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Crítica: a viagem psicodélica de André Prando em 'Voador'

Crítica: a viagem psicodélica de André Prando em "Voador"

Em segundo disco completo, André Prando investe em ambientações e mistura de ritmos

Publicado em 22 de novembro de 2018 às 16:36

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Músico André Prando. (Stefany Pollak)

Já chegou o disco voador! Após três anos de espera, o músico capixaba André Prando lança o aguardado sucessor do excelente “Estranho Sutil” (2015), o “Voador” (2018, Sony Music). Com produção de JR Tostoi (Lenine) e Henrique Paoli, o disco é, além de uma obra pessoal, uma construção coletiva em torno de Prando.

“Voador” é um disco interessante e melhor do que tudo que André Prando já fez até hoje. Ele aglutina novas influências, mas mantém sua identidade bem marcada principalmente nas letras, que acima de tudo tratam questões de desenvolvimento da sociedade, do indivíduo e de espírito.

Outro traço interessante do álbum é a mistura de estilos. Pensado como um long-play (o velho vinilzão), o disco tem em seu “Lado A” um rock psicodélico e no “Lado B”, há a presença marcante do Prando do “Estranho Sutil”, mas com uma clara influência do rock mineiro do Skank e Clube da Esquina.

LADO A

O disco começa com dois pés na porta com a potente “Ode À Nudez”. A música foi a escolhida para ser o primeiro single do álbum justamente por mostrar uma nova fase. A seguinte, “Em Chamas no Chão”, não deixa cair a bola. Com excelente participação da cantora gaúcha Duda Brack, a música tem uma alternância de estilos que vão do ska até stoner rock. O refrão marcante, “Abram alas que eu aprendi a voar”, te faz sentir com vontade de fechar os olhos e viajar (sentimento que se repete algumas vezes).

Em “Concha”, as guitarras lembram Tom Waits e são comandadas por Gabriel Ventura (Ventre, Posada e o Clã, Cícero, Xóõ), que marca a presença mais pronunciada dentre todos os convidados.

“Catalepsia Projetiva”, que poderia ser trilha de um filme de suspense, é uma descrição de uma experiência de paralisia do sono. A canção impressiona ao criar um ambiente muito próximo da sensação de se estar preso no próprio corpo. A faixa conta com a participação de Edu Szajnbrum, responsável pela percussão no disco.

“Eu Vi Num Transe”, o segundo single, é um hino; com letra de Santiago Emanuel e com participações do paraense Lucas Estrela, na guitarra, e de Francisco Xavier, no sitar indiano, a música descreve um futuro utópico em que as pessoas são boas, há paz e amor, a arte é valorizada e os espíritos são livres. Prando mostra um lado mais crítico, dialogando com a atualidade de forma natural, por meio de poesia.

A faixa que termina o “lado A”, “Salve seu Brother”, é um mantra que traz a face mais psicodélica do disco. A música inclui sons da natureza que fazem mais uma vez ter vontade de fechar os olhos e aproveitar a viagem.

LADO B

Abrindo o “lado B”, a excelente “Fantasmas Talvez” é um retorno ao rock mais característico da carreira de André Prando. Com um início com um folk rock com, ela lembra muito a fase “Cosmotron” do Skank, com refrão pop e cantarolável. “Musa dos Cetáceos” tem participação do multi-instrumentista mineiro Mario Wamser e traz riffs muito agradáveis. A tranquilidade da música é refletida quando Prando canta “Já parou pra mensurar/ quanta calma a Lua traz?”.

A nona música do disco, “Moro No Interior Do Mundo” é uma potente crítica tanto a um bairrismo quanto a uma desvalorização do que é da terra: “moro no interior do mundo/ Onde não se fala de outra coisa/ a não ser das coisas do interior do mundo/ dos anteriores que internalizaram”, canta Prando no refrão. O tom de crítica continua com “Ave Machinaria”, em que Prando analisa a distância entre as pessoas causadas pelas tecnologias.

“Na Paz Do Caos” traz com força um elemento caro à discografia de Prando: a brasilidade que pulsa com a percussão de Edu Szajnbrum e a participação de Luiz Gabriel Lopes na voz. A faixa é marcada por uma mensagem positiva e um clima de paz, uma música que te faz fechar os olhos, olhar pro sol e sorrir.

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“O Mundo Com Tudo Que Há”, que fecha o disco de forma quase cíclica com “Ode À Nudez”. Não num sentido musical, mas em algo maior. Enquanto em “Ode …” Prando percebe diferentes pontos de visão e o que há por trás de nossas próprias máscaras, em “O Mundo ...” ele mostra em toda sua potência o amadurecimento, como nos versos “e eu aprendi dentro de mim/ A me defender de nãos, de sins,/ de vezes em quando”. A faixa, além de mostrar o ciclo do artista e os ciclos da vida, deixa claro o objetivo de André Prando: “o mundo com tudo que há”.

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