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Mês da Consciência Negra: comunidade luta por representatividade na arte

Mês da Consciência Negra: comunidade luta por representatividade na arte

Lideranças se incomodam com a falta de representatividade em obras culturais

Publicado em 12 de novembro de 2018 às 19:02

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É um combate diário. A cada caso de discriminação provocado pelo preconceito é um passo para trás que nós damos sem querer

Jackson Ferreira, administrador do Odomodê
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No próximo dia 20 é comemorado o Dia Nacional da Consciência Negra. A data é dedicada à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira e foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Mas como anda este cenário no Espírito Santo? Quais são as lutas da comunidade negra após mais de 323 anos da morte de Zumbi, ainda mais nas artes?

Segundo os dados de órgãos nacionais, o cenário não dá margem à comemoração. No Brasil, a cada 23 minutos um negro é morto só pela cor da própria pele. No Espírito Santo, de acordo com os dados do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência de 2017, jovens negros são os que mais morrem. Enquanto a taxa de homicídios de jovens brancos no Espírito Santo, em 2015, era de 25,46 a cada 100 mil habitantes, a de jovens negros era de 139,48. 

Na cena cultural, o que mais incomoda os negros é a falta de representatividade. Apesar do aumento da presença de negros em publicidades e papéis em trabalhos na TV e cinema, os grupos apontam que o negro não ganha papel de destaque e ainda é visto em participações como o traficante, a empregada, o malandro.

Desde 2006, é Jackson Ferreira, de 30 anos, quem coordena o Núcleo Afro Odomodê, cuja sede fica no Morro do Quadro, em Vitória. Baseado nos depoimentos dos jovens que atende - uma média de 300 a 500 por mês -, ele aponta a falta de representatividade como principal obstáculo a ser vencido na cultura ainda em pleno 2018.

O Núcleo Afro Odomodê realiza atividades com jovens negros de até 29 anos, na sede da instituição, em Vitória. (Reprodução/Facebook Núcleo Afro Odomodê)

"Muitos jovens relatam a falta de representação nas produções culturais, por exemplo. E isso acaba os afastando desse tipo de atividade. Por isso, tomamos a iniciativa, nós mesmos, de promover ações que possam tentar reverter essa situação", afirma Jackson, reforçando que o Odomodê foi criado a partir da percepção dessa deficiência no Estado. "Realizamos atividades, de segunda a sexta-feira, das 8h às 19h. Aos fins de semana e em eventos especiais nós também funcionamos com horário estendido", completa

O administrador afirma que todas as atividades executadas no projeto têm o objetivo de inserir esses jovens em ambientes que, às vezes, eles não são acostumados a estar.

O coordenador do coletivo Negrada, João Victor dos Santos, de 24 anos, também enxerga que essa representação do negro é baixa. Ele ainda pontua que, quando acontece, acaba vindo com uma série de detalhes que desvalorizam a figura.

"A gente está avançando muito no entretenimento, nas mídias... Até em propagandas publicitárias, a figura do negro aparece muito mais e de forma mais positiva. Mas, ao mesmo tempo que conquistamos esse espaço, vemos situações em que a mesma personagem entra em um cenário de uma família desestabilizada, de uma empregada doméstica, em uma posição inferior mesmo", rebate.

Por outro lado, Jackson avalia que, com o passar dos anos, a discriminação que o grupo vem sofrendo está meno incidente. "Mas não é para acontecer. Então, qualquer caso acaba sendo um peso que, de uma forma ou de outra, bate de frente com o que nós estamos fazendo", lamenta.

Ainda assim, ele vê com otimismo o que pode ser fruto do que estão fazendo hoje. Jackson crê que a evolução será gradativa e, em algum momento, atingirá o patamar da igualdade. "Nós apostamos primeiro na identidade de cada jovem para ele se entender como negro inserido na sociedade. Depois agimos com o protagonismo dele, o quão potencial ele é para diversas áreas de atuação, inclusive já ensaiando exercícios que vão qualificá-lo para o mercado profissional", conclui.

João também vê com bons olhos o que toda essa batalha pode gerar. Ele destaca que todas essas situações em que o negro é representado acabam mostrando para a sociedade e para quem a influencia que estabelecer uma relação plural é mais vantajoso. "As pessoas estão percebendo que é importante colocar lá quem nós somos", corrobora.

Coletivo Negrada; o coordenador João Victor dos Santos à frente. (Reprodução/Facebook Coletivo Negrada)

INFLUENCIADORES DEIXAM CAUSA EM EVIDÊNCIA

O coordenador do coletivo Negrada frisa que a internet tem sido um meio de disseminar informações com um alcance extraordinário. Para ele, o fato de um artista postar uma foto ou um tuíte destacando qualquer ponto da luta dos negros no Brasil faz com que a causa não seja esquecida e, pelo contrário, fortaleça. "Muitos programas de TV passaram a tratar do assunto com outros olhos, então isso também ajuda muito. O fato de um Lázaro Ramos e uma Taís Araújo se manifestarem também é importante. São negros, artistas, reconhecidos pelo trabalho, que podem conscientizar uma legião que os acompanha", dispara.

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O posicionamento de artistas no Instagram, por exemplo, está tendo uma articulação que nunca experimentamos antes. E é muito positiva, sempre, em questão de valorizar a luta da comunidade negra

João Victor dos Santos, coordenador do Negrada
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Para ele, o entretenimento de forma geral viu que não dava para seguir fazendo graça do jeito que estava. No entanto, ainda existem papéis sociais como os da empregada doméstica que precisam ser superados.

Uma forma de luta são as oficinas oferecidas pelos coletivos. O Odomodê e o Negrada apresentam projetos junto a órgãos públicos que enaltecem esse cenário.

Em Vitória, a prefeitura por meio da Secretaria Municipal de Cidadania, Direitos Humanos e Trabalho (Semcid) e outras entidades promovem o "Novembro Negro". A proposta feita pelo Conselho Municipal do Negro (Conegro) é realizar ações culturais e empreendedoras como a Corrida Zumbi dos Palmares, sarau, exposição e rodas de conversas em parceria com o Fórum Estadual da Juventude Negra e o Odomodê. As atividades acontecem em diversos locais, entre eles o Museu Capixaba do Negro (Mucane), no Parque Moscoso.

A Comissão de Estudos Afro-Brasileiros (Ceafro) também junto com a prefeitura da Capital organiza diversas oficinas culturais, divulgando elementos da cultura negra, a exemplo da dança, da capoeira, do teatro e dos jogos africanos. As oficinas buscam o aprofundamento cultural: quem participa da oficina de dança, por exemplo, conhece a origem e o significado dos movimentos e suas relações com o corpo africano. Essas atividades têm conseguido modificar a visão do aluno negro, que descobre ou confirma a riqueza cultural de sua etnia.

Para Julya Baptista, coordenadora em exercício de Políticas Públicas para a População Negra da Semcid, a ideia é trazer visibilidade para a importância da conscientização da igualdade racial em Vitória.

"Nós entendemos que as ações de promoção racial devem ser feitas durante todo o ano, mas, especificamene no mês de novembro, elas devem ser reforçadas para chamar atenção para questões que envolvam a população negra", disse.

Para este ano, as atividades do Novembro Negro já estão à todo vapor e seguem até o fim do mês. Confira a programação abaixo. 

Coordenação de Política dos Direitos da População Negra

18/11

Corrida Zumbi dos Palmares, às 7h45

29/11

Formação com Empreendedoras Negras, participação de Paula Breder - Local e data

Informações 3382-6697

Programação Mucane

Exposição Malungas

Visitação: terça a sexta-feira (13h30 as 18h); sábados (10h as 14h)

Ensaios do Bloco Afro Kizomba

16 e 21/11

às 19 horas

Encontro do FEJUNES

14/11

Tributo aos 350 anos da morte da Rainha Ginga

Organização Renato Santos

Noite

15 e 16/11

Formação do Projeto MINA-S

Organização Thiara Pagani

16h

20/11

Marcha de Combate ao Extermínio da Juventude Negra

18 horas - Chegada da Marcha com atividades Culturais

22/11

- Mostra Cine Afro

17 as 21h

- Intercâmbio Cultural (Música e Ancestralidade);

15 as 21h

- Psicologia e Negritude

19h

Coletivo AMA

Fórum Estadual da Juventude Negra

14 de novembro de 2018

Atividade: Palestra: A construção da Identidade de um Jovem Negro e o Extermínio da

Juventude Negra e Oficinas

Local: E.M.E.F Suzete Cuendet

Horário: 8h

17 de novembro de 2018

Atividade: I Futsal Misto Antirracista

Local: Quadra de Santa Tereza

Horário: 13h

20 de novembro de 2018

Atividade: XI Marcha Estadual Contra o Extermínio da Juventude Negra

Local: Concentração em frente á casa porto – Centro de Vitória

Horário: 14h

21 de novembro de 2018

- Atividade: Palestra – Vida e Consciência de uma Mulher Negra na Graduação – Crislayne

Zeferina

Local: Estácio de Vitória

Horário: 17h

- Atividade: Oficina e Palestra A construção da Identidade de um Jovem Negro e o

Extermínio da Juventude Negra

Local: Escola Paulo Roberto Vieira Gomes

Horário: 18h30

22 de novembro de 2018

- Atividade: Oficina e Palestra: A construção da Identidade de um Jovem Negro e o

Extermínio da Juventude Negra

Local: IFES SANTA TEREZA

Horário: 13h

23, 24 e 25 de novembro de 2018

- Atividade: Nova Frente Negra Brasileira: Palestra: Protagonismo Negro no Cenário

Político Nacional – Juventude Negra: Crislayne Zeferina

Local: São Paulo

Horário: Os dias todos

30 de novembro de 2018

- Atividade: Roda de Conversa – Se novembro é consciência o resto é racismo

Local: Varal Agência de Comunicação

Horário: 18:30

PROGRAMAÇÃO ODOMODÊ

Todas as terças (6, 13 e 27 de novembro)

16h – Oficina de Violão - Odomodê;

Todas as quartas (7, 14, 21 e 28 de novembro)

14h – Grupo de Dança (Vivian) - FAFI

18h – Grupo Letra e Rima (Chic e Jack) Odomodê;

Todas as quintas (1, 8, 22 e 29 de novembro)

14h –Grupo De Mães - Odomodê;

14h – Grupo de Estudos Mandela - Odomodê;

16h – Oficina de Violão - Odomodê;

Demais ações no novembro:

14/11 – Intervenção na EMEF Mauro Braga

14h Convidado a discutir o tema: O Morro que me mostram e o Morro que vejo

21/11 - Intervenção na Estácio de Vitória

17h – Em alusão ao dia 20/11

- Apresentação de fotografia da exposição "ÀWA NÌ - Nós por Nós!"

Intervenção poética: Gritaram-me Negra

28/11 - Obinrin – Edição Dandara’s

18h

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