Entrevista

"Só me pergunto por que não fiz isso antes", diz Mariana Kupfer

Mãe de uma menina de 9 anos, atriz lança livro em que fala da escolha pela maternidade independente

Divulgação
Mariana Kupfer lança livro em Vitória em que fala sobre maternidade independente
Mariana Kupfer lança livro em Vitória em que fala sobre maternidade independente
Foto: Ricardo Medeiros

Ela já foi apresentadora, modelo, já fez novelas e participou de reality shows. É uma artista famosa no país inteiro. Mas hoje em dia só tem um assunto sobre o qual ela ama falar: seu papel de mãe.

"Sempre soube que queria ser comunicadora. Mas não tinha achado meu propósito na vida. Isso só veio com a chegada da Victoria", diz Mariana Kupfer. Aos 45 anos, ela se dedica à criação da filha e ao seu canal AMAR, no Youtube, em que trata do universo da maternidade.

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Mariana se tornou mãe em uma experiência diferente e que ainda causa estranheza em muita gente. Um sonho que ela decidiu viver sozinha. E agora que Vicky completou 9 anos de idade, ela resolveu contar todas as dores e delícias de ser uma mãe-solo no livro "Eu, mãe e pai - A maternidade independente como escolha".

Em Vitória para o lançamento do livro, Mariana nos recebeu para um bate-papo. Confira:

A maternidade sempre foi um sonho seu?

Perdi meu pai com 18 e mergulhei nos estudos acadêmicos de teatro, canto e dança. Entrei na Ford Models e fazia muito comcercia de TV. Sabia que seria comunicadora. Mas não tinha achado meu propósito na vida. Isso veio com o nascimento da Vitória, com a maternidade. E aí veio esse programa que faço há cinco anos, o AMAR, que é um programa muito, muito lindo, em que a gente conta histórias reais de mães do Brasil todo. Falamos de câncer, luto, síndromes... Mas eu tinha esse sonho desde pequena. E em 2008 comecei a ter esse desejo superforte e parti para a produção solo, resolvi fazer uma inseminação.

Como foi escolher um doador pela tela do computador?

Ele é um doador de sêmen de um laboratório americano. Eu estava numa consulta com meu médico, que é o maior especialista em reprodução assistida do país, dr Paulo Serafim, que me indicou os bancos de sêmen. Fiz todos os exames e fui entendo esse processo.

Foi uma análise bem racional, imagino. Li que você escolheu um judeu, como você

Eu tinha mais de 35 tipos de informação diferentes sobre cada doador. Caucasiano, judeu, alto, baixo, loiro, todo o aspecto emocional, acadêmico... Passei por todos os exames de laboratório e consegui começar a montar esse quebra-cabeça do que eu queria. Queria alguém fisicamente diferente: loiro, de olho azul, judeu - porque sou judia... E aí você tem acesso a exames até a terceira geração da família do doador. Como tenho um histórico de câncer na minha família, isso era superimportante para mim.

Quanto tempo para fazer a escolha do doador?

Me cadastrei efetivamente no site em junho e em setembro eu estava grávida. Depois que você escolhe, tem os trâmites com a Anvisa. Porque são leis de dois países. Você vai ao consulado americano em São Paulo... É um trâmite todo legalizado, mas bem burocrático, para proteger as duas partes.

E como chega o material doado? Você fez a inseminação no Brasil?

Você recebe um contrato. No modelo que fiz, coloquei que não queria conhecer o cara e nem que minha filha o conhecesse. Porque tem um modelo que prevê que, com 18 anos, o filho ou a filha podem escolher conhecer o pai biológico. Aí, chega aqui o lote de sêmen criogenado. Você compra um, dois, três... Comprei vários! Porque eu não sabia se iria engravidar de primeira. Como engravidei de primeira, o resto do material ficou armazenado na clínica. Fiquei grávida de gêmeos. Um não foi para frente, e veio a Vicky.

Você ouviu algum tipo de crítica, de julgamento, por fazer essa escolha? 

Sempre fui muito determinada na minha vida. Não desisto. Se você faz da forma A, vai ter julgamentos. Se vai da forma B, também vai ter alguém para se meter na sua vida. Se faz tudo como a sociedade espera, vão falar do mesmo jeito. Você enlouquece! Sempre foquei no bom. Pensava que era uma coisa que queria muito, que era um desejo legítimo.

Uma vez, o Silvio Santos questionou o fato de você ter uma filha sem ser casada...

Sim, foi no programa dele. A Internet criticou muito o machismo ele.

E sua família, como encarou?

Eu não tenho pai vivo. Tenho uma mãe que mora fora, uma irmã que mora fora, e sou muito ligada na minha irmã do meio, que é minha melhor amiga. Ela é que foi minha superapoiadora, que foi comigo às consultas. Fui lá e fiz.

Muita gente olha com estranhamento, mas é algo cada vez mais comum, né?

Milhões de pessoas, inclusive do mesmo sexo. Nós temos hoje novos modelos familiares. Hoje a Victoria tem 9 anos. Ano passado, dei uma entrevista para o (Pedro) Bial. Você não sabe a quantidade de mensagem que chegou para mim, de mulheres suplicando socorro. Claro que tudo tem espinhos e rosas pelo caminho. Você pode estar casada com um cara espetacular, que sempre vai ter um espinho. Nenhum modelo é o ideal! Quem disse que casar e ter um filho é o modelo perfeito? Esse livro é um guia que tem tudo de que uma mulher precisa para conquistar isso. Porque chegou uma hora que eu não conseguia mais responder a todo mundo. O que falo nas minhas palestras é 'nunca desista do sonho da maternidade'. Pensa hoje numa mulher com 45, 50 anos, que tem sua grana. Ela vai sair para jantar com um cara. Imagina a ansiedade dessa mulher que quer ser mãe? O cara se assusta! Claro que é legal você ter um parceiro, um namorado, marido, um amante. Mas se não rola assim você vai abrir mão do seu sonho. E não tem garantia de que é para sempre e de que ele vai ser um pai espetacular. Fico pensando em quantas mulheres frustradas com 40 anos.. Fico querendo ajudá-las. Sou abordada onde vou. As pessoas me escrevem diários, contando que querem fazer o que eu fiz. Uma moça de Moçambique me escreveu, você acredita?! Se a gente fica preocupada com o julgamento alheio, em cumprir um papel que a sociedade exige, como vai fazer? Você vai entrar num relacionamento furado só para ter um filho? O mundo mudou muito. Os tempos mudaram.

Como foi a gravidez?

Foi difícil, viu? Eu tive hiperemese gravídica. Vomitava umas 30 vezes por dia. Fiquei internada diversas vezes e quando não estava internada ficava no home care. Até na sala do parto eu vomitei. Foi barra! Tive ainda hérnia de disco, enxaqueca, refluxo...

Tudo muito diferente desde o início. Como foi estar numa sala de parto sozinha?

Eu tinha marcado uma cesárea. Como já tinha passado muito mal durante os nove meses, não via a hora de ter minha filha. Com 38 semanas, a Victoria resolveu vir ao mundo às 3 da manhã. Não consegui fazer depilação, fazer a mão, avisar ninguém. No final, estavam lá minha irmã, meu cunhado, duas amigas. Mas elas não chegaram tão rápido. Fiquei um bom tempo ali sozinha. Mas sempre achei que se você ficar pensando muito, vai criar todos os monstros na sua cabeça, que ferram o emocional. E eu não queria meu emocional bagunçado na hora de ter um filho.

E me conta como é ser mãe solo?

É, ninguém te prepara, ninguém te explica o que vai mudar na sua vida. É uma loucura! Nascem duas pessoas, a mãe e o bebê. E olha que eu li muito na minha gravidez. Nada é igual!

Você tinha uma rede de apoio?

De fato, eu não tinha uma super-rede de apoio. Mas junto com a Victoria eu ganhei as mães das amiguinhas dela, que viraram amigas mesmo. E ainda tive uma pessoa que me ajudou, que cuidou dos meus sobrinhos, depois cuidou de mim na gravidez e me ajudou com a Victoria no começo. Foi um apoio muito importante. Ela está no meu livro. E tem uma pessoa que trabalha comigo hoje, que cuida da Vicky. Então, tenho esses anjos na minha vida. Se numa sexta-feira quero ir a um show, a Victoria vai dormir numa casa de uma amiga. A coisa a que sou mais grata hoje na minha vida é ver o ser humano maravilhoso que minha filha está se tornando.

E a maternidade é tudo o que você imaginava?

É muito mais! Nem imagino minha vida sem a Victoria. Só me pergunto por que não fiz isso antes. Essa menina é de uma força! Ela não tem medo de nada, é independente, me dá umas broncas! É muito resolvida.

E a Victoria, sabe de tudo? Ela pergunta sobre o pai?

Ela perguntou quando tinha dois anos de idade. Eu sempre falava para ela que nossa família era diferente, que ela tem uma mãe que queria muito ter ela... E fui elaborando isso, de acordo com a faixa etária e o entendimento dela. Como ela tem 9 anos, não sabe ainda o que é sexo, o que é uma relação. Falo que engoli uma sementinha do amor. Minha ideia é que quando ela tiver uns 12, 13 anos, eu explique tudo.

Ou antes, né?

Embora ela seja extremamente inteligente, perceptiva, curiosa, participativa, ela não sabe o que é uma relação sexual. Para entender que eu importei um sêmen, ela tem que saber o que é sêmen. Então vai ser no tempo certo.

Você está preparada caso ela venha a te questionar quando for adulta?

A gente é muito unida! Sempre falei de mulher para mulher. Ela é muito adulta. Claro que ela tem a infância superpresente, brinca de boneca... Mas sempre a pus debaixo do braço. gente viaja o mundo. Acho que isso vai ser muito suave. Acho que não vai ser questionadora da forma negativa. Vai sentir muito orgulho. Fico feliz de ter sido um exemplo tão positivo para tanta gente! Fico feliz de ver novos modelos familiares se desenhando. O que prevalece é o amor

 

 

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