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Últimos dias da exposição 'Ventos em Vênus movem montanhas' no ES

Últimos dias da exposição 'Ventos em Vênus movem montanhas' no ES

Beleza que não cabe na balança é tema de exposição da artista Tete Rocha. A mostra vai até domingo (3).

Publicado em 30 de janeiro de 2019 às 23:58

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Artista Tete Rocha faz releitura de vênus . (Rodrigo Barreto)

“Aprender a ser mais gentil com nós mesmas e entender que nossas imperfeições não devem seguir uma lógica de servidão. O valor da mulher ainda é associado a beleza e isso é também uma maneira de subordiná-las”. O depoimento da artista Tete Rocha revela a intenção da exposição “Ventos em Vênus movem montanhas”, em cartaz na Galeria Homero Massena no Centro de Vitória, até dia 3 de fevereiro.

Nessa reta final, a artista fará o lançamento do catálogo da exposição, nesta quinta-feira (31), às 17h. Na sexta-feira (1), o local recebe uma roda de conversa e também a oficina “Olhar sobre si é reflexo do outro”.

O convite à gentileza partiu da relação conflituosa e do incômodo da artista com o próprio corpo, corpo esse que assume papel de protagonismo na mostra. Gorda, como ela mesmo se define, Tete contesta o padrão imposto pela sociedade e recupera a representação das vênus ao longo da história da arte.

“Eu pensei muito na vênus porque ela demonstra um shape de diversidade e variedade de figuras femininas. A minha escolhida foi a Willendorf, que é uma peça de 20 mil anos. A teoria é de que a escultura é uma autorrepresentação. Pensei então em como trabalhar essa vênus em mim mesma e também a compulsão alimentar atrelado ao corpo gordo”, revela. Outra figura feminina retratada pela artista são as damas do xadrez.

Em performance, artista Tete Rocha come vênus de açúcar. (Rodrigo Barreto)

Gordofobia

Ao confrontar o corpo natural e as prerrogativas sociais estabelecidas, a exposição faz com que o público entenda os incômodos como padrões socialmente construídos. “Se observamos as vênus, vamos ver como o padrão de beleza mudou ao longo do tempo. Da mulher rechonchuda que representava a fertilidade até o que temos hoje”.

Tete Rocha aborda a questão da gordofobia em fotos onde interage com objetos como balança, cadeira, aquário, de forma irônica. “Faço isso a partir da contraposição objetos construídos para ter uma determinada finalidade, mas que eu coloco de maneira irônica para confrontar em relação de embate com o corpo”, conta.

Tete Rocha ironiza objetos opressores em exposição . (Rodrigo Barreto)

 

A narrativa chama atenção para a falta de acessibilidade de gordos no meio social – da falta de roupas de tamanho apropriado ao constrangimento em consultórios médicos.

Em uma das obras, a artista é fotografada em uma cadeira de ferro sem assento. “Quando se é gordo existe uma preocupação de sentar em uma cadeira e ela não aguentar seu peso. Em vários momentos da vida, a gente passa a noite inteira equilibrando o peso do corpo com os pés para não se privar do convívio dos amigos, mas sabendo que se não for dessa forma, a cadeira pode quebrar”, expõe.

Mesmo com a coragem de ter seu corpo em exposição, a artista diz que as queixas e as inseguranças não sumiram. “Que mulher nunca se olhou no espelho e se sentiu inadequada?”, questiona. “Não é porque eu coloco meu trabalho em um espaço público que as inseguranças desaparecem do dia para a noite. Me encaro como um corpo político, que tem uma história que compõe o meu corpo social”.

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