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Aos 96 anos, Bibi Ferreira decide que não fará mais shows

Aos 96 anos, Bibi Ferreira decide que não fará mais shows

Apesar de não ter nenhuma doença, a idade avançada da cantora impede que ela tenha energia para cumprir uma agenda de apresentações como fazia

Publicado em 10 de setembro de 2018 às 12:48

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. (Reprodução/Facebook Bibi Ferreira)

Até o fim do primeiro semestre deste ano, a última notícia que se tinha de Bibi Ferreira era a de que ela seguia internada, com quadro estável, em um hospital do Rio de Janeiro. Na ocasião, tinha se hospitalizado para realizar exames quando a junta médica entendeu que a artista estava com sinais de desidratação. Agora, a cantora de 96 anos decidiu seguir com uma vida que seja a mais tranquila possível por conta da idade avançada, em casa - onde já está atualmente - e sem shows.

Na manhã desta segunda-feira (10), a cantora publicou em suas redes sociais uma mensagem que diz: "Um novo momento na vida de Bibi". Em suas próprias palavras, Bibi explicou que entender a vida é inteligente, embora ela nunca tenha pensado em parar: "Nunca pensei em parar, essa palavra nunca fez parte do meu vocabulário, mas entender a vida é ser inteligente. Fui muito feliz com minha carreira. Me orgulho muito de tudo que fiz". 

"APOSENTADORIA É OFENSA"

Em setembro do ano passado, em uma entrevista exclusiva ao Gazeta Online, Bibi recebeu a reportagem para o ensaio de uma apresentação que fez em Vila Velha, que aconteceu no Sesi de Jardim da Penha, em Vitória. Na ocasião, ela não pensou duas vezes antes de dizer: "Aposentadoria é uma ofensa", quando perguntada do momento em que decidiria parar. Assista: 

Na mesma oportunidade, o empresário de Bibi, Nilson Raman, havia confidenciado à reportagem que aquela seria a última grande turnê da cantora, que a partir daquele momento ficaria se apresentando apenas entre São Paulo e Rio de Janeiro. Ela fez o show "4X Bibi" em uma turnê de despedida. 

A mensagem, compartilhada também pelo empresário da cantora, ainda destaca o carinho que a artista sempre teve com os fãs e finaliza com um "muito obrigada" típico de Bibi. Leia: 

HISTÓRIAS E CANÇÕES

Último lançamento de Bibi, o CD "Histórias e Canções" destaca a trajetória que ela percorreu de quando nasceu, em 1922, até hoje.

Bibi Ferreira lança "Histórias e Canções" em CD e DVD . (Montenegro ENTITY_amp_ENTITY Raman/Divulgação)

“Lá, pelos meus 13, 14 anos”, brinca Bibi Ferreira quando se refere ao século XVII antes de cantar “By a Waterfall”, segunda faixa de “Histórias e Canções” – CD e DVD. A dama do teatro brasileiro remonta à infância e lembra de grandes nomes da música nacional e internacional. E, é claro, brinda o pai, o dramaturgo e diretor Procópio Ferreira, com óperas que levam uma interpretação com um toque diferente.

As árias cantadas por Bibi, apesar de respeitarem a harmonia composta por Verdi, Francesco Maria Piave e Gioachino Rossini, têm a letra alterada. Naquele momento, o grande passatempo dela, como a própria artista declarou, era encaixar os versos da MPB nessas obras centenárias. A paixão pelas óperas vem do pai, que enchia a casa de vinis com os mais requintados compositores. Assista trailer de "Histórias e Canções": 

Por outro lado, foi com a mãe, a bailarina Aida Izquierdo, que Bibi aprendeu cinco idiomas. E não é à toa que no neste álbum a artista dá show na interpretação de “Cuesta Abajo” e “Esta Noche me Emborracho”, dois sucessos do saudoso Carlos Gardel.

“Minha mãe exigia que eu falasse só espanhol em casa. E era o que eu fazia. E os tangos... O irmão da mamãe, tio Antônio, trabalhava na embaixada argentina no Rio de Janeiro. Ele ficava sabendo da chegada dos grandes astros argentinos ao Brasil, e esses cantores iam lá para casa para jantar. Eles cantando, afinando os violões, e eu lá, afinando os ouvidos”, disse.

"À LÁ AMERICANE"

Certa vez, Bibi brincou em um show dizendo que Piaf, cantora francesa que a artista também interpreta, dizia que as canções que ela traduzia para o inglês eram “à lá americane”. Coincidência ou não, a dama do teatro tem uma queda pelas canções americanas e percebe-se um quê de fã quando ela se apresenta nessas faixas.

“Sem dúvida Sinatra é com quem eu mais me identifico. Aos 11 anos me lembro de já escutar e ficar apaixonada pelo ritmo”, destacou. Seja pelo romantismo de Hollywood ou a Broadway “pé no chão”, como Bibi classifica o clima da avenida mais famosa de Nova York, “Nasty Man” e “By a Waterfall” foram as apostas do novo álbum para homenagear a música dos EUA.

MUSICAIS

No espetáculo, Bibi lembra dos musicais que já fez – mas também surpreende com os que quer fazer. “My Fair Lady”, “Hello, Dolly” e “O Homem de la Mancha” já estão na lista que ela coleciona de sucessos de bilheteria. No entanto, ela deixa clara a vontade de protagonizar em novas apresentações. “Vocês me subestimaram, mas eu ainda vou fazer”, disparou, às gargalhadas.

Cantando e contando, ela destaca “Memory”, do musical “Cats”, “America”, de “West Side Story”, e “My Favorite Things”, da “Noviça Rebelde” – cantadas em um fino inglês, of course.

ERA DO RÁDIO

Enquanto nos Estados Unidos a população aplaudia as superproduções dos espetáculos mais famosos do mundo, aqui, no Brasil, Bibi se lembra de Orlando Silva, Francisco Alves, Ângela Maria e Elizeth Cardoso.

“Todos primavam por um repertório de extremo bom gosto”, diz. A dama do teatro interpreta “Nossos Momentos”, “Onde Anda Você”, “Nem Eu”, “Meiga Presença”, “As Praias Desertas” e “Eu Sei Que Vou te Amar” para ilustrar a passagem dos anos 1940 no país.

"E NÃO VAI TER PIAF?"

Apesar de ser fã mesmo da música americana, foi interpretando a francesa Edith Piaf que Bibi fez o que é o considerado um dos maiores sucessos da própria carreira. “Em todo show tem uma pergunta que não falta: ‘ué, mas não vai ter Piaf’”, contou, interpretando, também, até a forma como o público reage.

Aspas de citação

O que tinha que estar nesse show está. E de todas as histórias, as que lembram meus pais são as mais importantes

Bibi Ferreira, de 95 anos
Aspas de citação

Com a participação do empresário, Nilson Raman, ela canta “À Quoi ça Sert L'Amour”, “La Vie en Rose”, “L’Hymne a L'Amour” e “Non, Je Ne Regrette Rien”. E é na “vida cor de rosa” que ela recebe, ainda, mais palmas. Aliás, se for certa a teoria de que “La Vie en Rose” foi feita em dedicatória a uma paixão da francesa, esse sentimento irradia na letra imortal da canção que faz sucesso até hoje.

“Grande compositora. Ela era singular na música”, disse, se referindo a Piaf. “Ela só gostava de duas coisas na vida: cantar e amar. E amar no sentido prático. Sempre tinha um amante, um namorado. O último amor de Piaf tinha metade da idade dela – essa sorte, por exemplo, eu não tive”, conta, às gargalhadas.

Com exclusividade, o Gazeta Online conversou com Bibi Ferreira, que revelou detalhes do que significa "Histórias e Canções" para sua carreira.

Durante ensaio para o espetáculo "4X BIBI", a artista recebeu o Gazeta Online, em 2017. (Pedro Permuy)

No disco, você fala muito dos seus 13 e 14 anos, até em tom de brincadeira. Mas, de fato, nessa idade você teve algum contato com a música que te marcou? Seu pai já te apresentou à ópera nessa época?

Sim, muita coisa aconteceu nessa época. Eu cantar na Radio Ipanema, fazer o filme Cidade Mulher, onde cantava uma musica do Noel Rosa. Alias, fui ensaiado por ele. E papai me apresentou o de melhor na musica, nas letras, no teatro, sempre. Desde que me conheço por gente, papai era referência para mim. As operas foi o tempo todo que morei com ele. Ele chegava da rua com aqueles bolachões e ficava ouvindo direto

Falando em ópera, você destaca que hoje passa o tempo escrevendo letras de músicas populares que se encaixem em árias famosas. De onde saiu essa ideia? Você acha que de alguma forma isso incentiva as pessoas a se interessarem mais pelos clássicos?

Para mim é uma grande brincadeira que faço, só isso, que surgiu dessa época do papai, pois ouvia as óperas e ainda não as entendia. Brincava de cantar com letras que eu sabia. Sem nenhum objetivo intelectual ou de promoção da música clássica, mas que é muito divertido juntar Vedi com Leandro e Leonardo, é! Exercito a inteligência...

No CD, você parece inclinar um pouco mais para as músicas americanas. Em "By a Waterfall", por exemplo, a interpretação é emocionante. Realmente há um amor maior por essas músicas? (Vale lembrar a sua interpretação em Ol' Man River, também)

Eu conto no DVD, as musicas americanas foram minha primeira influencia e referencia de fato. Esse é o som que gosto. Adorei fazer o Sinatra por causa disso. Meu maestro foi mais para o jazz, como em queria, em relação aos arranjos do Sinatra. Ficou deslumbrante. Você vai ouvir no CD. Adorei o resultado

"Histórias e Canções" vai rodar algumas cidades do Brasil, ainda, depois de lançados CD e DVD? Que tal uma visita ao Espírito Santo? (Risos)

Não, esse espetáculo já acabou há anos, depois já fiz três novos espetáculos. Agora estamos em cartaz com "Por Toda a Minha Vida", voltando ao repertório brasileiro. Está muito bom de fazer. Agradeço o convite do Espírito Santo. Adoro Vitória

Ficou alguma história de fora do CD? Algo que tenha te marcado muito, também?

Não. O que tinha que estar nesse show está. E de todas as histórias, as que lembram meus pais são as mais importantes

SERVIÇO

"Histórias e Canções", de Bibi Ferreira

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Valor: R$ 34,40 (CD) e R$ 46,40 (DVD) no site da gravadora Biscoito Fino

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