Transformar o descartável aos outros em obras de arte através da criatividade. Essa era a especialidade do artista Arthur Bispo do Rosário (1909 - 1989), um dos maiores nomes da arte contemporânea brasileira, tema da exposição O Grande Veleiro que chega a Vitória na quarta-feira, dia 25 de abril, no Centro Cultural Sesc Glória. A mostra conta a vida e obra de Bispo, que morou durante 50 anos em uma colônia psiquiátrica no Rio de Janeiro e lá produziu suas obras, questionando os limites entre a arte e a loucura para muitos ele não passava de um louco, mas, para outros, era um gênio. O artista se tornou, inclusive, símbolo da luta antimanicomial.
Natural de Sergipe, Bispo mudou-se ainda jovem para o Rio de Janeiro. Em 1938 teve um surto psicótico em que acreditava ser um o enviado de Deus para julgar os vivos e os mortos. Diagnosticado como esquizofrênico-paranoico, foi parar na Colônia Juliano Moreira (RJ).
A arte de Bispo veio de sua capacidade única de unir materiais diversos como canecas, calçados, botões, madeiras, garrafas, lençóis e talheres e dar a eles um novo significado. Entre seus trabalhos mais importantes, o Manto da Apresentação, que o artista bordou para usar no dia do Juízo Final, e seus navios, que remetiam à época em que era um jovem marinheiro.
O Grande Veleiro é um mergulho no universo de Bispo, com cenografia inspirada na vida e na obra do artista. Lúdica e interativa, a mostra foi desenvolvida em parceria com o Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea e já passou por Sergipe, terra natal do artista, Rio de Janeiro e Paraty.
Visitamos a Colônia, onde ele criou suas obras e a cela em que ele ficou. A obra de Bispo encanta pelo fato de trabalhar com pequenas peças e por ser um trabalho muito colorido, de muita plasticidade. Acho que encanta as crianças e adultos por esse paralelo entre o que é a arte e a loucura, conta Rita Sarmento, coordenadora de cultura do Sesc Glória.
A MARÉ DA VIDA
O olhar de Bispo do Rosário serviu de inspiração para a artista mineira Ercília Stanciany, nome por trás da exposição A Maré da Vida, que também tem sua abertura na quarta-feira, dia 25, e será realizada paralelamente à mostra do artista sergipano. Radicada no Estado, Ercília vê ecos da história de Bispo em sua própria trajetória, afinal foi com o lixo que ela chegou à arte. Artista plástica e catadora de lixo, Ercília ingressou aos 41 anos no curso de Artes Plásticas da Ufes estudando em livros que recolhia do lixo o mesmo lixo com o qual ela criou as obras que compõem a mostra.
As peças fazem parte do meu TCC. Trouxe a história de pessoas importantes para minha trajetória para dentro da xilogravura. Mas sou catadora e não queria usar com madeira comprada na xilogravura, então usei madeiras encontradas no lixo, restos de móveis, explica.
Em sua primeira exposição individual, Ercília vai ter a honra de dividir espaço com uma personalidade marcante na sua vida. Minha história com ele é antiga, antes de começar a estudar. A primeira exposição que eu fui na vida, aos 18 anos, em Belo Horizonte era dele, isso ficou marcado, diz.
SERVIÇO
O Grande Veleiro e A Maré da Vida
Quando: 25 de abril a 15 de julho (visitação: de terça a sexta-feiras, das 10h às 20h e aos sábados e domingos, das 10h às 19 horas (exceto feriados).
Onde: Centro Cultural Sesc Glória. Avenida Jerônimo Monteiro, 428, Centro, Vitória.
Informações: (27) 3232-4757
Entrada Gratuita.
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