O maior problema de Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald é ironicamente o que torna possível a sua existência: ser parte do universo Harry Potter criado pela escritora J.K. Rowling universo que ela agora chama de Wizarding World (O Mundo Mágico, em tradução livre) justamente para fugir da figura central de seu protagonista inicial.
O problema, diga-se de passagem, não chega a ser um problemão para a maioria, pelo contrário: é ótimo estar de volta àquele universo em que boa parte dos adultos hoje entre 20 e tantos e 30 e poucos anos passou sua adolescência. Mas onde, então, reside o tal problema?
O problema é o cânone. É difícil mexer em algo tão consolidado e com tantos fãs quanto os livros/filmes protagonizados por Harry Potter. Pouco importa que a roteirista do filme seja a própria J.K. Rowling, a pessoa que criou tudo isso.
Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald começa não muito após os acontecimentos de Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016). O filme tem início com a empolgante fuga do vilão vivido por Johnny Depp pelos céus de Nova York. Depois de uma participação mínima no primeiro filme, Grindelwald é quase protagonista aqui, como o título do filme sugere. Acompanhamos sua jornada para conquistar seguidores e, principalmente, para que o poderoso Creedence (Ezra Miller) permaneça ao seu lado.
Do outro lado da fórmula está Newt Scamander (Eddie Redmayne), que ainda convive com as consequências de seus atos no primeiro filme e agora tem que lidar com o irmão Teseus (Callum Turner), um auror prestes a se casar com Leta Lestrange (Zoë Kravitz), ex-colega de Newt em Hogwarts. Os coadjuvantes do primeiro filme Tina (Katherine Waterson), Queenie (Alison Sudol) e Jacob (Dan Fogler estão de volta, mas com papéis de pouco destaque. Quem ganha importância na trama é Alvo Dumbledore (Jude Law), que com certeza terá ainda mais relevância nos próximos filmes.
O passado do poderoso professor e sua relação com Grindelwald são brevemente explorados em alguns diálogos e curtas lembranças. De forma geral, o texto de Rowling e a direção de David Yates (que já dirigiu seis filmes do universo mágico) preparam o terreno para algo maior, o que pode causar em alguns uma sensação de incompletude.
CARISMA
A ótima atuação de Depp, finalmente livre de Jack Sparrow, transforma Grindelwald em um personagem bem desenvolvido e carismático. O texto não faz dele um monstro e seu discurso de liberdade, mesmo que isso signifique o sacrifício dos mais fracos, faz dele um populista perigoso e de inegável (e atual) apelo.
Newt, em contrapartida, continua, na maior parte do tempo, distante do público, que é induzido a gostar dele mais por conta de seus animais fantásticos do que por seu próprio carisma. O texto ainda dá uma humanizada no personagem ao explorar seu passado com Leta e seu presente com Tina, mas ele é elipsado pelos arcos do vilão e de Dumbledore, antagonistas que, no final das contas, terão papéis mais essenciais no mundo bruxo.
NARRATIVA
Voltando ao início, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald não se sustenta sozinho. Todavia, isso pouco significa em um mundo cada vez mais acostumado às narrativas em série. O filme, como parte de algo maior, cumpre bem a função de ligar os mundos mágicos e real, além de deixar claro que algo grandioso está por vir. É um filme feito para os fãs, mas que tem a dura missão de fazer esses mesmos fãs aceitarem novidades. Não é fácil, mas a jornada promete ser recompensadora.
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