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Drag desde 1986, Chica Chiclete comemora 50 anos com festa

Drag desde 1986, Chica Chiclete comemora 50 anos com festa

Festa acontece neste sábado (21), com três DJs e 12 apresentações de drags capixabas

Publicado em 20 de julho de 2018 às 17:10

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Drag desde 1986, Chica Chiclete comemora 50 anos com festa. (Arquivo pessoal/Gazeta Online)

Enquanto o mundo tem RuPaul, que apadrinha e lança diversas drags no mercado mundial, o Espírito Santo tem Chica Chiclete, que há 32 anos abre espaço para a diversidade e é considerada uma das mães drags locais. Francisco Spala é o nome por trás dessa personagem, que hoje é uma marca registrada de sua própria personalidade. Desde a primeira vez que se "montou", em 1986, ele se sentiu realizado e, de lá para cá, decidiu nunca mais parar - e também não pretende fazer isso tão cedo.

Neste sábado (21), ele comemora seus 50 anos de idade com uma festa em um cerimonial de Vila Velha, a partir das 23h, mas o evento também brinda uma conquista para a comunidade LGBT do Espírito Santo: a liberdade. Sendo uma das primeiras drag queens que o Estado teve, Chica se vê como um exemplo e até se sente na obrigação de dar conselhos aos mais novos: "Tem muita gente no Espírito Santo lutando pela causa LGBT, mas senti que de uns anos para cá as pessoas ficaram desunidas... Mas estamos montando um grupo para que ele seja forte novamente".

E a festa promete ser ao melhor estilo Chica Chiclete, que sempre teve casas noturnas para o público LGBT, com três DJs e um palco para receber de braços abertos as drag queens da antiga e nova geração aos capixabas. "Vai ser uma festa para todo mundo se divertir, um momento para ser você mesmo e aproveitar ao lado de muita gente querida, que com certeza estará presente", adianta.

HISTÓRIA

Chica Chiclete teve seu début, da forma como se apresenta até hoje, quando Francisco ainda tinha 18 anos. Ela surgiu para um show na antiga boate "Querelle", que mais à frente veio a se chamar "Eros", e  ficava no Parque Moscoso, no Centro de Vitória.

"Eu queria ser a Gretchen. Eu era fã dela, fanático... Nas verdade, até hoje eu a adoro, né?", relembra. Naquele momento, Francisco se sentiu realizado e classificou o momento como "um sonho", em suas próprias palavras. Tanto que, atualmente, nem cogita a possibilidade de parar de se apresentar. "Até no dia do velório tem que ter o show de despedida", brinca.

E foram muitas apresentações até o dia da festa. Chica já comandou casas como a extinta "Queens", na Ilha da Fumaça, em Vitória, e o memorável Bar da Chica Chiclete, em Itaparica, Vila Velha, que chegou ao auge no início dos anos 2000 e alguns anos depois chegou ao fim.

Chica detalha que sempre se sentiu respeitada na forma de artista em todos os lugares pelos quais passou, até quando começou a atividade. Mas, até pelo tom de bom humor que é inerente à figura de uma drag, as pessoas imaginam que é fácil enfrentar os desafios da carreira.

"É porque a gente leva muito as coisas na brincadeira, mas desde aquela época a gente sabia que era discriminação. E hoje a população aceita só em termos", dispara. Para ela, inclusive, o preconceito piorou para, só depois, melhorar até chegarmos ao ponto em que estamos hoje.

CARA A TAPA

E realmente foram anos de muita luta. Ainda mais quando é comparado ao cenário atual, onde drags fazem sucesso nacional e mundial, com o que foi vivido nos anos 80. "Quando veio aquela onda de 'peste gay' a gente sofria muito", destaca, se referindo à época em que a aids era uma doença atribuída, apenas, aos homossexuais. "A gente, na rua, tinha vezes que era rejeitado, gente que não queria pegar na nossa mão porque tinha medo. Isso foi em 1985. Cerca de dez anos depois o cenário mudou e tudo começou a melhorar, porque nessa época, em 95, surgiram as primeiras organizações não governamentais (ONGs) de apoio e paradas gay", frisa.

De acordo com a drag, apesar de termos chegado a 2018 com um saldo positivo nessa batalha, a luta continua. Chica aponta que sentiu um distanciamento da comunidade LGBT de uns anos para cá, como se cada um estivesse representando em causa própria. "Separou um pouco... Mas eu bato palma para esses meninos novos que estão ai. Muitos conversam comigo, vêm falar comigo sobre tudo o que acontece... Me sinto, sim, um exemplo", conclui.

"CHICA É UM PATRIMÔNIO DO MOVIMENTO LGBT"

Para a presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos e presidente do Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (Gold), Deborah Sabará, Chica é um patrimônio do movimento LGBT do Estado porque representou liberdade em uma época que não se tinham os recursos que existem hoje. "Há algumas décadas nós frequentávamos boates e casas de shows gays para fazermos amizades, conhecer pessoas e trocar ideias", relembra.

A própria Deborah, hoje com 39 anos, já foi uma das que se espelhou em Chica quando ainda era adolescente. "Lembro de ficar na porta da boate esperando ela sair para conversarmos. Eu não podia entrar, porque era menor de idade, mas ela (Chica) dava toda atenção para todo mundo", revela. Ela conta que em determinado momento da noite a drag saía para falar com quem não entrava no local. "Falava dos cuidados, dos cuidados para ficar longe das drogas... Chica tem muita importância para muita gente", finaliza.

SERVIÇO

Aniversário 50 anos - Chica Chiclete

Onde: Cerimonial La Playa (Av. Est. José Júlio de Souza, Praia de Itaparica, Vila Velha)

Quando: 21 de julho (sábado), às 23h

Ingressos: R$ 15

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Mais informações: (27) 99721-5024

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