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Consolidados na música, Emicida e China estreiam na literatura infantil

Consolidados na música, Emicida e China estreiam na literatura infantil

Emicida lança Amora, e China, Carlos Viaja. Livros foram elogiados pela crítica especializada

Publicado em 19 de setembro de 2018 às 14:19

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Emicida fala de respeito ao próximo e da beleza de pequenas coisas em 'Amora'. (Ênio Cesar/Divulgação)

O rapper Emicida acaba de lançar o livro Amoras. Recentemente, o cantor e compositor China também estreou na literatura com Carlos Viaja. Ambas as obras foram pensadas especialmente para o público infantil. O fato de dois nomes da música brasileira terem escrito seus respectivos livros de estreia voltados para crianças não passa, claro, de uma feliz coincidência. O paulistano Emicida e o pernambucano China vêm de universos, inclusive musicais, diferentes - e, inevitavelmente, acabaram transferindo as próprias vivências em suas escritas.

Amoras, o livro, foi inspirado em Amoras, o rap - e em toda sua singela atmosfera. Na história que ganhou as páginas do livro, o passeio de um pai com sua pequena por um pomar e a descoberta que as amoras "quanto mais escuras, mais doces" mostram a importância de se dar atenção a pequenas coisas do mundo. Mas, sendo o autor, antes de tudo, um rapper engajado, há outros subtextos nessas linhas. Fala também sobre respeito, sobretudo às diferentes religiões, culturas. "E diferentes pessoas", completa Emicida. "Minha mãe uma vez na adolescência me perguntou se todas as pessoas eram iguais e eu respondi prontamente que sim. Ela me corrigiu dizendo que não, que todas as pessoas eram diferentes, mas que precisavam era de direitos iguais. Quando convido os pequenos a conhecerem de forma colorida e divertida outros mundos diferentes do que eles estão habituados, acho que consigo criar uma raiz que, se bem alimentada, vai dar frutos maravilhosos como crescer respeitando o outro."

Esse colorido ganha vida nas ilustrações de Aldo Fabrini, que acompanham os textos curtos que vêm em rimas simples e poéticas. Influência do rap? "Do rap, óbvio, mas também da literatura de cordel que é algo pelo qual sou apaixonado", ele responde. Emicida lembra de sua formação como leitor e como sua mãe foi importante nesse processo. "Eu odiava (livros) no começo, não tinha relação nenhuma. Amava televisão e fliperama, porque videogame em casa era coisa de rico. Minha mãe voltou a estudar e ela foi quem anistiou os livros e eles puderam circular livremente lá em casa", conta. "Quando conheci as histórias em quadrinhos, o mundo mudou para mim, aquilo abriu minha mente para mil histórias diferentes e nunca mais parei. Foi uma questão de tempo entre ler apenas quadrinhos e depois sair lendo tudo que dessem na minha mão. Então, em resumo é o seguinte: assim como os alimentos, os livros precisam estar lá e ao alcance das crianças."

É o que ele coloca em prática com sua filha mais velha, Estela, de 8 anos - ele é pai também de Teresa, que nasceu em junho. "Compro bastante livros para ela e para mim também, e vou deixando sempre em lugares que ela alcança, livros bacanas sobre tudo, desde o continente africano até poemas de Minas Gerais", diz. "A paternidade me transformou numa pessoa completamente diferente do que eu era. Foi através da mão e do olhar das minhas filhas que vi a importância de ser um ser humano melhor e me esforçar a cada dia para ser esse ser humano."

Emicida concorda que ser compositor facilita o processo de se tornar escritor. Mesmo não sendo tão simples, acrescenta. "Para mim, tudo só funciona se eu fizer como se estivesse fazendo música", conclui ele. Para China, "são coisas bem diferentes na hora de colocar as palavras no papel". "Mas na parte de criar, imaginar, é um processo parecido." Emicida já tinha ideia de escrever um livro. China, não. O projeto Carlos Viaja nasceu durante a viagem de carro, de São Paulo (onde o cantor mora) a Olinda (sua terra natal), que ele fez com a mulher, os filhos e seu cachorro Carlos, o protagonista da história. "Não tinha planejado nada, não rascunhei nada. Um dia estávamos na Chapada Diamantina e fiquei olhando Carlos correr de um lado pro outro na floresta, feliz da vida, e aquela cena veio como um estalo, então comecei a escrever a história. O livro nasceu naquela tarde. Quando voltamos pra São Paulo, terminei o texto", conta.

China se inspirou nas viagens com o cachorro Carlos para a estreia na literatura . (Leco de Souza/Divulgação)

Aquela foi a primeira longa viagem de Carlos. A família ia sair em férias e decidiu não deixá-lo sozinho em um hotel para cães. E, ao longo do caminho, que incluiu passagens por Minas e Bahia, China foi observando Carlos. "Foram muitas aventuras para o meu cão. Foi a primeira vez que Carlos viu o mar, o rio, andou sem coleira, interagiu com animais de outras espécies, brincou na areia e farejou muitos cheiros diferentes. Eu realmente fiquei curioso com esse mix de sensações que ele estava sentindo e assim a história foi acontecendo. Tudo o que tem no livro é a narrativa dos fatos que Carlos vivenciou", afirma ele, que tem dois projetos musicais voltados para crianças.

Integrante da banda Del Rey, China reconstituiu a trajetória de Carlos, e todas suas reações, surpresas e possíveis pensamentos, também em textos rimados. E, assim como aconteceu com Emicida, a influência do cordel foi forte. No caso de China, da mãe cordelista. "Mas não segui as regras das contagens de sílabas do cordel, deixo isso pra quem entende bem do assunto, como a minha mãe. Preferi usar rimas livres para dar esse primeiro passo no mundo da literatura", afirma. "Desde sempre, minha mãe me enche de cultura e informação. Seja contando histórias quando eu era pequeno, me fazendo gostar de ler, mostrando os vários caminhos que uma história pode ter. Eu lia muito cordel e gibi em casa quando era pequeno, mas gostava mesmo quando ela contava essas histórias pra mim. Aquelas entonações na voz, a fala de cada personagem, isso tudo era muito gostoso e eu viajava na imaginação."

Em Viaja Carlos, a escrita de China, detalhista na descrição das cenas, vem acompanhada das ilustrações da cantora e amiga Tulipa Ruiz, que deu contornos divertidos à jornada desse herói, que transita entre o cenário urbano e o sertão nordestino com a mesma curiosidade e alegria. "Tenho feito muita contação de histórias do livro para crianças e eles me perguntam coisas sobre a viagem e sobre Carlos, que eu nem imaginava que esse livrinho abrisse um universo lúdico tão grande na cabeça da molecada", diz ele. E virão novas aventuras do Carlos? "Agora estamos planejando ir ao Uruguai de carro e, claro, Carlos vai junto. Quem sabe não pintam histórias internacionais para esse cachorrinho?"

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