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Em novo romance, escritor Saulo Ribeiro questiona identidade capixaba

Em novo romance, escritor Saulo Ribeiro questiona identidade capixaba

"Os Incontestáveis" narra a jornada de dois irmãos pelo interior do Estado, em busca de um Maverick que pertenceu ao pai

Publicado em 18 de junho de 2018 às 22:02

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Belmont e Maurício são dois irmãos que saem de Terra Vermelha, em Vila Velha, para percorrer as estradas do Espírito Santo em um Opala, em busca de um outro carro. Mas não um carro qualquer – a caçada pelo antigo Maverick que pertenceu ao pai dos dois faz com que a dupla passe a desbravar a fundo o interior do Estado no romance “Os Incontestáveis”, novo livro de Saulo Ribeiro, a ser lançado no próximo sábado (23), em Vitória.

O título não é estranho: a trama retratada na publicação inspirou e também foi inspirada no longa-metragem homônimo dirigido por Alexandre Serafini em 2016. O roteiro, à época, foi desenvolvido por Serafini em parceria com Saulo. De lá para cá, o escritor sentiu necessidade de concluir sua obra no papel.

Em comum, segundo Saulo, as obras têm o espírito anárquico, rebelde, e até inconformado. Na verdade, Belmont e Maurício buscam muito mais do que o Maverick do pai. Entediados, os dois vão atrás de algo que dê sentido às suas existências, mas sem saber exatamente o que fazer. No fundo, com a história dos irmãos, a obra levanta, da melhor maneira possível, a discussão e os questionamentos sobre as identidades do capixaba.

“Eles estão em uma constante busca, porque aquilo que eles têm não basta. O Maverick, na história, pode ser como a arte para alguns artistas, como os anseios de grupos sociais... A diferença de tudo é a clareza. Meu foco, com o livro, é discutir identidade”, destaca Saulo.

Desafio

Concluir uma narrativa que já tinha ido para as telonas foi desafiador. No papel, o escritor acredita que conseguiu explorar melhor a densidade psicológica dos personagens, graças à liberdade nos diálogos (repletos de capixabices – no melhor sentido da palavra) e nas narrações.

“Na obra escrita tenho capacidade de criar ramificações. No cinema e no teatro (Saulo também é dramaturgo), o escritor está a serviço de uma mecânica muito grande, envolvendo equipes, produtora, enfim. Na literatura tenho um universo de possibilidades, recursos ilimitados”, frisa.

Um dos contextos explorados no romance é um episódio pouquíssimo presente na historiografia do Brasil: a criação provisória do estado União de Jeovah, na década de 1950, pelo líder Udelino Alves de Matos, uma espécie de “Antônio Conselheiro” das bandas de cá.

Na época, o retirante baiano chegou ao distrito de Cotaxé, em Ecoporanga, e transformou-se em um posseiro de terra, assumindo o papel de liderança dos camponeses. Explodiu por lá até a década de 1960 o conflito conhecido como Contestado, motivado pela disputa de demarcações de terras.

Na condição de escritor, Saulo permitiu-se adaptar a história para um tempo mais atual, já que a história de “Os Incontestáveis” se passa em 2012.

“Transformo pessoas e autores importantes para compreender o conflito em nomes de rua ou personagens, como uma bibliografia camuflada. Aí entra uma influência direta dessa busca pela identidade capixaba. Busco contradições para entender o modelo posto para a gente hoje. Me servi da história para isso”, diz.

A intenção foi criar uma arqueologia da esteticidade do Espírito Santo. Questões que já chegaram a incomodar Saulo, nascido e criado em Pedro Canário, no extremo norte do Estado, foram cruciais para a construção do romance, que foge bem da alcunha de romance histórico.

“Os irmãos saem de Vila Velha para o circuito do Contestado. Essa identidade que busco discutir passa por isso no livro. São questionamentos do ser capixaba, do que eu sou, que são coisas que já me incomodaram bastante. Questiono, até por meio da obra, o que é identidade para nós que viemos do Norte”, conclui o autor.

Lançamento - Os Incontestáveis

Atrações: show com Salsa Brezinski & Agência de Viagem.

Quando: Sábado (23), das 18h às 22h.

Onde: Cousa Bar Café. Rua Sete de Setembro, 415, Centro, Vitória.

Entrada franca.

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Informações: (27) 99956-0277.

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