Tom Hanks vive herói do Rio Hudson em filme que conta história real
"Sully" conta a história do piloto que salvou 155 passageiros em pouso forçado no Rio Hudson

Existe, na internet, uma série de memes “nunca viaje com o Tom Hanks”. A brincadeira é justificada – o ator já acabou em uma ilha deserta após um desastre de avião em “O Náufrago” (2000), participou de uma mal-sucedida expedição à Lua em “Apolo 13” (1995), ficou preso em um terminal de aeroporto em “Terminal” (2004), e foi refém de piratas em “Capitão Phillips” (2013). Além disso, ele também se meteu em altas confusões durante estadias em outros países em filmes como “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), “A Ponto dos Espiões” (2015), entre outros.
O meme agora ganha mais um capítulo com a estreia de “Sully – O herói do Rio Hudson”, que chega às telas dos cinemas quinta-feira. O filme conta a história real do piloto Chesley “Sully” Sullenberger, que em 15 de janeiro de 2009 conseguiu pousar um avião seriamente danificado nas águas do Rio Hudson, em Nova York, e salvar a vida de 155 pessoas, entre passageiros e tripulação.
A trama heroica – que traz a palavra “herói” até no subtítulo em português – assume, com a direção de Clint Eastwood, um risco de recontar a mesma história algumas vezes durante sua projeção. Assim, o voo é acompanhado tanto pelas perspectivas de Sully e de seu copiloto, Jeff Skiles (Aaron Eckhart), quanto pela visão de passageiros, membros da tripulação e controladores de tráfego.
Aos 86 anos, Eastwood finalmente volta a inovar se desgarra da imagem recente de um cineasta conservador. Uma imagem, vale ressaltar, justificada por filmes como “Sniper Americano” (2014), “J. Edgar” (2011) e “Gran Torino” (2009). Agora, deixando a política de lado – Eastwood é um grande apoiador do partido Republicano e defensor da eleição de Donald Trump – o diretor entrega talvez seu melhor filme desde “Sobre Meninos e Lobos” (2003) ou “Menina de Ouro” (2004).
A partir das diferentes visões, o diretor constrói diferentes narrativas, entre elas uma que conta o que aconteceria se Sully resolvesse, ao invés de realizar o pouso forçado, retornar ao aeroporto de Nova York. Algumas delas, inclusive, servem para mostrar que o número de pessoas salvas pelo piloto foi muito maior do que as 155 contabilizadas – não é difícil imaginar (ou recordar) o que aconteceria se um avião batesse em um prédio na cidade.
Além do voo
Para não ficar restrito ao voo, o filme ainda acompanha Sullenberger e Skiles nos dias que sucederam o ocorrido. Isolados da sociedade, eles têm que enfrentar o julgamento do Conselho Nacional de Segurança de Transporte, que acusa o piloto de ter assumido um risco desnecessário à ordem de retornar ao aeroporto.
Ao mesmo tempo que confere nova dinâmica ao filme, o julgamento e tudo o que acontece após o pouso é dramatizado ao excesso para conferir um conflito ao roteiro que carecia de um. Toda a tensão criada é vazia e pouco interessa ao espectador que, em sua maioria, já conhece o desfecho.
Ainda assim, “Sully” é uma ótima surpresa. Hanks e Eckhart estão excelentes e têm ótima química, principalmente na relação de seus personagens após o incidente. O filme tem a assinatura de Eastwood e mostra um cineasta inquieto e que, aos 86 anos, ainda consegue surpreender.
Sully – O herói do Rio Hudson
Drama. (Sully, EUA, 2016. 96min.
Direção: Clint Eastwood
Elenco: Tom Hanks, Aaron Eckhart, Laura Linney, Anna Gunn
Cotação: 4/5