Já parou para pensar nas diferenças e nas relações estabelecidas entre o corpo de uma pessoa cega e o de uma pessoa que enxerga? É justamente a abordagem trazida pelo espetáculo E a Cor a Gente Imagina, que encerra sua turnê em Vitória nesta quinta-feira (13), após rodar por oito cidades do Sudeste pelo projeto Rumos Itaú Cultural.
Na performance, o bailarino e diretor Victor Alves divide o palco com o ator e bailarino independente Oscar Capucho, cego desde os nove anos de idade. Juntos, os dois lançam luz sobre aspectos da memória e da imaginação criativa, baseados tanto nas atividades cotidianas quanto extraordinárias da pessoa com deficiência visual.
A ideia é causar reflexões que ressaltam a importância de tornar a acessibilidade mais presente no cotidiano.
A minha referência de imagem contribuiu muito, porque imagino tudo pelo que as pessoas me descrevem. Eu e Victor abordamos um pouco disso, da mobilidade urbana, do movimento no espaço, a relação entre os dois corpos. E ainda temos diferenças relevantes, eu sou branco e ele é negro, são muitas diferenças que agregam entre si, ressalta Capucho, formado em teatro pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mas seduzido pela dança desde sempre.
O espetáculo surgiu derivado de uma performance desenvolvida pela dupla de bailarinos, que dançam juntos há cerca de cinco anos. A performance, chamada Sentidos, foi elaborada para a abertura de uma exposição fotográfica e gerou diversos questionamentos entre os espectadores. A partir daí, Victor e Oscar resolveram apostar no espetáculo para sanar a curiosidade das pessoas que os assistiam.
Trabalhamos sentidos do toque, temos vivências no balé, na dança contemporânea e na dança urbana, são muitas informações. Quisemos responder isso em cena, dançando e tentando sanar as curiosidades por meio da crônica poética e do envolvimento, explica Victor Alves, que assina a coreografia do espetáculo.
Pensado para ser um espetáculo também acessível às pessoas cegas ou com baixa visão (e não só), E a Cor a Gente Imagina traz audiodescrição, além de interpretação em Libras.
Ao final da apresentação, o público participa de uma conversa com os artistas, com a equipe responsável pela audiodescrição e com os intérpretes de Libras sobre as impressões obtidas, o processo de criação da dança e sobre o cotidiano dos profissionais que lidam com acessibilidade.
Após rodar por essas oito cidades, posso dizer que entre as maiores surpresas está o fato de que às vezes as pessoas se surpreendem ao ver um cego dançando. Simplesmente isso. Oscar é muito capaz, um grande profissional que ocupa aquele espaço graças ao próprio talento e à técnica, salienta Victor, ao lembrar que é possível conversar sobre outros assuntos relacionados à falta de acessibilidade e do próprio preconceito da sociedade com os deficientes em geral.
Além da apresentação, os dois bailarinos também ministram duas oficinas: uma de Sensibilização Corporal, para aguçar os sentidos além da visão e trabalhar a especialidade por meio de elementos da dança e do teatro; e outra de House Dance, abordando o ritmo e a expressão corporais através de elementos das danças urbanas. Devido à grande demanda, as inscrições já foram encerradas.
Eu me surpreendi muito com a leitura generosa que o público tem desse trabalho. Essa troca mostra que o trabalho chegou às pessoas, dá uma sensação de dever cumprido, porque a arte tem esse papel provocador e transformador. Parece pretensão dizer isso, mas gosto de dizer: quero que meu trabalhe transforme as pessoas de alguma forma. É isso que me deixa agradecido e feliz, conclui Oscar.
E a Cor a Gente Imagina
Quando: Quinta-feira (13), às 19h30.
Onde: Sala Virgínia Tamanini. Centro Cultural Sesc Glória. Avenida Jerônimo Monteiro, 428, Centro, Vitória.
Ingressos: R$ 10 (inteira), R$ 5 (meia). À venda para o público na bilheteria do centro cultural.
Informações: (27) 3232-4750.
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