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Mercado plus size do Espírito Santo ainda é fraco, alertam modelos

Mercado plus size do Espírito Santo ainda é fraco, alertam modelos

Empresários capixabas ainda não enxergaram uma oportunidade em produzir roupas e produtos para a população gordinha, que já é maioria no País

Publicado em 22 de agosto de 2018 às 18:06

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Emanuela Andrade, modelo plus size, desfilou no Vitória Moda Ano 11 e abriu sua própria marca de roupas para gordinhas, em Vila Velha. (Reprodução/Instagram @emanuelaandrade)

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em pesquisa realizada em 2014, 54,1% dos brasileiros estão na faixa do sobrepeso e outros 20% estão obesos. No Espírito Santo, porém, o mercado ainda não enxergou a estatística como uma oportunidade, o que já aconteceu em outras capitais brasileiras. Estima-se que existam apenas cerca de cinco marcas que se dedicam à confecção de roupas de tamanhos especiais no Estado. Além disso, os empresários também não levam tão a sério o trabalho de modelos que se dedicam nesse ramo.

Desde o fim de 2015 a modelo Rayane Souza, de 27 anos, trabalha na profissão para o segmento plus size. Ela já ganhou títulos em concursos regionais e já competiu em nacionais. Ela ficou mais conhecida como "Mais Bela Gordinha do Espírito Santo" - faixa que conquistou em 2017. Rayane acredita que o cenário plus size já melhorou bastante por aqui, mas avalia que a cultura do corpo perfeito - e magro - também é muito forte entre os capixabas. "Há uns dois anos era algo que não existia (o plus size). Agora ao menos têm empresários que investem nesse ramo. Mas a cultura de corpo magro é muito forte no Estado. Então, querendo ou não, isso se transforma em uma barreira para que essa moda evolua", afirma.

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Tem muita coisa bacana acontecendo no mercado plus size e os empresários não enxergam essa oportunidade. E, nisso, o Espírito Santo fica atrasado

Rayane Souza, modelo plus size
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Para a modelo, esse problema se repete no sentido oposto: quando uma marca plus size existe, ela tem dificuldade de ser reconhecida pela sociedade. Ela conta que conhece aproximadamente quatro marcas que se dedicam a esse nicho no Espírito Santo. No entanto, como está em constante contato com essas empresas, vê que elas têm um obstáculo a vencer para se posicionarem.

Por outro lado, Rayane entende que muitas pessoas, por não conhecerem o movimento, entendem o plus size como uma apologia à gordura. "Mas não é", retruca, prontamente. "Estamos falando de autoestima da mulher plus size", completa. Segundo ela, muita gente associa o fato de se sentir bem com a estética. "Mas não é assim. Se fosse só isso, não teríamos modelos globais lindíssimas com anorexia e deprimidas", contrapõe. Para a modelo, o plus size trata muito mais de trabalhar dentro de si o que você é do jeito que é.

A modelo plus size Rayane Souza, de 27 anos. (Reprodução/Instagram @rayanesouzaplus)

PLUS SIZE MENTIROSO

"Eu queria muito que tivesse uma semana de moda só para o movimento plus size", destaca ela, criticando a padronização dos eventos de moda. "É porque muitas marcas colocam como plus size uma modelo com curvas, mais 'cheinha'. Mas não é isso. Eu quero ver uma mulher real, seja com 50 ou 90 quilos", desabafa. Rayane também conta que quando existe um evento no Estado que decide ilustrar o plus size, poucas marcas aderem à iniciativa. "Nós tivemos um evento de moda recente, que é o maior do Espírito Santo, em que apenas uma marca desfilou com uma modelo plus size", frisa.

Emanuela Andrade desfilou no Vitória Moda deste ano. (Reprodução/Instagram @emanuelaandrade)

A modelo que desfilou no Vitória Moda era Emanuela Andrade, a segunda entrevistada do Gazeta Online para esta reportagem. Emanuela diz que sempre foi gordinha, mas que também nunca teve problema com isso. Agora, aos 29 anos, ela carrega além da profissão e de uma empresa, quatro títulos de beleza - um nacional e três regionais. "Sou farmacêutica por formação e trabalho na área, também. Mas há uns cinco anos comecei a me aventurar nas passarelas e acabei conquistando essas faixas de concursos de beleza. Agora, estava há um tempo sem desfilar e fui convidada pela Hagaef - label de confecção do Espírito Santo - a ir para o Vitória Moda", detalha.

Para Emanuela, ainda existem olhares de reprovação, até no momento em que ela desfilou no evento que é considerado o maior do segmento do Estado. Por outro lado, ela avalia que muita gente já percebeu que as 'plus sizes' têm o mesmo direito de empoderamento dos outros perfis. Essa onda de posicionar-se à frente da figura e impondo respeito começou mais forte no Brasil, como um todo, no ano passado, e as modelos desse setor se engajaram nessas reivindicações, também.

Rayane também enxerga que o movimento de empoderamento ajudou as plus sizes: "Essa chegada do empoderamento feminino também falou muito do plus size, da questão do mercado da moda... Querendo ou não essas reprovações são uma barreira para que esse segmento evolua, porque incomoda muito, ainda, trazer a beleza da mulher gorda".

Rayane Souza, desde 2015, atua no mercado plus size do Espírito Santo. (Reprodução/Instagram @rayanesouzaplus)

CRIOU MARCA POR NECESSIDADE

Emanuela se sentiu na necessidade de criar uma marca de roupas própria. Segundo ela, lojas já não lhe serviam e, quando serviam, as roupas não a agradavam. "Eu tinha um problema imenso em encontrar roupas joviais em tamanho maior, e ai pensei de lançar a minha marca até porque imagino que muitas meninas sofram com esse obstáculo, também", diz.

Para ela, o mercado capixaba é muito fechado, o que deixa o Estado para trás nesse assunto. "Já fiz trabalhos no Rio de Janeiro e em São Paulo, e digo: é outro mundo, completamente diferente. O capixaba não viu esse nicho de mercado ainda", dispara. Ela ainda dá um panorama da sociedade atual e diz que esse seria mais um motivo de incentivo às lojas para que elas tivessem tamanhos maiores de todos os modelos: "Todo mundo sabe que a população engordou. Muita gente tem dificuldade de encontrar roupa e acho que esse é o pior aspecto. Eu amo moda, então gosto de me vestir com o que é tendência, com o que está em alta... E a gente não encontra".

A modelo é proprietária da Babadu, que nasceu há seis meses. Ela, que sempre teve um sonho de ter uma loja desse tipo, está instalada em uma torre comercial de um shopping da Praia da Costa. "Atendo só com horário marcado, então o atendimento já é diferente de uma loja convencional. E está vendendo super bem, logo de cara. Prova de que realmente o mercado carece disso. E são todas roupas que eu usaria, roupas que todas nós usaríamos", completa, dizendo: "Eu escolho todos os tecidos, modelos, estampas... Também quis deixar a minha personalidade nas peças".

Encontrar uma roupa também é uma dificuldade pela qual passa a publicitária Aline Zanardo, de 31 anos. Apesar de não trabalhar nesse segmento, ela vê que o mercado plus size do Espírito Santo realmente é fraco e, por mais que tenha dinheiro para comprar, não encontra tudo o que gostaria de vestir. "Então tem que se virar... Quero comprar uma roupa e não tem o meu tamanho. Eu mesma passo por isso", aponta.

A publicitária revela que já teve que ir a uma costureira, certa vez, para que ela reproduzisse um vestido que ela queria usar em um casamento. "Mas não tinha da marca que eu vi para comprar. Então tive que usar a inspiração feita por uma terceira pessoa, foi o jeito... E deu vontade de mostrar para a marca: olha aqui, as pessoas também acham interessante esse tamanho, mas eu comprei em outro lugar porque vocês não têm", finaliza.

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Acho que a internet, no geral, tem dado voz a mais pessoas, e a pessoas que não eram ouvidas antes

Aline Zanardo, publicitária
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Aline ainda afirma que muitas vezes as marcas plus sizes ainda padronizam um tipo de roupa só. "Algumas marcas só usam malha, por exemplo. Não sou militante da causa, vejo mais meninas comentando sobre o assunto, mas acham que toda gorda só usa malha? Nem toda gorda quer aquele tipo de roupa. Aqui no Espírito Santo não encontrei ainda uma marca que me represente", completa.

Por outro lado, Aline também reconhece que o cenário já foi bem pior por aqui. "Acho que a internet, no geral, tem dado voz a mais pessoas, e a pessoas que não eram ouvidas antes. Então essa gente que não tinha tanta representatividade, passou a ter, estão levantando polêmicas... E as marcas, de um jeito ou de outro, estão vendo tudo isso, pondera.

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Aline Zanardo é publicitária e enfrenta problemas para encontrar roupas com seu estilo. (Reprodução/Instagram @rockthistown_)

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