A Netflix parece ter mesmo embarcado na onda da nostalgia. Não bastaram duas temporadas de Stranger Things (2016 e 2017), que trouxeram diversas referências da cultura pop dos anos 1980, tornando a série um dos grandes fenômenos da plataforma de streaming, foi preciso mais.
Retire a fantasia e o suspense, os atores carismáticos e pule para a década seguinte. Aí temos Everything Sucks!, cuja primeira temporada foi disponibilizada na última semana. Criada por Ben York Jones e Michael Mohan, a série se passa em 1996, na cidade norte-americana de Boring (em tradução literal, chato, ou entediante mesmo). Na pacata Boring, como em todas as cidades do mundo, não importa a época, há também os adolescentes entediados, que tentam se ocupar como podem.
Na Boring High School, duas atividades se destacam: o grupo de teatro, composto pelos vilões da trama, e o grupo do vídeo, do qual fazem parte os ou losers, como costumam dizer.
Adolescência
No centro da história estão Kate (Peyton Kennedy) e Luke (Jahi DiAllo Winston). Kate personifica a típica adolescente excluída no ensino médio: filha do diretor da escola, não pertence a nenhum grupo. A jovem se vê às voltas com sua sexualidade: ela sente atração por outras meninas, e ao mesmo tempo em que começam suas descobertas, ela luta contra isso.
Nessa tentativa de inclusão, ela começa um namorico com Luke, que mostra logo no início que se interessa por Kate um amor puro de adolescência que logo se transforma numa grande amizade, um dos grandes valores da série (assim como em Stranger Things). Luke é o especialista do grupo de vídeo, e junto a Kate, Tyler (Quinn Liebling) e McQuaid (Rio Mangini), torna-se um dos principais alvos de bullying na escola outro tema bastante abordado no roteiro, como não poderia deixar de ser.
Do outro lado, temos o casal popular da Boring High School, que também lidera o grupo de teatro e, até metade da história, rivaliza com Kate, Luke e cia.: Emaline (Sydney Sweeney) e Oliver (Elijah Stevenson), responsáveis por algumas vilanias de dar dó dos protagonistas.
Paralelamente, acompanhamos outra trama que, em certos momentos, chama mais a atenção do que a principal: o romance entre o viúvo Ken (Patch Darragh), pai de Kate, e Sherry (Claudine Mboligikpelani Nako), mãe de Luke que fora abandonada pelo marido anos atrás. É muito bonita, aliás, a forma como o roteiro constrói a relação dos dois, escapando dos clichês.
Erros e trunfos
Antes que o leitor chegue ao final, é bom dizer: Everything Sucks! não é uma grande série. A tal onda do saudosismo precisa ser dosada, se não cansa. Pelo menos metade da primeira temporada tenta gritar o tempo todo para o telespectador ei, nós somos uma série nostálgica!, e acaba se esforçando mais do que devia.
Mas o programa tem seus trunfos, a começar pela própria nostalgia, por mais contraditório que seja. Referências de todos os tipos não faltam: fitas cassete ainda em alta, a popularização dos CDs, a propagação da internet, o uso do discman, entre tantas outras. Porém, as referências musicais talvez sejam o que a série tem de mais legal: Alanis Morissette, Oasis, The Offspring, The Cranberries, Weezer e Tori Amos estão entre os nomes da música que mais se destacaram naquele recorte da década. Destaque para a cena em que Luke e Kate desbravam pela primeira vez (Whats the Story) Morning Glory?, disco do Oasis da época e que já conhecemos tão bem.
Everything Sucks! se arrasta por pelo menos seis episódios. Por eles serem curtos cerca de 20 minutos cada , é perfeitamente possível conseguir chegar à reta final da série, quando o roteiro começa a acertar, principalmente na trama individual de Kate e sua descoberta como uma garota homossexual. Assista se estiver com tempo de sobra.
Ouça abaixo a trilha sonora da série:
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