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Exposição em Vitória discute o racismo sobre o corpo da mulher negra

Exposição em Vitória discute o racismo sobre o corpo da mulher negra

"Malungas" usa de várias técnicas artísticas para retratar de que forma o racismo influencia na integridade do corpo de uma mulher negra

Publicado em 25 de setembro de 2018 às 13:55

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Cena da vídeoinstalação de Charlene Bicalho para a exposição "Malungas", no Mucane, em Vitória. (Malungas/Divulgação)

Corpos afropoéticos serão representados de 26 de setembro a 9 de dezembro, no Museu Capixaba do Negro (Mucane), no Centro de Vitória. Afropoéticos porque as três artistas que participam da exposição coletiva "Malungas" retratam a violência que esses corpos sofrem, no mais amplo sentido da palavra, de forma poética. A arte que será exibida no local - entre fotografias, performances e videoinstalação - procura refletir sobre essas relações cotidianas do negro na sociedade e de que forma o racismo interfere na integridade do organismo.

Para Charlene Bicalho, umas das artistas que participam da exposição "Malungas", cada trabalho exposto abordada uma violência simbólica, física e dos movimentos desses corpos em trânsito. Além dela, participam da "Malungas" as artistas Castiel Vitorino e Kika Carvalho.

Charlene explica que as artes que estarão no Mucane trabalham várias poéticas, o que amplia o leque de abordagem para quem for visitar a exposição. "O Mucane, naturalmente, é um espaço onde acontecem outras exposições, mas os editais são para ocupação do espaço. Quando nós três (artistas) nos juntamos, resolvemos falar das nossas questões por meio das artes visuais", completa.

A videoinstalação que Charlene apresentará retrata a forma como o racismo interfere na integridade do corpo negro feminino na sociedade como a que vivemos hoje. "O racismo tem afogado, sufocado várias mulheres. Até no sentido físico, de fato, de uma morte. Nós estamos no segundo Estado (o Espírito Santo) com o maior índice de feminicídio do País. Mas tem a violência psicológica, também, que é silenciosa", lamenta.

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A violência vem do racismo velado do cotidiano, que eu acho que tem muito. E nós, negras, sentimos isso na pele todos os dias

Charlene Bicalho, artista que participa de exposição no Mucane
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Para a artista, o que a exposição pretende fazer, no geral, é retratar toda essa problemática por meio da arte e fazer com que os visitantes possam se inteirar melhor da situação. "É uma estratégia de visibilidade e também de buscar uma cura em coletivo, porque cada uma dessas mulheres artistas trabalha com outras mulheres, com outros negros e não negros, também", acredita.

Charlene acredita, inclusive, que o fato de a exposição ser coletiva é bastante positiva nesse quesito de compartilhamento: "Poder trocar com outras pessoas comuns as próprias experiências é importante. É um movimento de fortalecimento".

Cena da vídeoinstalação de Charlene Bicalho para a exposição "Malungas", no Mucane, em Vitória. (Malungas/Divulgação)

Castiel vai apresentar seu "Quarto de Cura", que demorou um ano para ser construído. Esse trabalho discute os processos de cura por meio de elementos da natureza, trazendo a ancestralidade para a arte. "Quarto de Cura" contou com a orientação, até, da benzedeira Yasmin Ferreira para ser concluído.

"Investigo com o meu corpo a complexidade da minha própria existência, que, inclusive, só existe por conta da coletividade que está inserida. Sou um corpo que experimenta de modo singular os sintomas desse mundo que se e nos adoeceu ao criar o racismo", reflete Castiel.

Kika trata da violência contra a mulher. Para isso, apresenta um trabalho com 60 peças esculpidas em cerâmica e pintadas em tanino, que também é usado na confecção de panelas de barro. "A escolha do material veio de uma provocação para unir 'duas tradições' capixabas: a panela de barro e o feminicídio", lamenta.

Parte do trabalho de Kika Carvalho para a exposição "Malungas", no Mucane, em Vitória. (Malungas/Divulgação)

SERVIÇO

"Malungas"

Onde: Museu Capixaba do Negro "Verônica Pas" (Mucane) - (Avenida República, 121, Centro de Vitória)

Quando: terça-feira (25), às 19h (abertura); exposição em cartaz de 26 de setembro a 9 de dezembro, de terça a sexta-feira das 13h às 18h, e sábado das 10h às 14h

Entrada franca

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Informações: (27) 3222-4560

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