> >
Quem tem 'espírito' jovem vive mais tempo

Quem tem "espírito" jovem vive mais tempo

Veja exemplos de idosos que driblam os efeitos da idade

Publicado em 18 de novembro de 2018 às 00:52

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Dona Geralda vai à academia pelo menos três vezes por semana e inspira os mais jovens. (Bernardo Coutinho )

A gente pode até escondê-la, mas idade é uma coisa que não tem como mudar. Pelo menos a cronológica, essa que é contada desde o dia em que nascemos. Agora se fosse possível calcular uma outra idade de acordo com a forma como nos sentimos por dentro, aí sim a resposta poderia ser bem diferente de uma pessoa para outra.

A chamada idade subjetiva é aquela que faz com que alguém se veja mais velha ou mais jovem do que realmente é. Os cientistas têm se interessado cada vez mais por esse tema e afirmam que essa percepção pode interferir na nossa vida a ponto de nos fazer viver mais. Ou menos, claro.

Pesquisadores da Universidade de Montpellier, na França, por exemplo, avaliaram três estudos que envolveram, juntos, mais de 17 mil pessoas de meia-idade a idosos. A maioria deles se sentia em média oito anos mais jovem do que eram. Já aqueles que se sentiam mais velhos tinham um risco de morte até 25% maior que os demais.

“Isso depende muito do estilo de vida de cada um. Se a pessoa chega à velhice sem doença crônica, sem limitações, influencia bastante nessa percepção sobre si mesma”, observa a geriatra Waleska Binda Wruck.

CONCEITO

Os avanços da Medicina, segundo Waleska, permitiram muita gente se sentir como se estivesse “prolongando” a juventude. “De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o conceito de idoso é uma pessoa com mais de 60 anos de idade. Mas vemos muita gente que, aos nessa idade, está muito bem, com todas suas funções preservadas, sem dependência física. Há quem chegue aos 76 anos sem problemas, doenças. E a tendência é que em 2050, isso se eleve para 80 anos”.

Os cabelos brancos revelam alguém que chegou à maturidade. Mas quem vê dona Geralda Barbosa Almeida não diz que ela tem 69 anos. Ela mesma não se sente com essa idade: “E se alguém me desafiar, vou falar que tenho 18”, brinca.

Dona Geralda, moradora da Serra, três filhos, cinco netos, é malhadora. Tem o corpo magro, definido. E uma força de dar inveja. Meses atrás, um vídeo em que ela aparece fazendo exercícios numa barra viralizou nas redes sociais.

Ela entrou para a academia há cinco anos porque estava se sentindo “meio caída”. Gostou de estar entre os jovens e sabe que desperta a admiração deles. “Me sinto bem, privilegiada nesse aspecto. À medida que o tempo vai passando, me sinto mais plena. Estou melhor do que quando tinha 40 e poucos anos, entrando na menopausa. Agora, nem gripe me deixa de cama. Outro dia, falei com uma menina na academia: ‘Esquece idade! O que manda é a cabeça’”.

"DEMOREI A TER CORAGEM DE USAR O CARTÃO DE IDOSO"

Aos 60 anos, Marcelo da Matta faz faculdade de gastronomia. (Bernardo Coutinho )

Ele faz faculdade de Gastronomia e aulas de francês. Também gosta de pedalar por aí para “manter corpo e mente saudáveis”. Depois que se aposentou, Marcelo da Matta não parou mais. Mesmo com 60 anos, ele não se sente confortável para usar o cartão do idoso que lhe é de direito.

“Outro dia, até usei para estacionar no shopping porque não havia mais vagas. Mas uso o mínimo possível. É bobagem minha, eu sei, porque é um direito! Mas sinto que não preciso de fila preferencial, essas coisas”, comenta Marcelo, que é ex-bancário.

A rotina agitada é motivo de orgulho. “Quando penso que tenho 60 anos, me assusto um pouco. Se você parar não vai conseguir se sentir mais jovem. Estou tentando aprender francês. É mais difícil na minha idade, mas quero fugir do Alzheimer. Fiz até um curso de Oratória por causa da faculdade, para apresentar trabalhos na frente da turma. Isso abre os horizontes”, diz Marcelo.

CONVIVÊNCIA

Na faculdade, ele se dá bem com a turma mais jovem. “Não sou o único mais velho. Tem um colega de 56 anos e um senhor de 69. Mas é muito legal essa convivência da gente com a garotada, é uma troca muito importante. Nunca faltei a uma aula! Sinto que tenho a responsabilidade de ter que dar exemplo, né?”.

E os planos não param por aí: “Faço Gastronomia por hobby. Sempre gostei de cozinhar. Mas se surgir uma oportunidade de negócio, não terei medo de voltar a trabalhar”.

Marcelo diz que as filhas, de 23 e 18 anos, sentem até ciúmes do estilo “garotão” do pai. “Ah, mas sempre escuto minha mulher. A gente não pode ser ridículo de se achar jovem e fazer bobagem”.

ARTESÃ AOS 82 ANOS, ELA JÁ RECUSOU CADEIRA DE BALANÇO

Esther Nogueira desafia os estereótipos da velhice. (Ricardo Medeiros)

Quando completou 70 anos, ouviu do filho que iria ganhar uma cadeira de balanço de presente de aniversário. “Eu disse: ‘Negativo, se quiser me dar um presente, me dê uma viagem para o exterior.’ Aí, acabei ganhando um cruzeiro para Buenos Aires. Foi ótimo”, conta dona Esther Nogueira.

Naquela época, ela já desafiava os estereótipos da velhice. Hoje, aos 82 anos, dona Esther continua mostrando que a juventude está na cabeça.

“Não me sinto com 82 anos de jeito nenhum!”, diz ela, que é artesã, trabalha no setor de Assistência Social da Prefeitura de Cariacica e ainda é membro do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa.

Viúva há 26 anos e mãe de quatro filhos, ela acabou indo militar na causa. “Participo de palestras para idosos falando sobre como é viver aos 82 anos, que não dá para desanimar. Vemos muitos idosos deprimidos, sem sair de casa. Mostro que o importante é se sentir bem e se cuidar para não ter reumatismo, Alzheimer. Quero que se sintam valorizados, que saibam suas capacidades de fazer alguma coisa”, comenta dona Esther.

APRENDER ALGO NOVO REJUVENESCE, DIZ PSICÓLOGA

Não ligar a mínima para a idade cronológica. Tá aí uma coisa que nem todo mundo consegue. Pessoas assim têm mais em comum do que uma “alma” jovem, como destaca a psicóloga Cássia Rodrigues.

“A idade tem muito mais a ver com essa subjetividade do que com idade cronológica. Repare nessas pessoas que se sentem mais jovens do que são. Elas têm alegria de viver! Mas não é só estar de bem com a vida. Elas conseguem ser felizes apesar dos pesares, não se fazem de vítimas, não aceitam derrotas, não se conformam, se reinventam, são curiosas. Recebem o impacto da vida e avançam. Porque a juventude não está atrelada ao viço do rosto. É o cérebro que comanda tudo!”, observa Cássia.

O contrário também existe, segundo ela. “Já vi gente de 40 anos que parecia muito mais velho. Estava sempre cansado, chato, sem alegria, sem planos de vida”.

Porém, sentir-se mais jovem é diferente de rejeitar a idade que tem. “Não dá para reter a juventude à força. O risco é cair no ridículo. Claro que ninguém vai falar na cara dela, mas por trás... É quem fica preso às aparências, que quer fazer plástica para esticar a pele e ficar igual ao filtro do Instagram. Isso é sofrimento, patologia. São os que chamamos de adultescentes, que estão sempre disputando com os filhos”, diz a psicóloga.

CUIDADOS

A geriatra Waleska Binda concorda: “Negar a velhice pode ser um problema. Isso pode levar a pessoa a se comportar como alguém de outra. O ideal é aceitar que vai envelhecer e ir atrás de cuidados para ter um bom envelhecimento. Fazer atividade física regularmente, ter uma alimentação saudável, buscar orientação médica, fazer exames...”.

Este vídeo pode te interessar

Além de se cuidar, dizem as especialistas, para manter o ar jovial é preciso ter metas de vida. “É importante querer sempre fazer alguma coisa diferente. Aprender algo novo rejuvenesce”, diz Cássia.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais