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'Você Nunca Esteve Realmente Aqui': a arte da violência

"Você Nunca Esteve Realmente Aqui": a arte da violência

Comparado a "Taxi Driver" e estrelado por Joaquin Phoenix, filme acompanha um assassino em sua jornada para salvar uma jovem

Publicado em 7 de agosto de 2018 às 23:28

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Filme "Você Nunca Esteve Realmente Aqui". (Supo Morgan Films/DIvulgação)

Nós, como consumidores de cinema, estamos acostumados à violência. Filmes como os das franquias “Jogos Mortais” ou “Noite de Crime”, para ficarmos em exemplos mais populares, há tempos nos entregam a violência como entretenimento, um recurso em muito popularizado pela violência estética de cineastas como Quentin Tarantino, por exemplo, ou pelo grafismo emprestado de histórias em quadrinhos.

Para impressionar o público, hoje, algo muito diferente deve ser retratado em tela: pode ser a crueza de um David Cronenberg (“Marcas da Violência” e “Senhores do Crime”), estilizada, como a de Nicolas Winding Refn (“Drive”), ou desejando o choque, como fez Gaspar Noé em “Irreversível” (2002). Fato é que filmar violência não é fácil – escolhas separam a violência impactante da galhofa.

ESTREIA

“Você Nunca Esteve Realmente Aqui” estreia no Brasil após sucesso nos circuitos de festivais independentes mundo afora. Dirigido por Lynne Ramsay (“Precisamos Falar Sobre Kevin”) e adaptado do livro homônimo de Jonathan Ames, o filme traz Joaquin Phoenix como Joe, um veterano de guerra que cuida de sua mãe doente trabalhando como um assassino de aluguel. Seus traumas, no entanto, têm mexido cada vez mais com ele, e os pensamentos suicidas se tornam cada vez mais constantes.

O filme tem início quando Joe limpa uma cena de crime e, pouco depois, recebe uma nova missão: salvar Nina (Ekaterina Samsonov), a filha de 13 anos de um figurão político. A jovem foi sequestrada e envolvida em uma perturbadora rede de pedofilia. Cabe ao protagonista, então, encontrá-la e resgatá-la do cativeiro.

A ambientação e a presença de uma menor envolvida em situações sexuais fizeram o filme ser comparado ao clássico “Taxi Driver”, de Martin Scorsese, mas Lynne Ramsay prefere seguir seu próprio caminho e imprimir ao filme sua assinatura.

A diretora escocesa aposta no silêncio e na trilha sonora para construir a tensão. A narrativa é cadenciada e oferece ao público tudo o que antecede e sucede a violência – a dita cuja, porém, não é vista em tela. Se por um lado a escolha pode frustrar o público ávido por ação, por outro funciona para aumentar o impacto. A edição quase em lapsos temporais reforça a sensação de que a violência é intuitiva, algo que faz parte de Joe.

PRECISO

“Você Nunca Esteve Realmente Aqui” é curto, com menos de 90 minutos de duração, o que aumenta seu impacto. Apesar do ritmo incomum, o filme não cansa. O roteiro tampouco enrola o espectador; os acontecimentos vão se sucedendo em tela, ação e reação.

Apesar da sinopse de um filme de ação, o longa de Lynne Ramsey funciona muito mais como um suspense. O texto traz poucas falas e diálogos, mas é cheio de reviravoltas e revelações importantes. Não é um equívoco comparar o filme a uma novela gráfica, as famosas histórias em quadrinhos. O filme faz muito uso de recursos visuais encadeados para contar histórias. Não é preciso um flashback ou uma exposição para entendermos que Joe é um ex-militar, tampouco é necessária uma narração ou a explicação de um vilão para o que o público perceba o que está acontecendo às meninas sequestradas.

O filme é tecnicamente conciso, mas impressionante. A trilha sonora de Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead e colaborador habitual de Paul Thomas Anderson, e a fotografia de Thomas Townend ajudam na sensação de estamos assistindo a um sonho perturbado – talvez ele nunca realmente tenha estado naqueles locais...

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“Você Nunca Esteve Realmente Aqui” não é um filme pop ou de fácil consumo, mas é preciso e forte como uma martelada, não por acaso a arma preferida de Joe. Um filme para colocar Lynne Ramsay entre diretores a serem acompanhados de perto.

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