A Doença de Alzheimer pode ter relação com uma bactéria causadora de infecção bucal. A conexão, que parece pouco provável, é a conclusão de um estudo realizado por um grupo internacional de cientistas. A pesquisa abre caminho para novas investigações que associem agentes infecciosos à doença neurodegenerativa.
Os cientistas analisaram o papel de uma bactéria, a Porphyromonas gingivalis, no desenvolvimento do Alzheimer. Encontrada na boca, a bactéria se prolifera pela má higiene e pode causar periodontite, doença que afeta tecidos ao redor dos dentes.
A pesquisa, patrocinada por uma farmacêutica da Califórnia, nos Estados Unidos, identificou enzimas ligadas a essa bactéria em cérebros de pacientes mortos que tiveram Alzheimer. Também localizou material genético ligado à Porphyromonas gingivalis em pacientes vivos.
MOTIVOS
Mas, apenas a presença da bactéria no cérebro dos pacientes não seria suficiente para concluir que ela causa a demência. Isso porque, por vários motivos, como má alimentação ou dificuldade em manter a saúde bucal, pacientes com Alzheimer poderiam desenvolver a bactéria e não o contrário.
Então, os pesquisadores usaram ratos para demonstrar que a infecção pela Porphyromonas gingivalis levou a uma produção maior de beta amiloide, proteína que se acumula no cérebro de pacientes com Alzheimer. Os especialistas infectaram animais com a bactéria e, em seguida, aplicaram uma droga capaz de diminuir a carga bacteriana.
Com isso, notaram que o medicamento ajudou a bloquear a produção da beta amiloide e a proteger neurônios no hipocampo dos animais, região cerebral responsável pela memória. Os achados foram publicados na revista Science Advances.
A principal conclusão do estudo é que há uma quantidade significativamente maior de enzimas bacterianas tóxicas nos cérebros de pacientes com Alzheimer e a atividade tóxica das enzimas pode ser bloqueada com uma droga, disse ao Estado o autor principal do estudo, Stephen Dominy, cofundador da farmacêutica Cortexyme, que patrocinou a pesquisa.
Para Rogério Panizzutti, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a pesquisa se insere em um contexto de mais interesse dos cientistas em investigar conexões entre o Alzheimer e agentes infecciosos. O desafio do campo é observar se existe relação causal entre uma infecção bacteriana ou viral e o Alzheimer. Esse estudo avança ao usar modelos animais, nos quais consegue sugerir causalidade. Mas ainda não dá para ter certeza de que a causalidade vai acontecer em humanos.
ESTÍMULO
O neurologista Ivan Okamoto pondera que é o estudo é inicial. Sabemos como acontece a morte das células (no cérebro do paciente com Alzheimer), mas não sabemos qual o estímulo para isso, diz o especialista da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. É preciso ter cuidado para não criar falsas expectativas. Como se dar um antibiótico fosse curar a doença, alerta.
Para Daniel Ciampi, neurologista do Hospital Sírio-Libanês, é provável que vários fatores estejam envolvidos em quadros de demência e o estudo é mais uma pista para pensar a doença. Embora não seja possível concluir que infecções na boca causam o Alzheimer, manter a higiene, diz, está longe de ser algo em vão. Um dos pilares do tratamento é ter uma saúde oral adequada. É como se tirasse um estresse inflamatório da jogada. E o paciente pode ter uma melhora parcial. (Estadão)
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