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Dengue aumenta risco de bebê nascer com distúrbios neurológicos

Dengue aumenta risco de bebê nascer com distúrbios neurológicos

Estudo indica que adquirir a doença durante a gravidez tem consequências potenciais graves para a saúde da mãe e do bebê

Publicado em 12 de setembro de 2018 às 19:04

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Incidência de malformações no cérebro é quatro vezes maior em filhos de mulheres que tiveram dengue na gestação. (Reprodução | Pixabay)

A dengue durante a gravidez aumenta em 50% o risco do bebê nascer com distúrbios neurológicos. E a incidência de malformações no cérebro — não incluídas microcefalias — é quatro vezes maior em filhos de mulheres que tiveram dengue na gestação. Parentes próximos do vírus da zika, causador de microcefalia, os muito mais comuns vírus da dengue têm um impacto para a saúde pública ainda maior do que o imaginado, mostra uma recém-apresentada pesquisa realizada por cientistas da Universidade Federal da Bahia (UFBA), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da London School of Hygiene and Tropical Medicine. O estudo indica que a dengue na gravidez tem consequências potenciais graves para a saúde da mãe e do bebê.

"É um alerta para as mulheres e para os médicos. Mostramos que a ligação com distúrbios neurológicos congênitos, que são gravíssimos, existe. Mas não sabemos ainda as dimensões do problema. Por enquanto, alcançamos só a ponta do iceberg", afirma a principal autora do estudo, a epidemiologista Enny Paixão, pesquisadora do Instituto Nacional de Saúde Coletiva da UFBA, que faz doutorado na universidade britânica.

A pesquisa é fruto da tese de doutorado da epidemiologista, que já publicou outros estudos que associam a dengue ao aumento da taxa de natimortos e da mortalidade materna. A dengue, desde os anos 1980, causa epidemias e já afetou milhões de pessoas no Brasil. Já se sabia que ela poderia provocar, em casos raros, distúrbios neurológicos. Mas essa é a primeira vez que se associa a ação do vírus a malformações neurológicas congênitas.

Enny Paixão acredita que a associação com as malformações passou despercebida porque foi só depois de a microcefalia causada pela zika ser considerada emergência mundial de saúde pública, em 2015, que o soou o alarme sobre a relação entre flavivírus e distúrbios neurológicos congênitos. Esses vírus conseguem atravessar a barreira da placenta e atacar o cérebro do feto em formação. Uma série de estudos mostrou que o zika tem particular atração por células do sistema nervoso.

COM EL NIÑO, RISCO DE DOENÇAS AUMENTA

Pertencem a essa família os causadores da zika, da febre amarela e os quatro tipos de vírus da dengue. Todos transmitidos por mosquitos. Com a previsão de El Niño, e com ele mais chuva, calor e mosquitos no verão, aumenta o risco dessas doenças. Para fazer o estudo, Enny passou dois anos cruzando os dados de duas bases públicas no Brasil: a do Sistema Nacional de Agravos de Notificação de Dengue (Sinan Dengue) e a do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc), ambas do Datasus.

Foram analisados 16.103.312 nascidos vivos, de 2006 a 2012, portanto antes da chegada do vírus da zika ao Brasil, o que poderia dar margens a erros, já que as infecções pelos dois vírus, por terem sintomas semelhantes, são não raro confundidas.

"Foram dois anos de um trabalho insano. Essas bases não se falam. São dados brutos que precisam der depurados", explica a epidemiologista.

Foi preciso não só ligar os casos de notificação de dengue na gestação a anomalias neurológicas congênitas nos filhos dessas mulheres quanto excluir todas as dubiedades, como nomes implausíveis, múltiplas gestações ou municipalidades sem casos de dengue.

Na pesquisa publicada na revista “Emerging Infectious Diseases”, os cientistas relatam que chegaram a 13.634 casos de anomalias neurológicas congênitas, ou 0,08% dos casos. E a quatro casos de anomalias no cérebro. A dengue não foi relacionada à microcefalia, mas pode causar complicações extremamente sérias.

"São casos muito raros, mas precisam de atenção porque têm impacto devastador. São sempre gravíssimos", destaca Enny.

DENGUE PODE LEVAR GESTANTE À MORTE

Um estudo anterior dela já havia mostrado que a dengue pode levar uma gestante à morte. Três vezes mais no caso da dengue comum. No caso da forma hemorrágica, o risco de morrer na gestação é 450 vezes maior que o de uma mulher sem a doença, segundo o estudo, publicado também este ano na “Scientific Reports”, uma das mais importantes revistas cientificas do mundo.

A própria pesquisadora teve bebê há pouco tempo e reconhece que se sentiu mais despreocupada porque sua gestação transcorreu enquanto cursava o doutorado em Londres. Ela destaca que a dengue nunca foi encarada com devida seriedade no Brasil, embora seja uma doença grave, que deve ser temida e evitada.

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"É difícil dizer às mulheres que precisam se proteger dos mosquitos porque muitas vezes, para quem vive sem saneamento, isso está fora de alcance. Para as grávidas, realmente é uma preocupação permanente", diz a pesquisadora.

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