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Terapias alternativas: como tratar a dor sem usar remédios

Terapias alternativas: como tratar a dor sem usar remédios

Cada vez mais, pacientes buscam outras formas de tratamento

Publicado em 6 de abril de 2019 às 23:54

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O remédio nem sempre é a melhor opção para resolver a dor crônica. (Shutterstock)

Difícil achar alguém que não carregue um remedinho na bolsa, que não tenha uns comprimidos na gaveta da mesa de trabalho. É verdade que ninguém gosta de sentir dor, ainda mais se ela é insistente. Mas nem sempre é o medicamento que vai mandá-la embora.

Saem os remédios, entram as agulhas da acupuntura. Ou mãos com uma eficiência capaz de eliminar um torcicolo num estalar de dedos - ou, no caso, de pescoço. Ou uma ioga, um pilates. Terapias ditas alternativas podem se tornar a principal ferramenta para curar dores crônicas.

Uma das referências no Espírito Santo na especialidade médica que melhor entende a dor, a reumatologista Valéria Valim diz que os remédios têm sua função, mas a maioria das pessoas se medica e se automedica muito.

“No caso das pessoas com dor crônica, sabemos que só 30% vão responder somente ao remédio. Ele é muito importante. Mesmo que não resolva 70% dos casos sozinho, é um recurso para amenizar a dor enquanto as outras terapias comecem a dar resultado. Vai trazer alívio até que a pessoa consiga encontrar um tratamento complementar que seja bom para ela”, ressalta a médica.

O problema da automedicação, segundo Valéria, é que ela pode ter um benefício imediato, mas também pode trazer sérias consequências. “A dor pode ter diferentes causas e gera muito desconforto. Por isso, é muito frequente a automedicação. Só que sem um diagnóstico definido e sem controle médico, pode haver consequências graves, como os efeitos colaterais dos remédios”.

Estudo

Valéria cita um estudo local, de 2011, que mostrou que 30% da população capixaba têm dor. “Precisamos lidar com a dor sem remédios. A prevenção e o tratamento não medicamentoso são fundamentais”, comenta a médica, que coordena o serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas (Hucam), que abriga um centro de dor multiprofissional, com mais de 300 pessoas em atendimento atualmente.

Apenas na reumatologia são mais de 100 doenças. Segundo Valéria, a artrose vem em primeiro lugar entre as mais comuns, seguida de fibromialgia e dor miofacial. “A fibromialgia tem uma frequência de pessoas acometidas muito grande. Nela, o sintoma é a própria doença. Não há uma explicação para a dor a não ser o mau funcionamento do sistema que modula a dor. A pessoa faz exames e não encontra nada”, explica.

Tentativas

Há muitas terapias alternativas - como osteopatia, quiropraxia, massoterapia, a própria acupuntura, entre outras - que podem fazer a função de analgésicos, anti-inflamatórios. “Há evidências científicas para algumas delas, mas não para todas. Ainda não temos uma medicina de precisão, que aponte o tratamento ideal para cada caso, cada paciente. Ainda é preciso fazer tentativas. É um percurso longo. A acupuntura pode funcionar para uma pessoa e não funcionar para outra”, afirma a reumatologista.

O ortopedista Felipe Magalhães também está acostumado a lidar diariamente com a dor no consultório. E diz que apesar de parecer uma escolha lógica, a prescrição do remédio nem sempre é a decisão mais acertada.

“Muitas das dores do paciente são devido à fraqueza muscular, algum desarranjo. Não é o remédio que vai resolver isso. É fácil passar remédio. O paciente pode até melhorar na hora. Mas duas semanas depois a pessoa volta a se queixar da dor. O certo é fortalecer essa estrutura para a pessoa voltar a ter um movimento forte e se livrar das dores”, comenta ele.

O médico costuma fazer apostas em tratamentos com acupuntura, pilates, fisioterapia, hidroginástica ou musculação, atividades capazes de reduzir ou até curar doenças.

O remédio age combatendo o sintoma. É preciso, portanto, atacar a causa dele, como destaca o osteopata João Miguel Debacker. “Acontece, eventualmente, de o paciente ter uma dor aguda e tratar com remédio. Ele acha que está bem e não faz o tratamento certo. Isso acaba levando-o a negligenciar o problema, que pode piorar, talvez até se tornar crônico”.

Nas sessões de osteopatia, onde são usadas técnicas manuais para aliviar sintomas, costumam aparecer pessoas com dores diversas, como de cabeça, no joelho, na coluna, no pescoço. “Procuramos sempre educar a pessoa para a dor, para que ela entenda o que tem e se torne mais ativa no tratamento. Muita gente não sabe que a dor está no cérebro. A informação é do corpo, mas quem registra é o cérebro, que é quem capta a dor. E as medicações atuam nessa percepção da dor. Por isso, não adianta resolver só a dor, e sim a causa do problema”, analisa Debacker.

Diagnóstico

Valéria Valim afirma que há estudos que atestam a eficácia de terapias alternativas no tratamento da dor. “Mas o ponto chave é ter um diagnóstico preciso antes de escolher a terapia. Isso pode evitar um atraso no diagnóstico de algo que pode ser grave, que pode ser fatal ou causar imobilidade. A pessoa pode ir passando por várias terapias, gastando dinheiro e ainda sentindo dor”.

Ela cita ainda a atividade física como um caminho seguro no combate à dor crônica. Mas frisa que a busca por uma vida sem essa agonia vai além: “É natural que a pessoa queira uma ação milagrosa, que venha de fora. Mas quem tem dor crônica precisa de uma mudança de hábitos. Isso requer que ela reconheça que tem uma rotina adoecedora, que pode ser muito prejudicial, e esteja disposta a mudar um comportamento, o estilo de vida, o tipo de trabalho, o ritmo de sono”.

ELA TRATOU BURSITE COM AJUDA DA ACUPUNTURA

A bancária Simone de Freitas, 41 anos, é grata às agulhadas por a terem ajudado a sarar mais depressa de um problema de saúde.

“Tive uma bursite, e o médico resistiu em me dar um remédio. Mas cheguei a um ponto em que não conseguia dormir. Tomei o medicamento por 15 dias. Fiz fisioterapia por três meses, mas não melhorei. E aí, fui fazer acupuntura e agulhamento seco. Em dez sessões já estava melhor. Se tivesse começado antes, talvez nem precisasse tomar nada”.

Simone também recorreu à ventosaterapia, um tipo de tratamento alternativo, muito usado por atletas, no qual ventosas são usadas contra vários tipos de dores.

“No meu caso funcionou. Entrei com dor na sessão e saí sem ela”, afirma a bancária.

Simone na sessão de acupuntura: agulhadas que ajudaram até a tratar dores emocionais. (Vitor Jubini)

Mas mesmo depois que as dores no ombro passaram, Simone não abandonou a acupuntura. “Minha mãe faleceu no final de março. Então, voltei para a acupuntura para tratar questões emocionais, a tristeza”, comenta ela.

Acupunturista, Alessandra Barcellos confirma que a técnica é promissora no tratamento de diversas patologias, entre elas as de fundo emocional, como depressão, ansiedade, estresse.

“Ela trata quase todas as doenças. Podem ser sintomas musculares, digestivos, respiratórios, emocionais e muitos outros. Existem mais de 300 pontos de acupuntura no corpo, e sua punção estimula a liberação de neurotransmissores e hormônios que combatem a dor naturalmente”.

A acupuntura, diz Alessandra, melhora a circulação de oxigênio no nosso corpo. “Melhora a circulação de nutrientes, fazendo o sangue levar o alimento para as células, para que elas possam funcionar de forma adequada. Nosso corpo tem capacidade de se autoreparar, mas sem uma boa circulação ele não consegue fazer isso”, explica a especialista.

Cada caso é analisado individualmente, segundo ela. “A técnica se baseia numa avaliação minuciosa. De forma alguma ela exclui a medicina ocidental. Mas a gente consegue diminuir muito o uso de medicamentos, evitando seus possíveis efeitos colaterais. É um tratamento complementar. E não tem contraindicação. Pode ser usado desde o bebê até o idoso”.

SAIBA MAIS

No ES

Pelo menos 30% dos moradores de Vitória sentem algum tipo de dor, segundo uma pesquisa realizada pelo serviço de reumatologia do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam) em 2011. E em mais de 23% dos casos, os pacientes têm limitações para realizar atividades rotineiras, como dirigir, vestir-se, trabalhar, andar ou comer

No país

Pelo menos 37% da população brasileira - cerca de 60 milhões de pessoas - sentem dor de forma crônica, de acordo com um estudo da Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (Sbed), da Universidade Federal de Santa Catarina, da Faculdade de Medicina do ABC e de uma clínica de tratamento da dor

Pesquisa

79% dos brasileiros acima de 16 anos se automedicam, segundo pesquisa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), feita em setembro de 2018 em todo o país

Terapias alternativas

Exercícios

Diversos estudos apontam que exercícios aeróbios são benéficos em reduzir dor, além de melhorar a qualidade de vida, da função e capacidade funcional, a depressão, a ansiedade e outros aspectos psicológicos

Outras técnicas com resultados no tratamento da dor

Yoga

Biodanca

Dança do ventre

Acupuntura

Terapia crânio sacral

Toxina botulínica

Agulhamento seco

Pilates

Alongamento

Quiropraxia

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Massoterapia

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