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Alzheimer pode ter relação com bactéria

Alzheimer pode ter relação com bactéria

Estudo vê ligação da doença com tipo de infecção na boca

Publicado em 13 de fevereiro de 2019 às 23:44

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A Doença de Alzheimer pode ter relação com uma bactéria causadora de infecção bucal. A conexão, que parece pouco provável, é a conclusão de um estudo realizado por um grupo internacional de cientistas. A pesquisa abre caminho para novas investigações que associem agentes infecciosos à doença neurodegenerativa.

Os cientistas analisaram o papel de uma bactéria, a Porphyromonas gingivalis, no desenvolvimento do Alzheimer. Encontrada na boca, a bactéria se prolifera pela má higiene e pode causar periodontite, doença que afeta tecidos ao redor dos dentes. 

A pesquisa, patrocinada por uma farmacêutica da Califórnia, nos Estados Unidos, identificou enzimas ligadas a essa bactéria em cérebros de pacientes mortos que tiveram Alzheimer. Também localizou material genético ligado à Porphyromonas gingivalis em pacientes vivos.

MOTIVOS

Mas, apenas a presença da bactéria no cérebro dos pacientes não seria suficiente para concluir que ela causa a demência. Isso porque, por vários motivos, como má alimentação ou dificuldade em manter a saúde bucal, pacientes com Alzheimer poderiam desenvolver a bactéria – e não o contrário.

Então, os pesquisadores usaram ratos para demonstrar que a infecção pela Porphyromonas gingivalis levou a uma produção maior de beta amiloide, proteína que se acumula no cérebro de pacientes com Alzheimer. Os especialistas infectaram animais com a bactéria e, em seguida, aplicaram uma droga capaz de diminuir a carga bacteriana.

Com isso, notaram que o medicamento ajudou a bloquear a produção da beta amiloide e a proteger neurônios no hipocampo dos animais, região cerebral responsável pela memória. Os achados foram publicados na revista Science Advances.

“A principal conclusão do estudo é que há uma quantidade significativamente maior de enzimas bacterianas tóxicas nos cérebros de pacientes com Alzheimer e a atividade tóxica das enzimas pode ser bloqueada com uma droga”, disse ao Estado o autor principal do estudo, Stephen Dominy, cofundador da farmacêutica Cortexyme, que patrocinou a pesquisa.

Para Rogério Panizzutti, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a pesquisa se insere em um contexto de mais interesse dos cientistas em investigar conexões entre o Alzheimer e agentes infecciosos. “O desafio do campo é observar se existe relação causal entre uma infecção bacteriana ou viral e o Alzheimer. Esse estudo avança ao usar modelos animais, nos quais consegue sugerir causalidade. Mas ainda não dá para ter certeza de que a causalidade vai acontecer em humanos.”

ESTÍMULO

O neurologista Ivan Okamoto pondera que é o estudo é inicial. “Sabemos como acontece a morte das células (no cérebro do paciente com Alzheimer), mas não sabemos qual o estímulo para isso”, diz o especialista da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. “É preciso ter cuidado para não criar falsas expectativas. Como se dar um antibiótico fosse curar a doença”, alerta.

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Para Daniel Ciampi, neurologista do Hospital Sírio-Libanês, é provável que vários fatores estejam envolvidos em quadros de demência e o estudo é “mais uma pista para pensar a doença”. Embora não seja possível concluir que infecções na boca causam o Alzheimer, manter a higiene, diz, está longe de ser algo em vão. “Um dos pilares do tratamento é ter uma saúde oral adequada. É como se tirasse um estresse inflamatório da jogada. E o paciente pode ter uma melhora parcial.” (Estadão)

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