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Como superar o medo de dirigir

Como superar o medo de dirigir

O medo do volante afeta a vida de muitas pessoas; especialistas indicam técnicas para superar traumas e vencer a ansiedade

Publicado em 28 de março de 2019 às 21:17

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Pânico, insegurança e tremedeira... uma sequência de sensações que impede Davi de Souza Theodoro de dirigir. O professor de natação, de 21 anos, relata que possui a carteira de motorista, mas ficou traumatizado após a tia morrer em um acidente de trânsito em 2016. Desde então, não consegue mais pegar no volante por receio de que isso também aconteça com ele.

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É um trauma de família. Não confio em mim quando estou dirigindo porque sempre penso na minha tia que morreu em um acidente de moto. Esse fato me afetou tanto que perdi o gosto, não penso em voltar a dirigir nem fazer tratamento

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Do mesmo modo, a massoterapeuta Ivone Sarmento Muniz, de 47 anos, parou de dirigir. Ela conta que tem bloqueios emocionais devido ao medo de ser criticada. Há 11 anos, quando tirou a carteira de habilitação, treinava ao lado do marido e ele a pressionava, relata.

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Eu tenho bloqueio e vergonha de dirigir. Quando pego no volante, parece que todos me olham e vão criticar. Logo quando tirei a carteira de motorista, meu marido desejava que eu dirigisse como ele, não confiava em mim e isso me traumatizou

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A massoterapeuta disse ainda que acabou acomodada com a situação, mas alimenta a esperança de um dia conseguir superar o trauma.

Apesar de parecerem casos isolados, o medo de dirigir afeta a vida de muitas pessoas. A psicóloga Tainá Tatagiba, de 28 anos, explica que é comum atender pacientes com esse tipo de problema.

"Geralmente, os motoristas reprovam em algumas fases antes conseguir tirar a carteira de habilitação. Depois de aprovados, a probabilidade é que não voltem a dirigir devido à ansiedade e receio de acidentes. Há também aqueles que sofreram traumas e entram em desespero só de entrar no carro", expõe.

Davi Theodoro de Souza, Juliana Resende e Sarmento Muniz. (Gazeta Online)

COMO DRIBLAR O MEDO DE DIRIGIR

Para superar as fraquezas, Tainá indica técnicas de enfrentamento e controle emocional.

 1.  A primeira instrução é dirigir tendo em mente de que isso é importante para você e não há a necessidade de provar nada para ninguém.

 2.  A outra é estabelecer metas para melhor alcançar os resultados. O motorista habilitado que tem medo de dirigir deve escolher um lugar calmo e sem trânsito para treinar e estar familiarizado com o veículo. "Nessa fase, é comum sentir medo novamente, mas ele diminui conforme você o enfrenta. Caso seja frequente e intenso, é necessário procurar a ajuda de um psicólogo", completa.

 3.  A especialista aponta ainda que trabalhar a respiração é um excelente método de controle da ansiedade.

 4.  Por fim, também é interessante o suporte de um amigo ou familiar.

Esses métodos fizeram a diferença na vida da Engenheira Civil Juliana Resende, de 41 anos. Ela informa que tinha crises de pânico ao dirigir e sempre inventava desculpas para não reconhecer e enfrentar o transtorno. Entretanto, essa situação mudou depois que o marido deu o incentivo de fazer terapia.

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Ninguém quer assumir que tem problemas e precisa de psicólogo. Eu tinha medo de virar chacota. Mas meu esposo disse que eu precisava driblar isso. Procurei tratamento e depois de seis meses estava curada. Foi libertador. Hoje vou para todos os lugares

Juliana Resende
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ANÁLISE COMPORTAMENTAL PARA SUPERAR O MEDO

Analisar o comportamento das pessoas é outra técnica significativa no combate ao medo do volante. Por meio dela, é possível avaliar a dificuldade emocional, origens dos traumas, níveis de ansiedade e capacidade intelectual.

A psicóloga analista do comportamento, Aline Hessel, relata que é necessário, primeiramente, realizar uma entrevista específica com o indivíduo e também uma avaliação com ela dentro do veículo. A partir desses métodos, será possível traçar as estratégias de superação. Além disso, é importante enfrentar a situação e ela deve ser feita de forma gradativa, do fácil para o difícil, para alcançar melhores resultados.

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O tratamento é semelhante às pessoas que têm outros traumas, medos ou apenas insegurança. O que vai mudar é o tempo de acompanhamento. Quando é realizado o acompanhamento adequado, o sucesso na superação é quase certo

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A especialista afirma ainda que o diagnóstico costuma ser complexo, tendo em vista que os profissionais de saúde, na maioria das vezes, desconhecem tal quadro. "É muito importante a pessoa ter consciência que quanto mais tempo afastada do carro, maior será a necessidade de um profissional para ajudar. O diagnóstico costuma ser muito difícil porque a maioria dos profissionais da saúde desconhecem tal quadro e as pessoas opinam como frescura ou mesmo incapacidade intelectual da pessoa que não consegue dirigir. Porém esse é um quadro muito comum e que pode gerar tamanha frustração e a pessoa pode acabar desenvolvendo outros problemas, tais como a depressão ou pânico", completa.

TERAPIA COM REALIDADE VIRTUAL PARA VOLTAR A DIRIGIR

Realidade virtual, com sensor de eletroencefalograma acoplado, é usada para ajudar a identificar a doença com mais precisão. (Divulgação)

A terapia com realidade virtual também tem sido eficaz no tratamento contra a fobia de direção e é um dos métodos indicados pelo terapeuta comportamental e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Eliseu Batista Borloti.

De acordo com Eliseu, por meio da realidade virtual é possível que o indivíduo reaja exatamente como faria em situações naturais. 

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A máquina entende as emoções do indivíduo, sabe como lidar em situações de crises emocionais, simula a direção e cria obstáculos de acordo com as necessidades pessoais. Além disso, é seguro e ótimo para treinar

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Esse tipo de tratamento é adequado para pessoas inseguras e também para as que passaram por algum tipo de trauma. Entretanto, não deve ser o único método para tratar a fobia. É preciso avaliar a situação para descobrir as origens do medo e escolher a melhor alternativa.

O PAPEL DO CENTRO DE FORMAÇÃO DE CONDUTORES

Os centros de formação de condutores também possuem um papel essencial no processo de superação de medos e limitações. É preciso ensinar com atenção, paciência e respeito para gerar segurança. O instrutor de auto escola Jhonifer Carlos Possati, de 31 anos, afirma que é comum receber e acompanhar alunos com medo do volante e que planeja as aulas conforme as necessidades apresentadas por eles.

“Cada caso é um caso. Geralmente os alunos que têm alto grau de ansiedade são os que mais inibem o ato de pegar no volante e eu oriento procurar um especialista. Entretanto, na maioria das vezes, costumo levar o aluno em um ambiente calmo para ele conhecer o veículo. Dirigir em locais tranquilos é primordial para se sentir seguro. Tudo parte da prática. Só quando ele se sentir preparado, vamos enfrentar o trânsito”, explica.

MISSA EM HOMENAGEM ÀS VÍTIMAS DE TRÂNSITO

Superar uma perda ou trauma não é uma tarefa fácil e exige apoio, paciência e tempo. Sensibilizado com a causa após observar o sofrimento psíquico de parentes e vítimas de acidente de trânsito, o senador Fabiano Contarato, ex-delegado titular da Delegacia de Delitos de Trânsito, teve a ideia de celebrar uma missa em referência ao Dia Estadual em Memória às Vítimas de Acidente de Trânsito para transmitir mensagens de conforto e esperança.

Missa no Convento da Penha em homenagem às vítimas de trânsito. (Vinícius Vaffré | Arquivo | Gazeta Online)

O evento acontece desde 2006 e é realizado no primeiro domingo de agosto no Convento da Penha, em Vila Velha. Para Contarato, as pessoas, ao passarem por traumas, sentem medo de errar e das consequências desse erro. Portanto, essa dor deve ser vista pela sociedade como algo sério e relevante e que elas precisam de acolhimento.

"Como delegado de trânsito, constatei outras mortes que eu acho tão graves quanto a morte física: a morte do matrimônio; a da família, destruída após a perda de um ente querido. Essas são mortes simbólicas que doem tanto quanto a real, mas que não entram nas estatísticas. Por presenciar situações que me deixavam angustiado".

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Observei que o acolhimento era muito importante. Aquelas pessoas precisavam de mensagens de paz, de amor e de esperança

Fabiano Contarato
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APOIO PSICOLÓGICO E ASSISTÊNCIA DO DETRAN

O Departamento de Trânsito do Espírito Santo (Detran|ES) oferece assistência psicológica gratuita às pessoas que se envolveram em acidentes de trânsito ou que perderam parentes nessas condições. O serviço é realizado pela equipe no Núcleo de Atendimento e Reintegração Psicossocial às vítimas de Acidentes de Trânsito e os Familiares (Narp-Tran), em parceria com a Delegacia de Delitos de Trânsito.

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As terapias variam entre cinco e dez sessões, de acordo com a necessidade de cada paciente. O atendimento é feito de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, na Sede do Detran, em Vitória.Para se cadastrar, o interessado deve ligar o telefone (27) 3227-4589.

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