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Imunoterapia é opção contra câncer de pulmão

Imunoterapia é opção contra câncer de pulmão

Estudo e autorização da Anvisa reforçam abordagem como alternativa à quimioterapia

Publicado em 12 de junho de 2018 às 10:41

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Exame de raio-X de um pulmão com câncer: imunoterapia é nova alternativa de tratamento para a doença, uma das mais comuns do tipo. (Divulgação/Instituto Nacional do Câncer dos EUA)

O avanço das pesquisas sobre imunoterapia no combate ao câncer — que faz com que o próprio organismo do paciente combata as células cancerosas — nos últimos dois anos está deixando para trás a era em que a quimioterapia era a única forma de tratar tumores de pulmão em estágio avançado. Exemplo disso é um ensaio clínico apresentado há dez dias nos EUA por um pesquisador brasileiro, que comparou imunoterapia com a substância pembrolizumabe e quimioterapia padrão em pacientes com câncer de pulmão avançado ou metastático. Esse é o tipo de câncer mais letal. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) prevê 30 mil novos casos no Brasil este ano. O estudo mostrou que a imunoterapia é capaz de dar maior sobrevida com menos efeitos colaterais aos pacientes.

A imunoterapia agora também pode ser usada em combinação com o tratamento convencional, a quimioterapia, no Brasil. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou, ontem, a inclusão do uso combinado do pembrolizumabe com quimioterapia como primeira opção de tratamento de câncer de pulmão avançado de não pequenas células, o tipo mais comum, que responde por 85% dos casos.

Chamado Keynote-042, o trabalho apresentado pelo oncologista brasileiro Gilberto Lopes, do Sylvester Comprehensive Cancer Center da Universidade de Miami, na sessão plenária da reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), em Chicago, confirmou o que outros trabalhos já indicavam: os resultados da imunoterapia estão relacionados à quantidade no tumor do biomarcador PD-L1, uma proteína que permite que o câncer se “esconda” do sistema imunológico.

Pacientes com expressão da proteína de 1% ou mais tiveram sobrevida média 4 meses maior do que os que receberam quimioterapia. Esse tempo sobe entre os que têm mais de 50% de expressão de PD-L1: sobrevida média de 8 meses a mais com o pembrolizumabe em comparação à quimioterapia.

Há casos em que pacientes não respondem à imunoterapia, mas os resultados do trabalho mostram ainda que efeitos colaterais graves ocorreram em menos de 20% dos pacientes, Já entre os submetidos à quimioterapia, foram 40%.

— Um grande número de pacientes com câncer de pulmão agora tem uma nova opção de tratamento com melhor eficácia e com menos efeitos colaterais que a quimioterapia padrão — diz Gilberto Lopes, um dos autores do estudo, que foi considerado um dos de maior potencial de impacto para pacientes no evento internacional.

Tratamento caro: frasco custa R$ 14 mil

Uma análise anterior já havia avaliado positivamente a imunoterapia em pacientes com o mesmo tipo de câncer, mas com uma expressão maior de PD-L1. O trabalho de Lopes e seus colegas avança ao mostrar que pacientes com menor quantidade dessa proteína também se beneficiaram da imunoterapia. Ainda assim, os pesquisadores afirmam que mais estudos precisam ser feitos para definir que pacientes especificamente se beneficiariam do pembrolizumabe. O teste de patologia para o biomarcador determina os pacientes com indicação.

— Esse estudo avaliou uma população que até então não tinha opção de usar imunoterapia, aquela com baixa expressão de PD-L1. Para os com alta expressão, a imunoterapia já tem se mostrado melhor como primeira linha de tratamento — diz a oncologista Clarissa Baldotto, da Oncologia D'or e do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica. — Hoje nos perguntamos se há um grupo de pacientes que não precisa de quimioterapia, mas só de imunoterapia. É o contrário do que acontecia antigamente. O estudo não responde isso, mas foi mais um mostrando que a imunoterapia tem efeito para praticamente todos com câncer pulmão com metástase.

A oncologista ressalta que novas opções de tratamento ampliam o leque de possibilidades dos médicos, ajudando a aumentar o tempo de vida do paciente. Se uma estratégia não responde bem, há outros caminhos. Lopes concorda:

— A quimioterapia é associada a muitos efeitos secundários, e a maioria dos pacientes deixa de responder em alguns meses e vem a falecer em um ano ou dois. No estudo, mostramos que a imunoterapia teve resultados melhores: pacientes que receberam essa terapia viveram 20% mais. Teremos agora a opção de combinação de quimioterapia com imunoterapia e, provavelmente, isso também será parte do nosso padrão-ouro de tratamento.

A combinação à qual ele se refere foi aprovada ontem pela Anvisa. O estudo Keynote-189, apresentado em abril deste ano, foi utilizado como base para a decisão da agência brasileira. O trabalho mostrou que o pembrolizumabe associado à quimioterapia na primeira linha de tratamento para pacientes com câncer de pulmão de não pequenas células avançado reduziu em cerca de 51% o risco de progressão da doença ou morte em comparação ao tratamento padrão com quimioterapia.

— Juntar essas drogas é como uma força-tarefa. O que achamos que acontece é que a quimioterapia mata algumas células do câncer e as expõe para o sistema imunológico. Com isso, conseguimos os dois agindo ao mesmo tempo e existe esse ganho importante de sobrevida — diz o oncologista William William, diretor de oncologia e hematologia do Hospital BP, A Beneficência Portuguesa de São Paulo. — Com a junção das estratégias, houve mais efeitos colaterais, os que se esperaria de quimio mais imuno, mas são administráveis.

O acesso a esse tipo de tratamento nos serviços público e privado esbarra no preço. O do pembrolizumabe, desenvolvido pela americana MSD e primeira imunoterapia com benefício de sobrevida global comprovada, não foi alterado com a aprovação da Anvisa. O frasco custa R$ 14.507,04.

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