Vencedor capixaba do Duelo de MCs Nacional: "Emocionante"

Morador do Morro do Quadro, Cesar é o grande vencedor do Duelo de MCs Nacional, realizado em Minas Gerais, firmando o Espírito Santo na cena rap

Publicado em 29/11/2017 às 07h06

Atualizado em 29/11/2017 às 07h47

Foto: Pablo Bernardo
Cesar disputou a final da batalha de rimas com o mineiro Drizzy (boné azul)

“Não tem fama, nem hype, só tem suor”. Os versos lançados por Cesar Resende Lemos ao final do Duelo de MCs Nacional definem bem a trajetória do rapaz até aqui. Cesar, como é conhecido no movimento hip hop na Grande Vitória, foi o grande vencedor da maior batalha de rimas do país, realizada no último domingo, no Viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Morador do Morro do Quadro, em Vitória, o rapaz de 20 anos duelou na final com o mineiro Drizzy, que “jogou em casa”, com apoio de boa parte dos presentes.

Em entrevista por telefone ao C2, Cesar demonstrou um misto de euforia e de maturidade para lidar com o título que conquistou com justiça. “Eu não sei se a minha ficha vai cair. Eu me sinto parte de um sonho de vários moleques que vêm da periferia e sonham em viver da arte, do improviso, fazendo freestyle. Ver isso realizado é muito emocionante para mim”, diz.

Antes mesmo de enveredar-se pelos caminhos do rap, Cesar já escrevia poemas e rimas diversas, ainda na adolescência. Ouvia Racionais e Emicida, suas principais referências no cenário nacional, e se identificava com os versos que escutava.

“Comecei a perceber que me reconhecia naquilo ali e desenvolvi isso em mim. Nunca pensei em levar para o lado profissional, mas quando vi o Rap de Quinta, em 2014, pensei que aquilo podia ser real”, conta.

O Rap de Quinta a que Cesar se refere é um evento de batalha de rimas, grafite e poesias realizado na região do Parque Moscoso, no Centro, às quintas-feiras. Nos últimos três anos, o MC correu bastante. Participou não só do Rap de Quinta, e também buscou inspiração e apoio em amigos do movimento cultural.

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“Minha inspiração vem da minha própria vivência e das histórias das pessoas que estão ao meu redor. A gente que vem da periferia tem muito em comum, enfrenta as mesmas lutas. O sonho de cada moleque é um sonho que eu também tenho”, divaga.

Na sua região, no Morro da Piedade, Cesar ainda participa de projetos com o Núcleo Afro Odomodê, estimulando jovens a buscar conhecimento para enfrentar preconceitos, violências e opressões na sociedade.

“Nossa primeira intenção é incentivar o pessoal da região e também da cena hip hop. Muitos livros escondem a história dos nossos heróis e dos negros. Mas também englobamos vários outros temas”, ressalta Cesar. 

Agora, o MC se prepara para lançar projetos solo, e também busca mais um troféu, desta vez no Slam, algo semelhante a um campeonato brasileiro de poesia falada, realizado em São Paulo no próximo mês.

Evento é realizado há dez anos em BH

O Duelo de MCs Nacional, organizado pelo coletivo mineiro Família de Rua, teve início há exatos dez anos, em Belo Horizonte. De uma despretensiosa batalha de rimas na Praça da Estação, o evento cresceu e tornou-se o maior do gênero no país, chegando a reunir milhares de aficionados por rap no Viaduto Santa Tereza. A estrutura de concreto, tombada como patrimônio cultural da capital mineira, é comumente ocupada por moradores de rua, e foi ressignificada pela iniciativa do movimento hip hop.

A batalha nacional chega a envolver até dois mil MCs de 24 estados. O evento é realizado sem apoio do poder público, fazendo com que coletivos se mobilizem em todos os cantos do país pela captação de recursos. Neste ano, as capixabas do Melanina MCs também se apresentaram como uma das atrações da finalíssima.

As seletivas regionais são organizadas por nomes de peso do rap de cada unidade da federação. No Espírito Santo, os participantes são selecionados em eventos já conhecidos na cultura hip hop local, como o Projeto Boca a Boca (itinerante, mas com sede em Vitória), Batalha da Ponte e Ponte Minada (ambas em Vila Velha), Batalha da Orla (Serra), Largando Versos (Aracruz), Soul Rap (Guarapari) e Batalha do Dois (Serra).

Nesta edição, a equipe organizadora no Estado reuniu artistas como Ficore Kabelera, Jackson Ferreira (Jack da Rua) Dimas, Ernauro Feijó, MD Silva, Gilmar Martins (Doggueto) e Cadu Miranda (Fábrica Suicida), além de diversos coletivos de hip hop espalhados pelo Espírito Santo.

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