> >
Antidepressivos podem levar a ganho de peso

Antidepressivos podem levar a ganho de peso

Efeito é mais comum em mulheres, segundo pesquisa da Ufes

Publicado em 16 de março de 2019 às 21:51

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Homem tomando remédios, antidepressivos. (Shutterstock)

Maria (nome fictício), 62 anos, conviveu com um casamento desgastante. Mas foi depois do divórcio que ela se viu em meio a uma depressão e precisou recorrer a medicamentos. O tratamento com antidepressivos a ajudou a superar o problema, mas trouxe outro: “Engordei pelo menos sete quilos em cinco anos. Só que quando parei de tomar o remédio fui perdendo peso rapidamente”, conta.

A relação da depressão e antidepressivos com o ganho de peso foi tema de uma pesquisa feita na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), como tese de doutorado da pesquisadora Daniela Alves Silva, sob orientação da psiquiatra e professora Maria Carmen Viana, do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva.

“O objetivo era demonstrar se a depressão traria ganho de peso ao longo dos anos. E um dos principais marcadores da doença em nosso estudo foi o uso de antidepressivos”, explica Daniela, que é professora de Nutrição da Ufes.

Para isso, foram analisados dados de aproximadamente 14 mil participantes do Projeto Elsa, considerado o maior estudo epidemiológico da América Latina, iniciado há mais de 10 anos com o objetivo de esclarecer determinantes de doenças crônicas na população brasileira. O projeto é desenvolvido pela Ufes e mais cinco instituições brasileiras. Nele, os voluntários, compostos por servidores públicos, serão acompanhados ao longo de 25 anos.

“Em meu trabalho, associei a presença de depressão com a mudança de peso dos participantes, homens e mulheres, entre os anos de 2008 e 2012. E observei que os participantes que relataram uso de antidepressivos, com ou sem diagnóstico de depressão atual, apresentaram maior ganho de peso e de gordura abdominal nesse período”.

Na pesquisa, os participantes foram divididos em quatro grupos: o grupo 0, que era o grupo de referência, constituído de pessoas que não apresentavam diagnóstico de depressão atual e não faziam uso de antidepressivos; o grupo 1, com pessoas que manifestaram episódio depressivo atual, mas não relataram uso de antidepressivos; o grupo 2, no qual os integrantes usavam antidepressivo, mas não apresentaram sintomas da doença na semana da investigação; e o grupo 3, com pessoas que apresentaram sintomas depressivos nos últimos sete dias da data da entrevista e estavam em uso de medicação.

“O que observamos foi que, em relação ao grupo 0, o grupo 2 foi o que demonstrou resultado mais expressivo no ganho de peso. Os participantes do grupo 3 também registraram aumento de peso, porém mais fraco”, detalha Daniela.

O trabalho apontou que o aumento de adiposidade se concentrou mais na região da cintura, principalmente nas mulheres participantes. “Nelas, o percentual de aumento na gordura abdominal ficou em torno de 4,3%. No caso dos homens, foi de em torno 3%”.

INIBIDORES

Uma classe de antidepressivos se destacou em relação ao aumento de peso e gordura abdominal, entre mulheres e homens. “Verificamos que os chamados inibidores seletivos de recaptação de serotonina se associaram mais ao ganho de peso, em torno de 3,3% para mulheres e de 3% para homens. Por outro lado, o uso de medicamentos classificados como outros, por exemplo, a mirtazapina, se associou apenas ao ganho de peso (cerca de 4,5%) entre mulheres. Mas todas as classes do medicamento têm mudança de peso como efeito adverso e algumas levam a um ganho maior do que outras”.

De acordo com a pesquisadora, o foco não foi a diferença absoluta de peso dos voluntários, mas sim o percentual de ganho em relação ao peso individual da pessoa no início do estudo, que considerou que a depressão tem influência em comportamentos ligados ao apetite e ao sono. “Mas ficou claro para a gente que o uso da medicação foi a principal causa relacionada à mudança de peso”.

Uma das hipóteses é que o ganho de peso é um dos efeitos colaterais já descritos pelos fabricantes dos medicamentos mais comuns no tratamento da depressão. “Outra possibilidade é que o fato de estar em tratamento leva a pessoa a se sentir melhor, ter menos sintomas de depressão. Com isso, ela se alimenta melhor e acaba ganhando peso”.

Para corroborar essa última tese, Daniela conta que se baseou em outro estudo anterior dela, que distinguiu a depressão em subtipos diferentes. “Vimos, então, que o principal subtipo associado ao ganho de peso é a depressão atípica, que é quando a pessoa apresenta mudança exagerada no humor, dorme mais, come mais e sente o corpo pesado, em relação à depressão melancólica, na qual o indivíduo costuma perder o interesse pelas atividades de costume, sentir menos fome, apresentar humor deprimido, isolar-se, perdendo peso”.

“Também é importante destacar que as pessoas têm feito uso indiscriminado de antidepressivos, o que é arriscado. E nem sempre essas medicações são usadas para tratamento de depressão, podendo ser utilizadas em casos de dor crônica, transtornos de ansiedade e até Tensão Pré-Menstrual”.

Este vídeo pode te interessar

No estudo, a pesquisadora concluiu ainda que o ganho de peso entre pessoas com depressão é um fator importante para não adesão ao tratamento ou até de desistência. “Dessa forma, é fundamental avaliar o peso e a gordura abdominal em indivíduos com depressão, considerando os sintomas da doença e os efeitos adversos dos antidepressivos. O resultado dessa avaliação poderá indicar a necessidade de alternativas para o tratamento”, aponta.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais