> >
'Não deixa de ser um disco revolucionário', diz Gal Costa

"Não deixa de ser um disco revolucionário", diz Gal Costa

Com inúmeras parcerias e canções inéditas, a porta-voz da Tropicália reafirma sua relevância aos 53 anos de carreira com o lançamento de novo disco

Publicado em 5 de outubro de 2018 às 19:01

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura

Uma das maiores cantoras da música brasileira, Gal Costa tornou-se porta-voz da Tropicália no final da década de 1960, quando o coletivo buscava universalizar a linguagem da MPB reunindo elementos como o rock, a guitarra elétrica e a psicodelia. Incríveis 50 anos depois, a cantora soteropolitana mostra por que se manteve relevante. 

Em meio à instabilidade política e ao caos pré-eleição, Gal acaba de lançar "A Pele do Futuro", 40º disco em 53 anos de carreira. No trabalho, com produção assinada por Pupillo (Nação Zumbi), a baiana reúne "cicatrizes desenhadas pelo tempo, feridas que se fizeram e se curaram depois de uma vida de consagrações e quedas, voos e naufrágios, descobertas e desgastes, desencontros e retomadas", como escreveu o diretor artístico Marcus Preto, no texto de apresentação da obra. 

Com nome inspirado em um verso de "Viagem Passageira", de Gilberto Gil, o álbum revela uma Gal totalmente mergulhada na disco music, estilo pelo qual nutriu muito apreço graças às saudosas casas noturnas setentistas. "Eu pedi ao Pupillo que tivéssemos essa pegada bem dos anos 1970, como aquelas músicas de discoteca que eu adorava. Sempre tive vontade de gravar assim", diz a cantora, em entrevista por telefone ao Gazeta Online

O curioso é que o ponto de partida para a concretização do trabalho foi uma influência do filho adolescente de Gal, Gabriel, que despertou na mãe a sensação de que a black music estava de volta com tudo. O desejo antigo fez com que o ícone reunisse pérolas inéditas compostas por ninguém menos que Gilberto Gil, Guilherme Arantes, Marília Mendonça, Emicida, Hyldon, Silva, Jorge Mautner e Erasmo Carlos. 

Confira o bate-papo com a cantora:

O caminho pela disco music já era um desejo antigo?

Já era! Embora eu tenha sido empurrada por meu filho, que agora ouve músicas dos anos 1970. Quando peguei o Gabriel (filho) ouvindo, pensei "vou fazer!". É realmente algo que sempre quis. Chamei o Marcus e falei que queria fazer uma sofrência em ritmo de dance music. Falei com ele para chamarmos a Marília Mendonça, que queria pedir uma canção para gravar em ritmo de discoteca, aí mandamos mensagem para um celular que nem era dela, veja só! (risos). Mas o Marcus deu um jeito, entrou em contato com os compositores amigos dela e resolvemos. Eles me mandaram não uma, mas dez músicas... Um disco inteiro! Escolhemos e chamei ela para gravar.

É uma parceria muito simbólica, não é? Você disse nesta semana que chegou a receber comentários negativos por se aliar a uma artista do sertanejo...

Essas parcerias têm se dado através do Marcus. Mas essa questão do preconceito ou não com a música... eu sou tropicalista. O próprio tropicalismo ajudou a quebrar muitos preconceitos, exaltou compositores geniais da música popular, como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. O tropicalismo quebrou a barreira para vários gênios, mostrou que eles eram bons. Eu não tenho preconceito. E acho que a Marília é uma cantora sertaneja bem diferenciada, tem uma maneira de cantar muito particular, porque muitos sertanejos cantam de maneira parecida. Com a Marília não tem isso, ela é puro rock and roll! Até por isso nos demos tão bem.

Você buscou a voz "joãogilbertiana" que marcou o início da carreira. Como foi retornar a essas referências do próprio passado?

Eu não me importo de retornar, até gosto. Foi uma passagem da minha carreira, faz parte de todas essas coisas que existem no meu trabalho. Resolvi cantar daquele jeito porque a música me levou a ser assim e a fazer dessa forma.

"Palavras no Corpo" foi musicada pelo músico capixaba Silva. Como se deu essa parceria?

Eu estava conversando com o Omar, filho do Waly Salomão, com quem trabalhei muito e fiz muitas coisas importantes. Nessa conversa, ele disse que "Fa-Tal" e "Sua Estupidez" eram lindas, e que ninguém dizia "eu te amo" como eu. Pedi, então, para ele escrever algo para que eu gravasse. Ele fez, o Marcus pediu para o Silva musicar, e virou uma canção que eu adoro.

Em uma apresentação recente, você brincou dizendo que apesar de ter passado dos 70 anos, ainda tem muita lenha para queimar. Como se sente lançando "A Pele do Futuro" em um momento como o que vivemos agora?

O disco acabou ficando alegre, né? Eu acho muito bom porque é um contraponto ao mundo de hoje. Não digo apenas o Brasil de hoje, mas... tá tudo muito esquisito. Parece que o mundo quer acabar, que o apocalipse está chegando. Esse disco tem um alto astral, na verdade, num tom que vem para exorcizar esse momento, esse baixo astral em que o mundo se encontra - e também o Brasil. Não deixa de ser, na minha opinião, um disco revolucionário. Ser revolucionário não significa só ser militante. Você pode ser o contrário, no sentindo de fazer oposição, e isso já é uma militância, já é política de certa maneira. Quero que o disco divirta o tempo todo.

Confira

Este vídeo pode te interessar

A Pele do Futuro, Gal Costa. Biscoito Fino, 13 faixas. Disponível nas plataformas de streaming.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais