> >
'Ainda há resquícios de preconceito em relação à Apae', diz presidente

"Ainda há resquícios de preconceito em relação à Apae", diz presidente

O presidente da Federação das Apaes do Estado, Vanderson Pedruzzi Gaburo, fala sobre como a instituição vem tentando mudar imagem negativa junto à sociedade

Publicado em 16 de dezembro de 2018 às 22:32

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Alunos participam de oficinas em uma das Apaes. (Sergio Cardoso/Divulgação)

Quem convive ou lida com pessoas com deficiência sabe bem o que é o preconceito. Mesmo sendo uma instituição que atua no apoio a esse público há mais de 60 anos no Brasil, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) ainda enfrenta alguns estigmas.

“O preconceito vem caindo com o passar dos anos. Mas ainda há resquícios”, diz o sociólogo Vanderson Pedruzzi Gaburo, que assumiu a presidência da Federação das Apaes do Espírito Santo (Feapaes) este ano, mas tem 17 anos de luta no movimento.

Para ele, isso é fruto do desconhecimento que a maioria têm sobre o trabalho da Apae. Por isso, a entidade tem investido também na comunicação. Em novembro, lançou 35 novos sites - 34 das instituições estaduais e um site da Feapaes. Confira o bate-papo.

Mesmo com tanta história, há desconhecimento em relação ao trabalho da Apae?

Existe ainda um desconhecimento sim do que faz a instituição. O preconceito vem caindo, mas ainda há um resquício, que, felizmente, vem caindo. A gente vem trabalhando para que isso diminua e procuramos cada vez mais abrir os muros da instituição para que a comunidade conheça nosso trabalho.

Por isso vocês estão investindo na comunicação, com a criação dos sites?

Sim. A ideia é passar essa mensagem de que a Apae não é instituição de caridade. Temos um trabalho sério, com qualidade. Precisamos abandonar ideia de que é uma instituição com pires na mão. Somos referência técnica em vários segmentos.

Por que esse preconceito?

Acho que isso envolve a própria sociedade, como ela vê as pessoas que são diferentes. Muitos têm dificuldade em lidar com o outro. Então, o preconceito pode vir dessa compreensão. Mas existem políticas afirmativas como a lei da inclusão, o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que querem ir minando isso. É uma luta cotidiana quebrar a barreira do preconceito. Mas para cada barreira que a gente quebra, tem uma nova.

Seria o preconceito em relação à própria deficiência.

Isso. Existe ainda uma mentalidade assim: “Olha, Apae não é para mim, para meu filho”. A aceitação da condição da pessoa com deficiência no início, sobretudo quando a pessoa recebe a notícia, é muito complicada às vezes. São pessoas que rejeitam o quadro em si. E colocar numa instituição como a Apae, no imaginário delas, é aceitar que o filho tem deficiência.

E como vocês atuam para ajudar essas famílias que acabaram de receber a notícia de que o filho tem deficiência?

Desde cedo a gente faz todo um trabalho. Inicialmente, é feito o acolhimento da família, para que ela tenha o entendimento de que a descoberta de uma deficiência não é fim da linha, mas começo de outra caminhada, que vai ser permeada com frustrações, mas também com avanços. Não podem ser fatalistas, achar que o mundo acabou.

Para algumas pessoas, a aceitação é mais difícil?

Sim. Após descoberta de um filho com deficiência, muitas famílias se desestruturam. Muitos maridos vão embora, deixando as esposas sozinhas com a criança. A sociedade viu muito isso há dois anos, com a epidemia de zika. Mas convivemos com essa realidade faz tempo. Um impacto sobretudo nas famílias de baixa renda.

Vocês atendem um público bem amplo, não é?

Nosso público alvo são pessoas com deficiência intelectual e múltipla, como paralisia, microcefalia, autismo... Um rol de situações. Acolhemos desde bebês, fazendo a estimulação precoce de recém-nascidos. As Apaes não são mais escolas especiais. É um atendimento de educação especializado, no contraturno à escolarização regular. Temos toda assistência de reabilitação e oficinas de qualificação profissional. Não tem critério de renda. Mas como ainda temos uma capacidade reduzida de atendimento, há fila de espera. Há pelo menos mil pessoas esperando para entrar nas 40 Apaes do Estado.

E os resultados são um orgulho, claro.

Este vídeo pode te interessar

Temos vários casos bem sucedidos. Veja que 20 anos atrás, pensar que uma pessoa com deficiência intelectual estaria na universidade seria utópico. Temos pessoas entrando no mercado de trabalho. Isso prova que, com condições adequadas, elas conseguem alcançar seus objetivos.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais