Pesquisadores capixabas estão aplicando uma técnica diferente que contribui para a conservação do maior mamífero terrestre: a anta. Eles estão conseguindo fazer a identificação desses animais por meio da pegada deles. O estudo foi liderado pela pesquisadora Danielle de Oliveira Moreira e publicado recentemente na Revista Peerj.
É uma técnica inovadora, eficiente e de baixo custo. Até então, o modo de identificação aplicado exigia a captura do animal para que fosse anestesiado. Era preciso levar um veterinário junto e muitos medicamentos, explica Andressa Gatti, doutora em Biologia Animal e coordenadora do Programa Pró-Tapir.
O programa existe desde 2011, vinculado à Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e conta com seis pesquisadores, além de colaboradores até de outros estados e países.
Segundo a especialista, o estudo foi realizado em uma das mais importantes áreas da Mata Atlântica, o complexo florestal Linhares-Sooretama, situado no norte do Estado. Os pesquisadores vão pelas trilhas seguindo o rastro deixado pelas antas e fotografando cada pegada.
A gente precisa fotografar sempre a pegada traseira esquerda da anta, que é a que melhor representa a característica do bicho. Cada pegada é única de uma anta para outra. Depois, jogamos os dados em um programa que faz a análise de similaridade e vai agrupando. Assim, conseguimos identificar o número de indivíduos diferentes em cada local, detalha ela.
Vantagens
Essa técnica também tem vantagens em relação às armadilhas fotográficas, usadas nos estudos de outras espécies. O procedimento consiste em colocar o equipamento na mata. Um sensor de movimento e temperatura vai registrar quando o animal passar. Mas com a anta não dá muito certo porque ela não tem marca como a onça pintada, por exemplo, exceto quando apresenta alguma cicatriz mais evidente, diz Andressa.
A Tapirus terrestris, como é cientificamente chamada essa espécie comum na América do Sul, é muito importante para a natureza. Não à toa, recebeu o apelido de jardineira das florestas. A anta consome frutos grandes, que outras espécies não conseguem consumir. Como ela se desloca por grandes distâncias, acaba dispersando as sementes. Por isso, é fundamental para a diversidade da floresta, aponta Andressa.
A espécie, porém, está em perigo de extinção nas matas do Estado. A caça da anta não é mais tão forte aqui no Estado. O maior impacto vem dos atropelamentos nas rodovias. Perdemos recentemente uma anta fêmea adulta, já perdemos uma grávida, destaca.
Saiba mais sobre a "Jardineira das florestas"
Tamanho - A anta, cientificamente chamada de Tapirus terrestris, é o maior mamífero do Brasil, podendo atingir até dois metros de comprimento e pesar até 250 quilos.
Dieta - É um animal de hábitos noturnos e herbívoro. Gosta, principalmente, de frutos de grande porte e folhas.
Espécies - Existem pelo menos quatro espécies de anta no mundo. No Brasil e na América do Sul, é a Tapirus terrestris. Há ainda outras espécies na América Central, nos Andes e na Ásia.
Onde vive - A anta podia ser encontrada por todo o território do ES. Agora, existe em algumas áreas de reserva, como em Sooretama e Conceição da Barra.
Papel na natureza - É apelidada de jardineira das florestas, por ser dispersora de sementes por longas distâncias, contribuindo, desta forma, para a formação e manutenção da biodiversidade onde vive.
População - A previsão é que os últimos remanescentes desapareçam em pouco mais de 30 anos. No ES, onde estima-se que restem em torno de 200 animais, a anta já é considerada em perigo de extinção.
Sobre o estudo: https://peerj.com/articles/4591/ Projeto Pró-Tapir/Divulgação Pesquisadoras fotografam as pegadas do animal, que está em perigo de extinção no Estado Ilustração/Shutterstock
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