Aprender a ser mais gentil com nós mesmas e entender que nossas imperfeições não devem seguir uma lógica de servidão. O valor da mulher ainda é associado a beleza e isso é também uma maneira de subordiná-las. O depoimento da artista Tete Rocha revela a intenção da exposição Ventos em Vênus movem montanhas, em cartaz na Galeria Homero Massena no Centro de Vitória, até dia 3 de fevereiro.
Nessa reta final, a artista fará o lançamento do catálogo da exposição, nesta quinta-feira (31), às 17h. Na sexta-feira (1), o local recebe uma roda de conversa e também a oficina Olhar sobre si é reflexo do outro.
O convite à gentileza partiu da relação conflituosa e do incômodo da artista com o próprio corpo, corpo esse que assume papel de protagonismo na mostra. Gorda, como ela mesmo se define, Tete contesta o padrão imposto pela sociedade e recupera a representação das vênus ao longo da história da arte.
Eu pensei muito na vênus porque ela demonstra um shape de diversidade e variedade de figuras femininas. A minha escolhida foi a Willendorf, que é uma peça de 20 mil anos. A teoria é de que a escultura é uma autorrepresentação. Pensei então em como trabalhar essa vênus em mim mesma e também a compulsão alimentar atrelado ao corpo gordo, revela. Outra figura feminina retratada pela artista são as damas do xadrez.
Gordofobia
Ao confrontar o corpo natural e as prerrogativas sociais estabelecidas, a exposição faz com que o público entenda os incômodos como padrões socialmente construídos. Se observamos as vênus, vamos ver como o padrão de beleza mudou ao longo do tempo. Da mulher rechonchuda que representava a fertilidade até o que temos hoje.
Tete Rocha aborda a questão da gordofobia em fotos onde interage com objetos como balança, cadeira, aquário, de forma irônica. Faço isso a partir da contraposição objetos construídos para ter uma determinada finalidade, mas que eu coloco de maneira irônica para confrontar em relação de embate com o corpo, conta.
A narrativa chama atenção para a falta de acessibilidade de gordos no meio social da falta de roupas de tamanho apropriado ao constrangimento em consultórios médicos.
Em uma das obras, a artista é fotografada em uma cadeira de ferro sem assento. Quando se é gordo existe uma preocupação de sentar em uma cadeira e ela não aguentar seu peso. Em vários momentos da vida, a gente passa a noite inteira equilibrando o peso do corpo com os pés para não se privar do convívio dos amigos, mas sabendo que se não for dessa forma, a cadeira pode quebrar, expõe.
Mesmo com a coragem de ter seu corpo em exposição, a artista diz que as queixas e as inseguranças não sumiram. Que mulher nunca se olhou no espelho e se sentiu inadequada?, questiona. Não é porque eu coloco meu trabalho em um espaço público que as inseguranças desaparecem do dia para a noite. Me encaro como um corpo político, que tem uma história que compõe o meu corpo social.
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