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Como fazer do seu bebê um dorminhoco

Como fazer do seu bebê um dorminhoco

Veja técnicas para ajudar seu filho a dormir a noite todinha

Publicado em 15 de setembro de 2018 às 23:52

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Silvana Cordeiro com a filha Sophie, de 9 meses: a menina dorme no próprio berço desde os 2 meses e meio. (Ricardo Medeiros)

Já ouviu aquela expressão “depois que filho pari, nunca mais dormi”? Pois é a situação da Thamyres Polezi Dal Col. Desde que o Theo nasceu, há exatos um ano e um mês, ela não sabe o que é uma noite inteira de sono. “Ele acorda, em média, quatro vezes cada noite. É desesperador”, desabafa a jovem.

O sono da criança é um verdadeiro pesadelo para muitas famílias. Por isso, o assunto é tratado com seriedade pelos médicos. E já existem até profissionais que se dedicam exclusivamente a esta tarefa: fazer com que o bebê seja um dorminhoco e dê, finalmente, um descansinho para seus pais – pelo menos durante a noite.

“Algumas crianças têm sono pesado. Essas não vão dar trabalho nunca! Mas muitas não são assim e precisam aprender a dormir”, destaca o neuropediatra Marcelo Masruha, professor e chefe do setor de neurologia infantil da Universidade Federal de São Paulo.

De acordo com o pediatra Gustavo Moreira, do Instituto do Sono da Unifesp (SP), em torno de 30% das crianças menores de cinco anos de idade têm dificuldade para iniciar e manter o sono.

Além de privarem os pais de um repouso tranquilo, os bebês também sofrem com esse mau hábito noturno. “Crianças que dormem pouco e têm muitos despertares podem ter infecções respiratórias frequentes. Também podem sofrer alguma alteração no crescimento e no desenvolvimento e queda da imunidade”, cita Moreira.

“Bebês que dormem bem são menos ansiosos, menos inquietos, têm funcionamento cognitivo melhor, passam o dia melhor e são menos propensos a doenças”, completa Masruha.

Para os pais, claro, não poderia ter algo melhor. “Um filho que dorme bem ajuda na saúde física e mental do casal, que tende a ter mais paciência para cuidar do filho e também um com o outro. O ambiente em casa é mais tranquilo”, aponta o neurologista.

ANSIEDADE

O fato é que se a criança passa as madrugadas mais de olhos abertos do que fechados, a culpa pode ser de quem a bota para dormir. “Vejo muita ansiedade, muita inquietação, muita insegurança. Às vezes, a criança está dormindo, e a mãe vai lá e pega, cobre, muda de posição...”, comenta a consultora de sono infantil Monalizza Erlacher.

Por isso, nada de ninar no colo ou apelar para aquela voltinha de carro. Essas estratégias, segundo especialistas, viram armadilhas e só pioram as coisas. Há técnicas certas para ensinar o bebê a dormir sozinho, o que pode ser feito, de acordo com Gustavo Moreira, a partir dos seis meses de vida.

É aí que entra a ajuda de fora, algo parecido com a famosa “Supernanny” da TV, aquela profissional que chega a ir à casa da família ver o que está atrapalhando o sono do bebê e dar conselhos de ouro aos pais.

Silvana Cordeiro é uma delas, embora não goste desse apelido. “Quando nos procuram, muitas mães estão desesperadas, chorando. Elas relatam que nem querem ter um segundo filho, de tão traumático que é esse período, porque a criança não dorme e elas também não. É um sofrimento sem fim que as faz até desistir da maternidade”, destaca.

RESULTADOS

O sono da pequena Maya, de 1 ano e meio, nunca foi tranquilo. Ela acordava várias vezes à noite, para desespero dos pais. Mas a realidade agora na casa é outra, como conta a mãe dela, Joana Ventorim. (Carlos Alberto Silva)

Fazer o bebê aprender a dormir a noite toda pode dar um trabalhinho no começo. Mas os resultados são recompensadores, segundo Silvana.

“É preciso organizar a rotina da família e desse bebê, que deve ter horário certo para dormir. É todo um ritual noturno, na verdade, que vai garantir que ele durma bem. Tem que fazer todos os dias a mesma coisa”, diz a consultora. A ordem é abandonar certas manias. “No começo, é desafiador. Mas tem que tirar certos vícios e colocar bons hábitos. Porque muitos pais vão criando hábitos complicados para sustentar a vida inteira. Não é todo dia que você quer sacolejar a criança, subir e descer escada ninando o bebê”, frisa.

Existem várias técnicas para ensinar a criança a dormir. O neurologista Marcelo Masruha defende o chamado método comportamental de choro controlado, criado pelo pediatra norte-americano Richard Ferber. Nele, o bebê deve ser deixado sonolento no berço, mas ainda acordado. O cuidador deve sair e não atender aos primeiros minutos de choro, nem dar colo.

“O método é famoso no mundo todo e envolve deixar chorando mesmo, ou a criança vai sempre achar que pode conseguir o quer com o choro. Não vai traumatizá-la. É um condicionamento. Garanto que em no máximo dez dias ela estará dormindo sozinha e a noite toda”, explica o médico.

Essa técnica, diz ele, vale até para crianças mais velhas. “É um investimento importante. Já atendi casos de criança de 12 anos que precisam que a mãe durma do lado dela até que ela pegue no sono.”

Para quem acha isso meio cruel, há outras alternativas. “Não concordo com esse tipo de método. Para mim, não é abandonar a criança no berço e virar as costas que vai fazê-la entender que precisa dormir”, opina Silvana. O pediatra Gustavo Moreira também vê eficácia em métodos comportamentais. Mas prefere ponderar: “Existem diversas estratégias. Cada uma é aplicável para cada criança e sua família. É fundamental personalizar o tratamento e fazer o acompanhamento”.

O sono da pequena Maya, de 1 ano e meio, nunca foi tranquilo. Ela acordava várias vezes à noite, para desespero dos pais. Mas a realidade agora na casa é outra.  “Ela estava já dormindo na nossa cama e acordava várias vezes para mamar de madrugada. Eu vivia cansada, estressada e mal-humorada. Minha família toda estava prejudicada. Com a consultoria, em 15 dias ela já passou a dormir sozinha, no berço, a noite toda. Agora pude voltar a dormir também!”, contou a mãe, a servidora pública Joana Ventorim, 37 anos.

CHORAR NÃO MATA NINGUÉM

Marcelo Masruha - neuropediatra

Defendo um modelo famoso no mundo todo: é o método Ferber, que é um método comportamental de choro controlado. Nele, a criança precisa aprender a dormir sozinha. Isso pode ser aplicado a partir do 6º mês. Depois de todo um ritual, a mãe deve deixá-la no berço e se afastar. É comum ela chorar, mas a técnica envolve deixar chorando, ou ela passa a achar que com o choro terá sempre o que quer. Chorar não mata ninguém! E a criança não vai ficar traumatizada! Não existe evidência científica de que isso acontece.

A criança não tem medo de morte, de fantasma ou monstro, só tem medo de ser abandonada. Por isso, a técnica consiste em deixá-la chorar inicialmente por dois minutos, depois se apresentar e, sem pegá-la no colo, dizer com a voz mais doce e calma do mundo que ela precisa dormir. Aí, as próximas entradas no quarto da criança vão sendo feita com tempos sucessivamente maiores (5, 7 e de 10 em 10 min), até que a criança durma.

E no dia seguinte, fazer o mesmo, só que a primeira entrada deve ser depois de três minutos, e assim sucessivamente. Crianças maiores podem se jogar no chão, gritar... Mas a maioria vai para a cama dormir. Em dez dias no máximo, ela estará dormindo a noite inteira sozinha.

A criança não é um robô

Monalizza Erlacher Consultora de sono

Para mim, esses métodos que consistem em deixar a criança chorando sozinha são surreais. Atendo pais com crianças traumatizadas ao serem submetidas a métodos assim, em que os bebês não conseguem voltar para o quarto porque associaram berço com local de intenso sofrimento. Você teria a frieza de deixar seu esposo (a) ou sua mãe chorando no quarto ao lado ‘para ele (a) aprender algo?’ E porque faria isso com seu bebê? Isso gera instabilidades emocionais tanto nos pais quanto na criança.

Algumas até se adaptam, mas entendo que é porque desistem de chamar, dormindo por exaustão! A última coisa que quero é deixar o bebê inseguro na hora de dormir, pelo contrário, carinho e paciência são os perfeitos soníferos. Recomendo que um dos pais permaneça no quarto até que o bebê se acalme. Vai ter colo quantas vezes precisar!

Há muitos recursos para ensinar o processo do sono: primeiro vamos apagando as lâmpadas da casa, priorizando brincadeiras mais calmas, aplicando técnicas de relaxamento (massagem, banho de ofurô), leitura de histórias... E a criança vai entendendo o que vai acontecer, quando é hora de dormir.

 

AJUDE SEU BEBÊ A DORMIR BEM 

Soninho bom

Necessário

- Recém-nascidos a 3 meses: 16 a 16h de sono (sono noturno + sonecas)

- 4 a 12 meses: 12 a 16h (sono noturno + sonecas)

- 1 a 2 anos: 12 a 14h (sono noturno + sonecas)

- 3 a 5 anos: 11 a 13h (sono noturno + sonecas)

Quarto próprio

Por volta do terceiro mês de vida, o bebê já pode ir dormir no próprio quarto, no berço ou cama.

ALGUNS ERROS

Luz demais

Há quem pense que as sonecas precisam ser num ambiente claro, para diferenciar do sono da noite. Engano. A iluminação tem que ser confortável para o sono, numa penumbra agradável. Já no sono noturno, escureça ao máximo o quarto. E mantenha silêncio em casa.

Táticas furadas

Ninar no colo, cantando, andando, subindo escadas... E aquela santa voltinha de carro? Uma hora o bebê vai adormecer, claro. Mas além de ser cansativo fazer isso sempre, prejudica a criança, que, ao acordar em um local diferente, como o berço, vai se assustar e chorar.

Pulando sonecas

Manter o bebê acordado o máximo possível ao longo do dia para que ele durma a noite inteira só o deixará mais irritado, estressado, com grandes chances de dormir mal à noite.

DICAS

Crie uma rotina

Por volta de 19h, comece alguns rituais do sono. Faça brincadeiras mais calmas. Vá reduzindo pouco a pouco a iluminação dos ambientes da casa. Desligue a tv. Depois, pode dê um banho relaxante, leia uma história, faça uma oração ou cantarole uma música calma. Faça isso sempre da mesma forma, todos os dias. É a repetição que ajuda a dar certo.

Observe os sinais

Repare quando seu filho começar a ficar com sono. Ele vai ficando mais lento e enjoadinho, começa a esfregar os olhos, a bocejar, perde interesse nos brinquedos... É hora de parar a brincadeira e começar o ritual do sono.

Cedo na cama

O horário de ir dormir varia de acordo com a criança e a rotina da casa. Mas saiba que aquela que dorme muito tarde pode não ter um sono de qualidade. Ela vai pra cama super estimulada, exausta e não passa a quantidade de tempo necessária em sono leve, sono responsável pela consolidação da memória.

Deixe quieto

O bebê resmungou, tossiu, choramingou, bocejou? Deixe quieto e espere para ver se ele vai voltar a dormir sozinho.

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Fontes: especialistas entrevistados e site www.bebedorminhoco.com.br

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