutti Pella esperava e já a faz vislumbrar um futuro sem o sofrimento que a acompanhou por quase 20 anos na batalha para voltar a enxergar.

Quando era uma jovem moradora do interior do Estado, casada e mãe de duas crianças, Rosimeri perdeu a visão do olho esquerdo devido a uma infecção grave. “Fui uma das fundadoras de uma cooperativa financeira em Rio Bananal, onde nasci e fui criada. Me entreguei ao trabalho por cinco anos, trabalhando até tarde da noite. Contava pilhas de moedas e notas três, quatro vezes, tudo manualmente. O dinheiro vinha sujo, mofado, com fezes às vezes. Acabei pegando uma infecção em um dos olhos”, lembra.

Na época, como demorou para descobrir a causa do problema, ela foi, rapidamente, perdendo a visão. “Os médicos passavam remédios que só pioravam o quadro. Até que fui levada para Belo Horizonte (MG), onde fiquei internada por 20 dias, quase entrei em coma”.

SÃO PAULO

Rosimeri foi parar em São Paulo, onde caiu nas mãos de uma equipe comandada por uma das mais renomadas oftalmologistas do país, Denise de Freitas, que coordena o Programa de Pós-Graduação em Oftalmologia e Ciências Visuais da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“A médica esperava por mim no aeroporto e me aplicou ainda lá uma injeção. Porque a infecção estava se espalhando pelo corpo. Fui internada e de lá não saí por todos esses anos. Eles juntavam alunos para acompanhar meu caso. Até que descobriram que a causa era um fungo, que peguei do dinheiro quando era bancária”, conta.

O fungo, em questão, é o Purpureocillium lilacinus, um parasita de difícil tratamento quando afeta o olho, segundo Denise de Freitas. Ainda se sabe pouco sobre ele, que virou objeto de estudo de um grupo de pesquisadores na Unifesp. Eles acompanham outros pacientes com o mesmo tipo de infecção ocular, que ainda é considerada rara.

“É um fungo comum no solo. Na última década, tem sido cada vez mais encontrado como o agente causal de infecções no homem”, explicou a médica.

Cirurgias, exames, medicamentos pesados, febres altíssimas, dores intermináveis viraram rotina para Rosimeri. Longe dos filhos, ela viu suas economias irem embora e seu casamento desmoronar nesse tempo. O apoio de familiares e da própria equipe médica a ajudou a aguentar a barra e a não desistir de lutar para enxergar bem novamente.

TRANSPLANTE

A agonia durou pelo menos oito anos. Já os últimos dez, a hoje empresária passou tratando sequelas da infecção e se preparando, física e emocionalmente, para o transplante, que aconteceu no dia 15 de janeiro deste ano.

Algo que pouca gente acreditou que seria possível. “Muita gente me falou para eu desistir, não fazer o transplante. Até porque o primeiro não deu certo. Não queriam que eu sofresse mais. Mas eu sempre tive uma força interna muito grande”, conta Rosimeri.

Os cuidados com a saúde ainda estão longe do fim. Somente em janeiro de 2019 a empresária irá retirar os últimos pontos da cirurgia. “Os médicos ainda não sabem como vai ficar meu olho. Mas com dias de operada eu já comecei a enxergar um pouco, desafiando a todos”.

A médica prefere cautela: “Ela deve ter uma ótima recuperação da visão, mas corre o risco de ter rejeição e outras complicações, como glaucoma”.

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Nada que apague o brilho que já se vê no olhar de Rosimeri, cheia de entusiasmo, aos 50 anos de idade, ao falar do tempo que tem dedicado ao que mais ama: a moda. “Tenho muitos planos. Já tenho minha grife feminina, que estou ampliando. Quem sabe vou estudar Artes Cênicas, pois sempre sonhei em ser artista. E me casar de novo”, revela.

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