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Cinco anos após 1º beijo gay da Globo, tema surge de forma mais aberta e em todos os horários

Cinco anos após 1º beijo gay da Globo, tema surge de forma mais aberta e em todos os horários

Cena da novela 'Amor à Vida' faz aniversário nesta quinta-feira

Publicado em 31 de janeiro de 2019 às 19:16

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Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) em cena de "Amor à Vida", primeiro beijo gay do horário nobre da Globo. (Reprodução)

Foi em meio a campanhas na internet e suspense da emissora que Mateus Solano, 37, e Thiago Fragoso, 37, protagonizaram, em "Amor à Vida" (2013-2014), o primeiro beijo gay das novelas da Globo, há exatos cinco anos. Um clamor da sociedade depois de mudanças muito gradativas, avalia o doutor em teledramaturgia Mauro Alencar. 

"Essas questões não eram bem vistas antes. Tudo isso era carregado de muita angústia, sempre um trauma muito grande. Em "Brilhante" (Globo, 1981-1982), por exemplo, Denis Carvalho era um jovem angustiado com sua questão sexual e no último capítulo ele foge com o namorado", recorda ele. 

Apesar de o primeiro beijo gay da TV ter ocorrido em 1963, no teleteatro Calúnia (Tupi), Alencar afirma que poucos tinham televisor na época, e que até meados dos anos 1970, personagens homossexuais viviam isolados, como Rodolfo Augusto (Ary Fontoura), de "Assim na Terra como no Céu" (Globo, 1970), e Agenor (Rubens de Falco), de "O Grito" (Globo, de 1975-1976). 

No caso de "Amor à Vida", nada de angústia. Além de ter dado uma abordagem mais natural ao tema, a trama de Walcyr Carrasco tinha o beijo como uma forma de selar a redenção do vilão Félix, vivido por Mateus Solano, visto que ele se tornou uma pessoa melhor por conta de seu amor por Niko (Thiago Fragoso). 

03/10/2018 - A cena do beijo dos personagens Michael e Santiago. O primeiro beijo gay em 23 anos de Malhação, na Globo. (Reprodução/Globo)

Mateus Solano revelou depois que houve "muita relutância e negociação" antes que a cena fosse ao ar, já que o telespectador pedia um beijo. "Era uma outra emissora, ainda muito medrosa nesse aspecto mais progressista. Quem diria que o entretenimento da Globo seria a coisa mais progressista do país", afirmou ele no ano passado. 

Quase dez anos antes da cena de Félix e Niko, a Globo gravou o beijo dos atores Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro, mas que acabou não indo ao ar em "América" (Globo, 2005). Já em "Torre de Babel" (Globo, 1998), a emissora matou as personagens de Christiane Torloni e Silvia Pfeifer pela má aceitação do público. 

Já o SBT vetou o beijo entre os personagens Lui Mendes e Chico na trama "Amor e Revolução" (2011), mas mostrou o de Marcela e Marina, vividas, respectivamente por Luciana Vendramini e Giselle Tigre na mesma novela.

Para Alencar, apesar de qualquer apreensão das emissoras, as novelas brasileiras têm-se desenvolvido de acordo com a evolução social desde a década de 1970. "Às vezes um pouco à frente, outras apresentando em forma de arte o que já está em ruas, bares e lares. Assim, o tema seguiu o ritmo e os limites da sociedade", pondera.

13/09/2018 - Personagens Otavio e Luccino protagonizaram primeiro beijo gay em novela das 18h na Globo. (Twitter/@RedeGlobo)

Fragoso também já havia apontado o desfecho do casal como um fenômeno daquele momento: "Cultura é uma coisa tão delicada. Tem muita coisa associada ao momento político do país e a uma manipulação perniciosa de mídias sociais, por parte de elementos, que são lideranças políticas e religiosas, de maneira que não são legais."

Desde o beijo de Félix e Niko, no entanto, o tema passou a ser abordado com mais frequência, em horários variados, avalia Alencar. O folhetim adolescente "Malhação", por exemplo, mostrou o beijo de Michael (Pedro Vinícius) e Santiago (Giovanni Dopico) e de Lica (Manoela Aliperti) e Samantha (Giovanna Grigio). Ambos comemorados pelo público. 

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Para o dramaturgo, porém, o destaque é o casal Luccino (Juliano Laham) e capitão Otávio (Pedro Henrique Muller) de "Orgulho e Paixão" (Globo, 2018). "Era uma novela das 18h, escrita para um público mais conservador e que, por ser de época, traçou um painel de como era a aceitação da homossexualidade no início do século 20". 

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