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Pais no WhatsApp: como tirar proveito do grupo

Pais no WhatsApp: como tirar proveito do grupo

Se usada sem bom senso, ferramenta pode gerar conflitos

Publicado em 17 de fevereiro de 2019 às 00:07

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A partir da esquerda, Elaine Casotti, com a filha Fernanda; Irla Nogueira, com João Felipe; e Bianca Barbirato, com Ana Clara: boa relação no mundo virtual. (Fernando Madeira)

Ao matricular seu filho na escola ou na creche, você passa a fazer parte de mais um grupo no WhatsApp: o dos pais. Por meio dele, é possível conhecer quem são os pais dos amiguinhos de turma, combinar encontros com eles, organizar caronas, convidar para festinhas de aniversário ou simplesmente achar o dono do brinquedinho que foi parar na mochila errada.

Mas o aplicativo que tanto ajuda na comunicação e na aproximação das famílias também pode ser motivo de dor de cabeça. Basta um dos membros começar a falar de política, reclamar de um professor ou querer tirar satisfação porque o filho apareceu com uma mordida no braço.

Uma pesquisa de 2017 do Instituto iStart apontou que 77,7% dos incidentes escolares têm relação com os grupos de WhatsApp, seja os de alunos, seja os de pais.

Problemas

“Não é algo incomum e acontece em escolas de pequeno, médio e grande porte. Todas já tiveram problemas com grupos de WhatsApp”, comenta Elaine de Souza Ferreira, supervisora pedagógica do colégio Salesiano, em Vitória.

No ano passado, a escola enviou aos pais dos alunos uma circular com uma reflexão sobre a utilização do aplicativo de conversas. O artigo é assinado pela direção pedagógica de um grande colégio em São Paulo e levanta a discussão sobre a necessidade de responsabilidade e bom senso no uso desse canal de comunicação.

“Quando começamos a perceber formação dos grupos, também iniciamos um trabalho educativo com as famílias, mostrando que o aplicativo é uma oportunidade para elas ampliarem as relações, mas que esse processo tem que ser muito consciente, filtrado. Porque antigamente as conversas entre pais e mães aconteciam no portão da escola. Hoje em dia é na internet”, diz Elaine.

A educadora faz questão de dizer que vê com bons olhos a ferramenta: “Não somos contra. Por meio do aplicativo, os pais têm uma relação mais rápida, compartilham as informações. E isso não pode ser retirado deles. Mas sempre pedimos bom senso, para que possamos cuidar do bem-estar dos alunos”.

Ignez Martins, diretora pedagógica da escola da ilha Novo Mundo, também na Capital, é outra que reconhece a utilidade dos grupos de WhatsApp de pais. “É uma facilidade. Se os pais têm dúvidas sobre o conteúdo de determinada prova, sobre o horário de alguma festa, não precisam ligar para a escola para se orientar”.

Um dos maiores problemas com esses grupos, segundo Elaine, é quando os pais se esquecem que a escola deve ser a primeira a ser comunicada sobre qualquer situação da rotina escolar. “Com o WhatsApp, a gente perde um pouco a contribuição dos pais, o feedback deles, positivo ou não. Vai um falando para o outro, distorcendo tudo. E aí, quando o problema chega à escola, já ocorreram muitos ruídos, e a gente não consegue dar uma resposta mais assertiva muitas vezes”, observa a supervisora.

Distorção

Assim como em qualquer grupo de WhatsApp, os de pais também são alvo de boatos, que quase nunca são inofensivos. “Muitas vezes, os pais se acomodam e preferem buscar informações no grupo em vez de procurar a escola. Só que ouvem relatos distorcidos, parciais, prejulgamentos que levam a escola à obrigação de esclarecer que o que foi dito não é realidade. Mas nem sempre a escola toma conhecimento do que houve, nem tudo chega até nós”, afirma Ignez.

Por essas e outras, as escolas reforçam a importância de os pais saberem onde buscar a informação correta. “A gente sempre fala para as famílias buscarem a fonte oficial. Aqui, enviamos informações na agenda do aluno, por meio de circulares, e para os e-mails dos pais”, conta a diretora.

Ela ressalta que muitos pais sabem bem qual a função do aplicativo. “Já recebemos pais dizendo que iriam sair do grupo porque não concordavam com o excesso de críticas de outros pais. Isso é uma grande contribuição com a escola. Eles sabem que, se há uma crítica, vamos acolhê-la e refletir sobre ela”.

“É comum surgir alguma insatisfação com professor, com uma palavra que um professor usou na sala de aula, uma atividade com a qual o pai não concorda... Mas pedimos que levem isso à direção. Porque se jogam no WhatsApp, pessoas que não sabem do contexto vão dar opinião e, em vez de ajudar, complicam tudo ainda mais”, aponta Elaine.

“Há mães que nem conheço pessoalmente”

A engenheira mecânica Gabriela Escobar Ludolf, 42 anos, trabalha o dia inteiro e mal dá conta de acompanhar os grupos de WhatsApp dos quais participa. Entre eles, estão os grupos de pais das turmas dos meninos. E são dois: um da sala do Rafael, de 7 anos, e outro da sala do Victor, de 10.

Gabriela Escobar participa de dois grupos de pais diferentes: um da turma do Rafael e outro da do Victor. (Ricardo Medeiros)

“Nem sempre tenho tempo para ler as mensagens. Teve época em que era muita mensagem, muitos pais reclamando de dever de casa. Au achava o grupo meio cansativo. Mas nos outros anos, o grupo acalmou”, conta ela.

Gabriela gosta da praticidade do grupo. “Crianças assim, nas séries iniciais, ainda estão desenvolvendo a questão da responsabilidade. Então, se ficam doentes, pedimos no grupo para algum pai avisar a professora, tirar a foto de um dever de casa... Essa comunicação rápida é importante”.

Felizmente, os grupos nunca causaram nenhum problema. “Nunca aconteceu nada grave. Acho legal. A gente combina cinema, manda convite de aniversário. Converso com algumas mães ali que nem conheço pessoalmente, só no grupo”, admite a engenheira.

A publicitária Bianca Oliveira Guimarães Barbirato, 35 anos, e a contadora Elaine Casotti, 41 anos, colocaram os filhos na mesma escola. Por isso, têm muito assunto em comum. Mas poucas vezes elas se encontram pessoalmente para um bate-papo. É ali, no grupo do WhatsApp, que elas colocam a conversa em dia.

Socialização

Para Elaine, mãe da Fernanda, de 11 anos, o aplicativo teve um papel importante na socialização da menina, recém-chegada à escola. “Minha filha entrou no colégio no ano passado. Quando entrei no grupo, senti que o acolhimento foi 100%. Porque a maioria dos pais dessa turma tem os filhos estudando juntos há muito tempo”.

Já veterana no grupo, Bianca só tem elogios para a ferramenta: “É um grupo muito tranquilo. São mais ou menos 26 pais, e os novatos deste ano estão sendo adicionados. Nem todo mundo interage. Claro que a gente se identifica mais com uma ou outra mãe, marca de sair com as crianças... Os homens falam menos. Meu marido nem é membro”, destaca a mãe da Ana Clara, de 12 anos.

As mensagens ali, segundo Bianca, se resumem praticamente ao cotidiano escolar. “Por exemplo, se houve uma prova difícil, na qual a maioria dos alunos tirou nota baixa, a gente comenta, pergunta a opinião dos outros pais”.

No ano passado, ano eleitoral, algumas mensagens de cunho político se infiltraram nas conversas, mas logo levaram um “chega pra lá”. “Alguns pais foram postando opiniões contraditórias sobre política. Mas foi tudo com respeito. As divergências foram resolvidas numa boa”, relata a contadora.

O fato de o grupo ter regras claras facilita. “Não chegou a causar problema. Foram umas publicações, mas logo uns pais pediram que parassem e acabou por isso mesmo”, acrescenta Elaine.

Educadores alertam para grupos só de estudantes

Para as escolas, os grupos formados só por alunos são um motivo maior de preocupação. A supervisora pedagógica Elaine Ferreira diz que já foi preciso intervir, junto aos pais, para alertar sobre o funcionamento dos grupos de WhatsApp de crianças com 8 e 9 anos de idade. “Elas têm uma facilidade muito grande com a tecnologia, mas não têm maturidade para lidar com certas ferramentas. Então, o grupo pode ser nocivo”.

Questões simples podem virar uma grande confusão. “Já aconteceu de um aluno fazer uma festa de aniversário e deixar de convidar um ou outro amigo da escola. Depois, a foto da festa vai parar no grupo. A família nem dá conta dos desdobramentos disso”, cita a supervisora.

A escola da diretora pedagógica Ignez Martins também teve que chamar os pais para uma conversa. “Algumas crianças estavam ficando até tarde da noite conversando no WhatsApp. E isso começou a ter malefícios no dia seguinte porque elas estavam perdendo parte do sono”.

O alerta também foi para os riscos a que as crianças estão expostas no mundo virtual. “É como uma porta aberta para a rua. Dá acesso ao que eles quiserem e também acesso a intrusos”, orienta Ignez.

“Os pais precisam acompanhar, garantir que o filho use com responsabilidade e saber que ele está suscetível a riscos que a gente nem consegue imaginar. É algo que pode fugir do controle”, acrescenta Elaine.

Como utilizar bem o grupo

Para avisos importantes

O grupo de pais no WhatsApp pode ser útil para trocar informações importantes sobre a rotina escolar: seu filho pegou uma conjuntivite e você gostaria de avisar aos outros pais? O brinquedo de algum coleguinha apareceu na mochila de seu filho? O WhatsApp ajuda a identificar o dono

Para socializar

É uma oportunidade de estreitar relações com as famílias dos coleguinhas do seu filho, que, muitas vezes, vão acompanhá-lo por muitos anos. Use o grupo para marcar encontros com outros pais e filhos, para pegar um cineminha ou ver uma peça de teatro. Pode enviar sugestões de lazer, como bailinho de carnaval. E para convidar todo mundo para festinhas de aniversário

Para trocar dicas

Onde comprar material escolar mais barato? O grupo pode ajudar. Quem pode dar uma carona para a escola? Acione o grupo

Evite fake news e boatos

Evite compartilhar notícias de fonte duvidosa, pois um fato pode tomar uma dimensão enorme e prejudicar alguém. Busque os canais oficiais da escola para se informar sobre atividades, posicionamento pedagógico, avisos sobre doenças circulando na instituição e etc

Evite queixas

Evite falar mal da escola ou queixar-se de algum professor ou aluno no grupo. Isso pode gerar outras interpretações, criar ruídos. Desentendimentos entre crianças são normais. Avalie se há necessidade de criar confusão no grupo. Se há um problema, vá até a escola para resolver. Evite expor seu filho ou o filho dos outros

Crie regras

O grupo pode ter regras, como proibir correntes de oração e de postagens de cunho político e outros.

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