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Os 'enta': fazer 40 anos ainda assusta?

Os "enta": fazer 40 anos ainda assusta?

Há quem encare essa nova fase da vida sem grilos, numa boa

Publicado em 8 de setembro de 2018 às 20:44

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“A vida começa aos 40.” Muita gente com certeza acha que essa velha frase é uma balela, que entrar na casa dos “enta” é sinônimo de dar, ao mesmo tempo, um adeus de vez à juventude e um alô à velhice, que já deixa alguns claros sinais. É quando ler de perto fica mais difícil, quando já há rugas e fios brancos, uma barriguinha que não existia antes...

Parece meio assustador, não é? Bom, nem sempre. Para algumas pessoas que chegaram às quatro décadas de vida, melhor fase não há. Elas passam pelas dores e delícias da idade numa boa e com tudo em cima. Muitas nem aparentam estar na chamada meia idade.

mulher. (shuttertock / divulgação)

“Adorei fazer 40 anos! Foi um marco para mim. É o auge da maturidade, porém com a mesma vitalidade que tinha aos 30, só que com mais entendimento das coisas, com uma beleza mais madura. E vejo isso como uma qualidade! Não trocaria meus 40 pelos meus 25 anos!”, dispara a chef Cleuza Costa, que soprou as 40 velinhas em março.

Talvez Cleuza esteja assim, tirando onda com a nova idade, porque se preparou para ela: “Quando fiz 30, achei o máximo. Cheguei aos 40 com essa leveza. Os anos voaram! Estou preparada para chegar aos 50. Me acho superjovem e não tenho medo de envelhecer”, garante.

Tranquilidade

Mãe de um casal de filhos, uma de 17 anos e outro de 23, dona de um restaurante em Vila Velha, ela acha que tudo melhorou com o tempo. “Quando era mais jovem, vivia ansiosa, tinha pressa para tudo. Os 40 anos me trouxeram tranquilidade. Claro que o metabolismo não responde como há 20 anos, mas a cabeça é melhor. A gente fica mais certa do que quer, com outras prioridades e sem tempo para inseguranças pequenas.”

A vaidade se transformou também: “A barriga não é mais negativa. Meu cabelo não deixo ficar branco, vou lá e pinto. Mas nunca fiz plástica, botox. Prezo muito pelo bem-estar emocional, que comanda tudo. De que adianta estar linda por fora e perturbada por dentro?”.

Cleuza Costa diz que chega aos 40 anos realizada com tudo que conquistou. ( Bernardo Coutinho )

André Marinato, 40 anos, médico, não sentiu o impacto da idade nova. “Fisicamente, não senti o peso da idade. Sempre pratiquei atividade física. Não tenho limitações. Exceto o óculos, que passei a usar para vista cansada assim que fiz 40 anos. Tenho um pouquinho de rugas e cabelos brancos, mas não me preocupo”, diz ele, que tem duas crianças em casa.

Diferença mesmo foi em outro aspecto da vida. “Em termos profissionais, foi uma virada. Com 22 anos estava formado e topava tudo, trabalhava o quanto precisasse. Hoje sinto que estou satisfeito com o que construí e não quero correr riscos”, destaca André.

Nem todo mundo atravessa esse momento com essa calmaria, como observa a psicóloga Milena Careta. “Por mais antigo que isso pareça, ainda há muita cobrança da sociedade em cima de mulheres que chegaram aos 40 sem se casar e ter filhos, ou em cima de homens que não alcançaram a estabilidade financeira na carreira. Fica muito latente em algumas pessoas a necessidade de seguir os padrões sociais.”

Segundo Milena, essa cobrança gera sentimentos que já deveriam estar superados com a idade. “Vemos muitas pessoas nessa faixa etária ansiosas. Elas deveriam olhar mais para si e descobrir o que as motiva. Pode não ser o casamento, e sim o foco na carreira. Apesar de tanta revolução, há ainda quem se coloque nos padrões alheios.”

Crise

Envelhecer, para muitos, é motivo para entrar em crise existencial. “É uma geração que não aceita rugas! Tanto mulheres quanto homens”, afirma a dermatologista Thaiz Rigoni.

O médico André Marinato com o filho Ângelo. André diz que chega aos 40 anos realizado com suas conquistas ao longo da vida. ( Bernardo Coutinho )

Parece provocação, portanto, ouvir um geriatra sobre o assunto. Mas o que está em jogo é aceitar com naturalidade algo que é inevitável. “A partir dos 40 anos, algumas funções biológicas vão se alterando, bem lentamente. Nossos hormônios vão diminuindo, o metabolismo fica mais lento, com tendência de ganho de peso. É um preparatório para a velhice”, diz o geriatra Roni Chaim Mukamal.

Mas a velhice hoje não é mais a mesma. “Hoje uma pessoa com 40 anos está no auge da autonomia e ainda tem vigor para fazer coisas que são importantes. É hora de se programar para viver mais 30, 40 anos, guardar dinheiro para a aposentadoria, fazer exercícios, dormir bem e fugir de hábitos nocivos para o envelhecimento, como tabagismo, álcool em excesso...”, aponta Roni.

A forma de encarar os 40 anos pode dizer muito sobre como serão as décadas seguintes. Pensando assim, Cleuza chegou onde chegou com um belo sorriso no rosto: “O sentimento que mais me move é a gratidão, por ter a vida bem colorida. Tenho uma cabeça bacana, o coração em paz, e o corpo responde assim”.

“É hora de viver um egoísmo saudável”, diz youtuber

Muita gente passa pelos 40 anos sem nenhum tabu, que leva tão numa boa essa fase que até escancara a idade para todo mundo. Como a publicitária carioca Gabriela Costa, a Gaby, que é dona de um canal no Youtube cujo nome já diz muito sobre ela: é o “Deboanosenta”.

“Estava com 42 quando criei o canal para falar dessas mudanças após os 40 anos. E o retorno está sendo muito bacana. No Instagram, tenho quase 10 mil seguidores. O canal cresce mais devagar porque nossa geração não é tão conectada no Youtube”, brinca.

Gaby Costa, publicitária e autora do canal "De boa nos enta" no Youtube. ( (Divulgação) )

Gaby sabe que ter 44 anos, marido e dois filhos adolescentes acaba pesando um pouco. Mas ela prefere encarar tudo isso de forma leve.

“Já entrei no climatério e sinto as oscilações hormonais. Isso é natural! Todo mundo vai envelhecer. A infertilidade chega junto com outras mudanças... Mas chega também muita coisa boa! Me acho mais bonita, com corpo melhor hoje. Hoje sou uma mulher mais completa, mais segura. Estou mais amadurecida, mais tranquila, sem a pressa da juventude”, afirma.

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Sentimento que a publicitária procura dividir com homens e mulheres da mesma faixa etária que ela. “Tento passar que este é o momento crucial para parar e refletir. De olhar para si e viver uma espécie de egoísmo saudável. Você já sabe o que quer, não precisa mais agradar ninguém. Deve se munir de valores mais interiores, não pensar só na beleza externa. Não adianta ter a pele esticada se não há uma realização pessoal. Então, é hora de concretizar sonhos que ficaram no meio do caminho por causa do emprego, filhos, casamento...”, defende ela, com toda propriedade.

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