Vira e mexe alguns diretores de cinema experimentam fazer a transição para as telinhas. Muito disso se deve à extinção dos filmes de médio orçamento, que permitiam maiores experimentos narrativos para contar história e criar produtos mais autorais. David Fincher se encontrou em séries como House of Cards e Mindhunter; já Sam Raimi conseguiu trazer seu universo de terror com perfeição a Ash vs Evil Dead. Eis que chegou a vez de Brian Taylor, diretor dos dois Adrenalina, com Jason Statham, se juntar ao quadrinista escocês Grant Morrison para fazer essa transição e levar para as telas, de forma surtada, a adaptação da HQ Happy!, de Morrison.
Disponível na Netflix, Happy! conta a história de um ex-policial, Nick Sax (Christopher Meloni), que agora trabalha como um assassino de aluguel que passa, após quase se deparar com a morte, a ver um unicórnio colorido chamado Happy (Patton Oswalt/voz). Como se nota, a série é estranha no melhor sentido da palavra, trazendo elementos fantásticos a um universo de gangues e máfias.
Taylor é diretor de cinco dos oito episódios, além de ser o showrunner (quem comanda a produção). Isso faz com que o estilo da série esteja profundamente ligado ao DNA do diretor: desenvolvimento frenético da narrativa, movimentos de câmera horrorosos, violência gráfica, humor imaturo e cenas de ação aceleradas, isso sem nunca cair na bagunça visual. Poderia ter virado uma bagunça, mas acabou por ser uma das mais gratas surpresas de 2018.
Mesmo com a diversidade de elementos variados, a obra consegue ter coesão através do contraste: a inocência do unicórnio se opõe à violência e à desesperança de Sax. Tudo isso envolto em muito humor que garante boas (e altas) risadas, e em uma violência tão exagerada que acaba sendo cômica. Claro que nada disso funcionaria se ambos os personagens não se entregassem a seus papéis.
Meloni faz um personagem totalmente detestável, violento e mau-caráter, mas, com seu carisma, consegue ter a simpatia do público mesmo quando toma atitudes extremamente reprováveis. O protagonista funciona como uma mistura do Marvin, de Sin City, com Ash J. Williams, de Ash vs Evil Dead. Já Happy é o extremo oposto, a personificação da inocência em um mundo podre vê-lo se corromper gera uma das cenas mais engraçadas da série.
Se for pra pontuar um defeito, a série carece de foco, pois duas tramas centrais são apresentadas no início na temporada, e uma delas é totalmente esquecida no decorrer da história. Felizmente, a série rapidamente se encontra e a partir daí é só alegria, com o perdão do trocadilho.
Happy! é um do melhores produtos lançados este ano na Netflix, mas não é uma série fácil. Seu humor e sua escatologia podem espantar os mais puritanos, mas devem acertar em cheio os que gostaram de Preacher ou Ash vs Evil Dead e querem uma diversão escapista, divertida e levemente perturbada.
Confira o "first look" trailer da segunda temporada (cuidado com os spoilers):
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