> >
De volta às origens: o retorno das pequenas livrarias de rua

De volta às origens: o retorno das pequenas livrarias de rua

Na contramão da crise de grandes redes de livrarias, espaços dedicados à literatura surgem em Vitória e no Brasil

Publicado em 6 de dezembro de 2018 às 00:18

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura

O mercado literário passa por uma transformação. Enquanto grandes redes de livrarias acumulam dívidas e entram com pedido de recuperação judicial, um novo mercado se expande na contramão dessa crise: as pequenas livrarias, com seus espaços intimistas e acolhedores.

Esses espaços reduzidos nem são novos, já que as livrarias de rua reinaram durante anos antes do mercado ser engolido pelas grandes redes. Agora tudo volta ao ponto inicial. Em Vitória, há três semanas a Don Quixote Livraria abriu suas portas na Praia do Canto.

Munah Malek, socióloga e mestre em História Política, e Marcos Ramos, formado em Letras e doutorando em Literatura Comparada, são os proprietários do espaço que funciona como livraria e café. Em apenas poucos dias de funcionamento, o saldo é positivo.

“Acho que é o retorno do princípio da intimidade. Na era da tecnologia foram abrindo grandes empreendimentos, mas existe um público muito grande que tem sede dessa intimidade. Temos clientes que desde a inauguração não passam mais de dois dias sem vir. Tomamos um susto porque já vendemos mais de 300 livros. Acreditávamos que iríamos vender mais café do que livro, achando que livraria não se sustenta, que livro não paga conta. Estamos vivendo a contramão do processo e pessoas agradecem pelo espaço dizem que estavam precisando”, brinca Munah.

Para o casal, o impulso de nadar contra a maré e concorrer com as redes e o mercado on-line veio da constante vontade de frequentar um lugar assim em Vitória, com livros fora do métier das grandes editoras, além de um espaço para cursos e debates sobre arte e cultura.

“Essas redes parecem estar mais interessadas em vender tecnologia. Algumas ainda sobrevivem porque têm um trabalho mais intimista, com a presença do livreiro. Em São Paulo e Minas Gerais foram abertas umas três livrarias pequenas este ano. Também estão surgindo as livrarias especializadas só com literatura afro ou livros escritos só por mulheres, por exemplo”, conta Munah.

QUALIDADE

Cravada no Centro de Vitória há um ano está a Cousa Café-Bar, sede da Editora Cousa. A princípio seriam apenas vendidos os livros da editora, mas o proprietário Saulo Ribeiro adianta que a partir de janeiro a livraria receberá livros de pequenas editoras de todo o Brasil. “Formamos um fórum de pequenas editoras a partir da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) e lançamos um protocolo de cooperação”, explica Saulo.

Para ele, que atua como proprietário de livraria e editor, a chegada da gigante Amazon também tece influência na crise das rede que estão fechando suas portas, mas, além disso, as principais livrarias não prestaram a devida atenção ao público leitor.

 

“Quem gosta de ler se sente meio órfão quando entra em uma loja dessas. Eles falharam em não reconhecer qualidade. Colocaram chaveiro, celular, computador, papelaria e aí deixaram de ser aquele local agradável por que o leitor gosta de circular. Por outro lado veio o movimento inverso, das pequenas livrarias com o vendedor apaixonado pelo livro, onde o leitor se encontra com os seus semelhantes. Não dá pra ser um local só com livros na estante, tem que ser local de debate, descobertas, diversidade e qualidade”, opina Saulo.

CRISE

 

Para tentar sobreviver, as principais redes do Brasil, em parceria com a Associação Nacional de Livrarias (ANL), lançaram o movimento #vempralivraria – o objetivo é incentivar a relação do público com esses espaços. Para algumas pessoas, este é um momento de transformação importante.

“No meio de toda essa dificuldade, o que enxergo é que vai acontecer como foi nos Estados Unidos e em países da Europa, onde muitas grandes livrarias fecharem as portas viram surgir as livrarias de bairro e os cafés com livrarias. Como autor, me dói ver uma livraria fechando, mas acho que é um mal necessário porque temos que corrigir os erros. Os livros no Brasil são caros, essa estrutura de lojas em shoppings é cara e automaticamente esse valor é repassado para capa do livro. O comércio online também tem força nessa transição, não só o e-book, mas o livro físico”, explica o escritor Romulo Felippe, autor de livros como “O Monge Guerreiro” e “Reino dos Morcegos”.

Este vídeo pode te interessar

Romulo acredita que as lojas de rua podem incentivar novos leitores a consumir literatura. Em 2017 foram 42,3 milhões de exemplares vendidos segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros. Para ele, o número pode aumentar ainda mais. “Acredito que o Brasil possa chegar na casa de 1 bilhão de livros daqui a dois anos com esse movimento das livrarias de bairro nas capitais e no interior. Acredito muito no sucesso de livrarias menores”, torce Romulo.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais