Entrevista

Ivan Aguilar celebra 30 anos de carreira: "Estou me permitindo mais"

Estilista capixaba apresentou sua nova coleção em Vitória apostando em alfaiataria, no tricô e na moda casual

Carlos Alberto Silva

Ivan Aguilar não é mais o mesmo. O estilista, que vivia em ritmo acelerado e tinha medo de ousar, ficou no passado. Celebrando 30 anos de carreira, ele apresentou desfile com a coleção chamada "Urban Folk, em Vitória, apostando na alfaiataria, nos tricôs e na moda casual. Ternos, jaquetas, bombers, são algumas das apostas do designer capixaba. 

A verdade é que ele está sempre se reinventando. Confeccionou ternos exclusivos para o ex-presidente Lula, estreou na passarela do extinto Fashion Rio, criou uma coleção feminina apresentada na Semana de Moda de Nova York, fechou a loja que teve por 17 anos em Vitória e viu de perto as especulações do encerramento das atividades. 

Depois de dois anos sabáticos - onde aproveitou para descansar e passear pela Europa - voltou ao mercado. Tudo por um pedido do filho Bernardo, que agora trabalha com ele. Um dia após apresentar a coleção que celebrou três décadas de trabalho, ele conversou com a Revista.ag. Fez um balanço de sua trajetória, lembrou histórias e contou que está escrevendo sua biografia, sem data de lançamento. Confira os melhores momentos. 

Qual a sensação de completar 30 anos de carreira?

Eu sinto que deveria ter começado do jeito que estou fazendo agora. Só que a gente não tinha essa mentalidade. A minha cabeça mudou muito, eu era muito conservador, autoritário comigo mesmo, não me permitia muitas coisas, inclusive em ousar nas cores, como usar rosa para homens.

Como foi o desfile?

Eu demorei muito e resisti para fazer apresentações diretas para o meu público consumidor. A última foi em 2009, no Museu Vale. As outras foram voltadas para crítica, imprensa e compradores de multimarcas. E desta vez também priorizei, além de clientes, pessoas que queriam assistir comprando convites. Muita gente falava que adoraria assistir um desfile e não podia. Mas é caro colocar uma pessoa na plateia sem custo. 

O desfile foi dividido em 3 etapas: alfaiataria, tricô e casual....

Abri com a alfaiataria porque era o que todo mundo esperava, que é a minha marca registrada. As pessoas poderiam ter ficado pensando que seria só terno. Mas vem a inserção de moda autoral, eu quis causar esse impacto visual. Se mostrasse a moda casual primeiro talvez perdesse a linha do meu DNA. Essa coleção é um grito de liberdade.

Sua carreira não é linear. Você vestiu presidente, fez uma coleção feminina em 2014, aí sumiu, voltou com desfile no Rio Moda Rio 2016, tempos depois fechou a loja. Como você avalia esses altos e baixos?

Eu lido com esses altos e baixos de uma maneira muito tranquila. Não encaro como coisa ruim, porque é a partir daí que me permito. Acho que dei o passo certo quando obedeci a voz do coração. Eu sempre fui muito sozinho, como não tenho um CEO para me colocar no eixo e falar o que devo fazer, faço como quero.

Após tudo isso, você tirou um ano sabático...

Em 2016 fiz o desfile no Rio, e aí fui chamado para trabalhar em Nova York, ia morar lá. Mas meu filho resolveu mudar o rumo da vida dele e me disse que queria trabalhar com comércio. Ele me trouxe para uma outra realidade, decidi voltar para o Brasil e resolvi a montar a empresa novamente. Mas antes fui para Europa descansar, me permiti isso.

Você fechou a loja que teve durante 17 anos em Vitória. Você enfrentou dificuldades financeiras?

Eu cansei da loja, do ponto. O lugar já não me trazia mais felicidade. Não teve dificuldade financeira, porque sempre fui muito cuidadoso em ter uma reserva. Claro que eu gastei muito dinheiro, mas não foi por dificuldade financeira. Eu estava muito cansado, inclusive daquele estilo que era só terno. Aquilo era muito chato. 

Seu DNA é moda masculina. Mas durante um tempo você se dedicou a moda feminina. Se arrepende?

Eu até tentei fazer um feminino, mas não me arrependo de jeito nenhum. Foi um exercício e uma experiência ímpar. Porque daqui pra frente eu não preciso mais fazer.

O que muda do Ivan de hoje para o cara de 30 anos atrás?

Estou me permitindo muito mais. Em vários aspectos, não só na profissão. Agora estou escrevendo o meu livro, que vai contar a minha vida. São capítulos, de 10 em 10 anos. Nele eu vou contar tudo, da minha vida pessoal e profissional. Porque é tudo misturado, a loja, a marca, as roupas que fiz, as pessoas que atendi.

Se arrepende de alguma coisa?

Me arrependo sim, se pudesse voltar atrás e corrigir algumas coisas, eu faria. Me arrependo de ter vestido algumas pessoas, dado valor a pessoas que são cruéis, ruins.

Você ta mais sereno...

É um Ivan menos preocupado, mas continuo um pouco mais acelerado com relação a trabalho. Mas na vida pessoa estou 'low profile'. Na minha nova história estou aprendendo que a vida é muito curta e passa muito rápida e a gente perde muito tempo com coisas que não tem valor. Quero aproveitar o tempo com as pessoas que gosto. Esse 'start' aconteceu nesse dois anos sabáticos, quando meditei muito, as coisas materiais perderam o valor. Vi muitos amigos morrendo, tenho pensado muito nisso.

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