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As maiores mentiras que os médicos ouvem no consultório

As maiores mentiras que os médicos ouvem no consultório

Pesquisa aponta que até 80% dos pacientes escondem a verdade

Publicado em 10 de fevereiro de 2019 às 00:25

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Paciente diante do médico: conversa franca pode ajudar a chegar a um diagnóstico mais preciso. (shutterstock)

Pense na última vez em que você foi ao médico. Você contou tudo na consulta? Tudinho mesmo? Parece uma pergunta sem sentido, mas não é. Saiba que a maioria das pessoas mente diante do médico ou pelo menos esconde alguma coisa.

Uma pesquisa internacional, realizada por cientistas de diversas universidades, entre elas as de Utah, Michigan e Iowa, nos Estados Unidos, apontou que entre 60% e 80% das pessoas não dizem toda a verdade no consultório. Uma incoerência, claro, afinal, procuramos um especialista justamente porque estamos querendo que ele nos ajude a cuidar da nossa saúde. 

O jaleco assusta? É medo de revelar que não está seguindo o tratamento à risca? Ouvimos médicos de várias áreas e eles confirmam essa estatística. Com a ajuda deles, listamos as principais mentiras que os pacientes contam nas consultas.

Uns falam que não fumam. Bebida alcoólica? Só socialmente, claro. Outros garantem que se alimentam direitinho, que respeitaram o jejum antes da cirurgia ou tomaram o medicamento corretamente.

REALIDADE

Clínico-geral e geriatra, Heitor Spagnol confirma que os pacientes não são tão sinceros como deveriam. “Essa pesquisa é uma realidade que a gente vê no consultório. Como é o caso do paciente que não quer falar que não tomou a medicação no tempo certo. Ele diz que tomou o antibiótico por sete dias, quando, na verdade, tomou só três dias e voltou para a consulta com a doença já complicada”, cita o médico.

Para Spagnol, isso acontece porque algumas pessoas têm medo de ser repreendidas pelo médico. “Ou então, acham que determinada informação não é relevante. Muitos idosos que atendo não contam que tomam remédio para dormir. Acham normal, não têm noção do que é importante e o que não é. Só acabam revelando isso quando pergunto como é o sono deles. Eu digo: por que não disse antes que tomava esse remédio? Eu preciso saber porque um medicamento pode interagir com outros, pode aumentar risco de queda...”, observa.

Há pacientes, segundo ele, que ocultam informações com medo de descobrir que o que têm é algo mais grave. “Já tive casos de pessoas que não contaram sobre sangramentos urinários, por exemplo, com medo de eu pedir um exame mais detalhado e achar algo potencialmente mais grave. Então, omitem isso achando que, de repente, seja algo que possa se resolver sozinho.”

Outro colega geriatra, Roni Mukamal, percebe uma diferença no comportamento de homens e mulheres. “O homem tende a esconder mais os sintomas. É cultural. Ele acha que ficar doente é sinal de fraqueza e, quando vai à consulta, tende a subestimar seus problemas de saúde ou escondê-los para não parecer vulnerável. Costuma dizer ‘eu estou bem’ e ‘nada me atrapalha’”.

Também é diferente, diz o médico, quando o paciente busca ajuda por conta própria ou quando é levado por um parente. “Quando é um filho ou uma esposa que o leva, ele já fica contrariado de ir e pode não cooperar, contar as coisas.”

VERGONHA

Assuntos mais delicados, como com relação a consumo de bebida alcoólica e outros vícios, também são mais difíceis de se tratar numa consulta. “Muitos pacientes acabam mentindo sobre isso por vergonha. Mas há muitas doenças ligadas a maus hábitos de vida”, afirma Mukamal.

As mulheres, no entanto, nem sempre são exemplo de honestidade quando vão se consultar. De acordo com a ginecologista Erika Marba, muitas mentem sobre questões básicas, como uso de preservativo ou de pílula anticoncepcional.

“É comum vir pacientes com alguma doença sexualmente transmissível, e quando perguntamos se usam preservativo nas relações elas garantem que sim. Já aconteceu de pacientes grávidas afirmarem que tomaram o anticoncepcional corretamente, mas, na verdade, elas provavelmente pularam dois ou três dias da pílula. E elas culpam sempre o método. Nunca a falha é delas”, comenta a médica.

Elas vão contando mentirinhas sem avaliar as consequências disso para a própria saúde, como afirma o cirurgião plástico Adriano Batistuta. “Muitas escondem o peso por vaidade. Ou escondem que tomaram medicamento para emagrecer. E isso é um perigo. Numa cirurgia, podem sofrer uma arritmia ou parada cardíaca”, cita.

Há aquelas que acham que certas informações são mero detalhe, quando não são, segundo Batistuta. “Todo mundo sabe que precisa fazer jejum antes de operar. A gente informa isso. E o anestesista pergunta também. Tem gente que esconde que bebeu água ou comeu alguma coisa, o que é muito arriscado. Durante o procedimento, quando o paciente relaxa com a anestesia, o alimento pode voltar. Como ele está sem consciência, não tem reflexo de tossir, cuspir. E pode aspirar aquilo, que vai para o pulmão. Isso pode causar o que chamamos de pneumonia aspirativa, que causa 50% das mortes nas cirurgias”, alerta.

O resultado dessa falta de comunicação seria desastroso na maior parte dos casos se os médicos não fossem “treinados” em tirar o que precisam da boca do paciente.

TÁTICAS

“Médico é uma figura que às vezes assusta. E é um estranho no início. Se não der abertura, não ser atencioso, aí é que o paciente se sente inibido. Por isso, a gente usa algumas táticas para deixá-lo mais à vontade, mostrando que não vamos jogar a culpa nele, que podem contar tudo”, diz Spagnol.

Paciente que entra mudo e sai calado não tem grande chance de sucesso no tratamento. “O que o paciente fala é superior ao que o exame mostra. O exame pode apontar, por exemplo, que a pessoa tem colesterol alto. Mas se ela não contar como se alimenta, se toma anabolizante, como vamos fechar o diagnóstico?”, destaca o geriatra.

“Às vezes, não abordamos determinado assunto na primeira consulta. Vamos ganhando a confiança do paciente, mostrando que a informação vai ser importante para ajudarmos a cuidar dele e que ela é sigilosa. Se o médico não criar um bom vínculo, não deixá-lo confortável, o número de mentiras vai só aumentar”, acrescenta Mukamal.

Relação entre médico e paciente. (Divulgação)

As 10 maiores mentiras dos pacientes

- “Bebida alcoólica? Só socialmente”

- “Não fumo mais”

- “Estou tomando os medicamentos direitinho”

- “Eu me alimento muito bem”

- “Consegui perder bastante peso”

- “Sempre uso preservativo”

- “Tomei o anticoncepcional de forma correta”

- “Fiquei em jejum antes da cirurgia”

- “Não tomo remédio para dormir”

- “Não estou sentindo nada estranho”

Tirando proveito das consultas

Prepare-se

Antes de ir para a consulta, anote o que está sentindo, todos os sintomas, horário em que acontecem e em que situações. Anote perguntas que quer fazer ao médico. Não saia do consultório com dúvidas.

Tenha autonomia

Se tiver como ir sozinho ao médico, melhor. Você ficará mais à vontade para perguntar e responder sobre tudo. Muita gente se sente constrangido de contar sobre os problemas tendo um filho ou o(a) companheiro(a) ao lado.

Confie

Apesar de, muitas vezes, o médico ser um estranho para você, confie na experiência dele e conte tudo, mesmo que ele queira saber de fatos relacionados à sua rotina, intimidade ou ao passado. O médico não pergunta por acaso. Ele está colhendo dados para fechar um diagnóstico ou entender a razão de um mal-estar.

Seja sincero

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Não tomou o remédio da forma como deveria? Deixou de seguir uma orientação importante? Comeu quando deveria estar em jejum? Abra o jogo na consulta. Qualquer informação, por mais simples e boba que ela pareça, pode fazer diferença para o especialista te ajudar.

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