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Pais de trigêmeos dão dicas e contam como é a rotina com os filhos

Pais de trigêmeos dão dicas e contam como é a rotina com os filhos

Entenda como é a rotina de famílias que tiveram trigêmeos

Publicado em 7 de junho de 2019 às 00:28

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Carlos e Gina com o filho mais velho, Davi, e os trigêmeos Lucas, Anna e Sarah. (Vitor Jubini)

Você se descabela para criar um único filho? Tente imaginar como é dar conta de dois ou de três ao mesmo tempo. E se acha que três é demais, pense numa casa com cinco crianças. Loucura?

Está certo que ter cinco bebês de uma vez é raríssmo. Por isso, o nascimento dos quíntuplos em uma maternidade particular de Vitória na última terça-feira virou um grande acontecimento. Jayme, Bella, Benício, Laís e Beatriz seguem internados sob cuidados, mas passam bem, para a felicidade dos pais Mariana Mazelli e Jayme Reisen.

A notícia que encantou a todos também deixou muita gente curiosa sobre como deve ser uma rotina de um lar com uma penca de filhos. Fomos atrás de pais de múltiplos para entender como isso funciona na prática.

Mais do que reclamar do cansaço e das contas no final do mês, eles se sentem abençoados por um amor que só se multiplicou.

MILAGRE

“Minha casa ficou mais sonora. Acho isso muito legal! Ser mãe era meu maior sonho e reconheço o que aconteceu comigo como um verdadeiro milagre”, diz Gina De Nadai Mayer, 38 anos, servidora pública e mãe dos trigêmeos Anna, Lucas e Sarah, de sete meses.

Gina não estreou na maternidade com o trio. Pôde treinar um pouquinho com o Davi, hoje com 3 anos de idade. Mesmo assim, viu sua vida virar de ponta-cabeça quando descobriu que carregava três bebês na barriga. A dela e a do marido, o também servidor público Carlos Augusto Mayer, 40 anos.

“Já tinha feito tratamento para engravidar do Davi, com indução de ovulação, a mesma técnica que deu origem aos quíntuplos que nasceram esta semana. Quando fui tentar o segundo filho, precisei de indução de novo. Mas a chance de conseguir era praticamente inexistente. O médico chegou a aconselhar a fertilização. Quando fiz o primeiro ultrassom e soube que eram trigêmeos, achei que fosse brincadeira. Comecei a chorar, apavorada. Fiquei com medo de morrer no parto, de não conseguir levar a gestação adiante”, conta ela.

Passado o choque inicial, era hora de começar a estruturar tudo para a chegada dos bebês. “Primeiro trocamos de carro: um de cinco lugares por um de sete. Mas o apartamento continuou o mesmo, com três quartos. Para ter um de cinco quartos, só se ganhássemos na Mega-Sena”, brinca Gina.

Quando Anna, Lucas e Sarah tiveram alta, após 22 dias na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin), o casal constatou que precisaria mesmo de mais ajuda.

“Minha mãe, que mora em Anchieta, veio para Vitória. Até hoje, ela passa a semana toda aqui e só vai embora nos finais de semana. Minha irmã tirou férias para nos ajudar no primeiro mês. E conseguimos, graças a uma liminar da Justiça, que meu marido ampliasse a licença maternidade de 20 para 60 dias a partir da alta das crianças. Foi fundamental”, lembra.

A partir daí, eles passaram a focar em três palavras mágicas: rotina, organização e calma. “Dei a sorte de ter três bebês muito tranquilos, não são de chorar. O que ajudou é que vieram com rotina da Utin: mamar de três em três horas, ter hora de trocar as fraldas... No começo eu anotava os horários das mamadas, depois vi que não havia necessidade. Eu e minha mãe somos muito organizadas.”

A amamentação era um capítulo à parte. “Amamentei os três por quatro meses e meio. Tinha um cronograma: cada bebê mamava no peito duas vezes por dia, sempre pela ordem de nascimento. E eu não amamentava de madrugada para poder dormir. Então, as mamadas aconteciam às 6h, às 9h, ao meio-dia, às 15h, às 18h e às 21h. Enquanto um mamava no peito, os outros dois iam de mamadeira. Achava complicado amamentar dois ao mesmo tempo, não conseguia segurá-los direito e nem me concentrar. Porque é preciso ter um tempo exclusivo para cada um. Eles são uma unidade múltipla, mas são indivíduos distintos”, explica.

Foi necessário entender logo como funcionava cada bebê. “Lucas é o mais dengoso. Sarah também gosta de um colo, mas é observadora. Por ser a menorzinha, se esforça mais nos exercícios. Já Anna é risonha, adora comer mas está mais atrasada na fisioterapia.”

Mesmo quando as coisas saíam da ordem, a família conseguia manter o equilíbrio. “Não é uma loucura. Mas não pode se desesperar. Tem hora em que as quatro crianças choram ao mesmo tempo. E tenho que me controlar, ou vão ser cinco chorando! Sei que não dá para exigir perfeição. Aprendi a ter menos firula, menos ‘mimimi’, ser mais prática. Não tinha peito e colo para todo mundo. Então, aprendi a não sofrer quando elas choravam, não carregar a culpa desnecessariamente. Tento fazer meu melhor, dentro daquilo que consigo. É zero culpa! Sou bem desencanada com isso. Sou otimista, não sou de reclamar.”

PERGUNTAS

Nem sempre o que vinha dos outros eram bons conselhos. “As pessoas perguntavam ‘nossa, se você pudesse escolheria um só?’ ou falavam ‘tenho pena de você!’”

E assim o casal foi dando conta, mesmo com gastos sempre na ponta do lápis. “A gente não contratou ninguém. Até porque os gastos são altíssimos. Era uma lata de leite de R$ 80 por dia. Só isso já dava R$ 2,5 mil por mês. Mas não fiquei sem a rede de apoio e sempre tinha alguém comigo 24 horas por dia. E agora voltei a trabalhar e está tudo fluindo bem”, comenta Gina.

Os passeios por enquanto estão mais limitados. “Quando a gente sai, vira um evento! Mas outro dia fomos dar uma voltinha com eles no calçadão da praia. Levamos um carrinho duplo, o terceiro bebê foi de canguru, e o Davi foi andando. Deu certo!”, relata a servidora.

"A LOGÍSTICA É TRABALHOSA. MAS A ALEGRIAS É EM DOSE TRIPLA", DIZ MÃE DE TRIGÊMEOS

O casal Yonne e Yuri passeia com o trio formado por Davi, Noah e Daniel, que tem 2 anos da idade. (Vitor Jubini)

Davi e Noah chegaram primeiro e são idênticos. Daniel nasceu segundos depois para completar o trio que hoje enche de alegria a vida dos pais Yonne Estrela e Yuri Varella, um jovem casal de Vila Velha. De alegria e de uma parafernália de coisas.

“No início, a gente não entendia como nossa rotina iria funcionar. Tínhamos uma babá de dia e outra de noite. Não foi suficiente. Atualmente, tenho quatro babás que se revezam. Eu fico 100% do tempo com eles. E ainda falta mão! É realmente uma logística trabalhosa. Mas a alegria é em dose tripla. Nem rezando de joelhos consigo agradecer a Deus por esse milagre”, comenta Yonne, de 32 anos.

Ela admite que a notícia da gravidez tripla foi um choque. “Tinha endometriose, que não me deixava engravidar. Foi assim por três anos, até que resolvemos tentar a fertilização. Na primeira transferência, colocamos um embrião, que não deu certo. Fiquei muito triste e não queria passar por outra decepção. Por isso, na segunda, pedimos para o médico colocar dois embriões. Ele até alertou para a chance de virem múltiplos, que poderiam até vir quadrigêmeos. Mas queríamos ser pais logo. Mesmo assim, receber a notícia foi impactante. Ninguém está pronto para encarar uma primeira experiência tão intensa como essa”, relembra.

APOIO

Durante a gestação, ela contou com um apoio especial. “Por sorte, no mesmo condomínio onde moramos, temos uma vizinha com trigêmeos. O raio caiu duas vezes no mesmo lugar! Troquei muita ideia com ela, peguei dicas sobre amamentação, quantidade de roupinhas, toda a organização de horários”, diz Yonne.

Quase dois anos e meio depois de nascerem, os trigêmeos vivem em um lar estruturado, onde tudo é triplicado. Quer dizer, nem tudo. “Não compro três brinquedos legais. Compro um só para dividirem, até para estimular a camaradagem. Só temos uma bicicleta, por isso, cada hora vai um”, observa Yonne.

CÁLCULO

Ela se sente privilegiada por criar os três meninos, que exigem um gasto elevado. “Eu era sócia de uma loja, mas vendi minha parte para me dedicar à família. Meu marido é advogado e consegue bancar essa estrutura. E quando a gente precisava gastar mais, vinha mais trabalho. Nossa vida financeira prosperou. Deus faz um cálculo perfeito. Porque fralda gera um custo imenso. Aqui em casa são 30 por dia.”

A dose de atenção a cada filho também precisa ser calculada. “Eles são crianças tranquilas, curiosas por natureza. Estão na fase de subir nos móveis. E brigam o tempo todo. Brigam pela minha atenção, pela atenção do pai por um brinquedo. Mas tem que entender. Ao mesmo tempo em que é difícil para a mãe administrar os cuidados com os três, eles têm que dividir tudo o tempo inteiro. Não é fácil”, admite.

O desafio despertou em Yonne a necessidade de se especializar no papel de mãe. “A maternidade ressignificou completamente a minha vida. Hoje quero me dedicar ainda mais a eles. Por isso, estou cursando Pedagogia para alfabetizá-los. Não penso nem em colocá-los na creche agora.

O pai, Yuri, 38, diz que na mesma proporção em que há muito mais correria para dar conta dos trigêmeos, a felicidade também é maior. “É muito trabalho, muita dedicação, mas a cada sorriso, a cada vitória o meu coração se enche de alegria. Sou muito satisfeito com esse milagre que aconteceu para nós”, diz.

TEMPO

Apesar de tanta dedicação, Yonne ainda tira tempo para ela mesma. “Uma vez por semana, tenho aula de piano. É quando tiro uma tarde inteira só minha”, conta.

No meio disso tudo, o casal também dá um jeito de estar a sós. “Sou uma general em relação à rotina. É preciso fazer com que ela funcione em favor da família. Aqui às 20 horas as crianças vão para a cama. Meu marido chega e jantamos juntos, conversamos, vemos um filme. Às vezes, nos finais de semana, saímos para uma voltinha só nós dois.”

No resto do tempo, os meninos comandam a programação, que, segundo a mãe dos trigêmeos, não inclui grandes aventuras. “Prefiro a zona de conforto. Já viajamos para as montanhas com eles. Nós cinco e mais duas babás. Mas não tive coragem de sair do Estado. Vai chegar o momento de viajar mais”, diz Yonne.

CURIOSIDADES

charge. (Arabson)

Mundo de fraldas

Mesmo com toda facilidade, em relação às de antigamente, fraldas as descartáveis pesam no orçamento familiar: estima-se que uma só criança use em torno de 5 mil unidades até o desfralde.

Probabilidades

Gestações múltiplas representam 1% a 2% de todas as gestações naturais. É mais fácil ser atingido por um raio do que de engravidar de quíntuplos: a chance é de uma em 50 milhões. Ter quadrigêmeos pode soar mais fácil: um caso em 25 milhões.

Os quíntuplos capixabas

Jayme, Bella, Benício, Laís e Beatriz nasceram no último dia 4, em uma maternidade particular de Vitória. A equipe médica para o parto envolveu 36 pessoas, três anestesistas, três obstetras, seis neonatologistas, 20 enfermeiras, um cirurgião vascular, um cirurgião geral, um intensivista e um neurocirurgião intensivista.

Sêxtuplos

Em janeiro de 2017, um casal nigeriano saiu de zero para seis filhos de uma vez. Os sêxtuplos (três meninos e três meninas) nasceram de cesariana em um hospital em Virgínia (EUA).

Sétuplos

Uma mulher deu à luz a sétuplos (seis meninas e um menino), em fevereiro deste ano, na província de Diyali, no leste do Iraque. Todos saudáveis e de parto normal. O casal já tinha três filhos.

Casos no Estado

Nascidos vivos por ano no Estado, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa):

2017: 55.827 nascidos vivos, destes, 1.174 gêmeos e 20 trigêmeos.

2018: 56.724 nascidos vivos, destes, 1.294 foram gêmeos e 22 trigêmeos.

2019 - janeiro a maio: 14.728 nascidos vivos, destes, 266 foram gêmeos e três trigêmeos.

 

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