Se você olhar, você morre. Você provavelmente já se deparou com essa frase ou alguma outra propaganda de Bird Box na sua cidade. A Netflix, afinal, está investindo pesado na divulgação (ironicamente analógica) do filme estrelado por Sandra Bullock e dirigido pela oscarizada Susanne Bier (Em Um Mundo Melhor) que chega na próxima sexta-feira (21) ao serviço de streaming.
O interesse do público não é desmotivado e a trama baseada no livro homônimo de Josh Malerman é no mínimo atrativa: uma misteriosa força invisível se espalha por todo o mundo. Ela se materializa no maior pesadelo de quem a vê e leva as pessoas a cometerem suicídio. A solução encontrada para sobreviver é se trancar em ambientes fechados e controlados, e usar uma venda nos olhos. O problema é que a força afeta um certo grupo de pessoas de outra forma, levando-as a querer que todos vejam a verdade. Um cenário pronto para o caos.
Com uma narrativa não-linear, o filme acompanha Malorie (Sandra Bullock) em momentos distintos: tentando desesperadamente chegar a algum lugar, às cegas em um barco com duas crianças, e nos momentos que antecedem e sucedem o surto de pessoas se matando nas ruas.
O surto é repentino, então não é como se cada um pudesse escolher onde viver a partir daquele momento. Malorie, grávida, encontra abrigo em uma casa com um grupo aleatório de pessoas. A convivência não é fácil, mas a sobrevivência fala mais alto.
Quando acompanhamos a casa, vemos as dificuldades do grupo para racionar e conseguir alimentos, além do claro medo do desconhecido: ajudar ou não quem bate à porta pedindo por ajuda? Enquanto isso, na outra ponta do roteiro acompanhamos o desespero de Malorie para sobreviver e a dureza com que trata as crianças que nem sequer têm nome.
GENÉRICO
A escolha da narrativa funciona como um quebra-cabeças. Sabe-se apenas que a protagonista e duas crianças estão em fuga, mas, a princípio, o destino de todos os outros moradores da casa é desconhecido. Não é nada novo, mas funciona razoavelmente bem.
O problema de Bird Box é que falta a ele uma identidade mais marcante o filme tenta se aproximar do excelente Um Lugar Silencioso, de John Krasinski, com a privação sensorial, mas acaba mais próximo do péssimo O Fim dos Tempos, de M. Night Shyamalan, com pessoas fugindo do vento. Há boas ideias e execuções, mas Bird Box parece apenas um apanhado delas ligados por um roteiro preguiçoso. A maioria dos personagens nada acrescenta à trama é apenas questão de tempo até que eles sejam vitimas, uma sensação que é reforçada pela falta de noção na passagem do tempo. Cinco anos se passam entre uma narrativa e outra, mas o espectador nunca tem a sensação dessa passagem de tempo.
O que salva o filme de Susanne Bier é a entrega de Sandra Bullock. O desespero e a dureza de Malorie são reais e angustiantes, uma pena que o roteiro não ajude uma escolha que a personagem tem que fazer, por exemplo, com a qual o roteiro flerta durante um bom tempo, é previsível e não representa surpresa alguma.
Bird Box, ao fim, é um filme razoável, com boas atuações, alguma tensão e uma boa premissa. Porém, a decisão de abrir mão de uma identidade própria em função de algo já estabelecido e menos arriscado o transforma em um produto lamentavelmente genérico; um filme que, a poucos cliques de ser consumido, deve movimentar bem os números da Netflix, mas que não encheria os cinemas.
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