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Bibi Ferreira foi tema de TCC no Espírito Santo

Bibi Ferreira foi tema de TCC no Espírito Santo

Universitários fizeram documentário "Bibi in Cena", em 2006, e se tornaram produtores culturais; em 2015, os alunos que executaram o TCC promoveram show de Bibi Ferreira no Teatro da Ufes, em Vitória

Publicado em 13 de fevereiro de 2019 às 21:18

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(Reprodução/Facebook Bibi Ferreira)

Hoje, Wesley Telles e Bruna Dornellas comandam a WB Produções, responsável até por produzir o espetáculo de Bibi Ferreira em Vitória, em 2015, no Teatro da Ufes. Mas, antes disso, a dupla já era fã da dama do teatro brasileiro: eles fizeram "Bibi in Cena" como tese de conclusão de curso (TCC), em 2006, quando se formaram em Rádio e TV.

"Estamos muito tristes e abalados. Nossa história começou com ela. Nossa empresa surgiu a partir do documentário que fizemos e tivemos a honra de conhecer a fundo a história dela e depois produzir o show dela no Estado", diz Bruna.

Wesley também considera a morte da artista uma perda imensa para o mundo da arte: "Estamos tão tristes... Arrasados. Devemos tudo a ela, uma artista completa. Nossa carreira começou por ela ter nos estimulado e ajudado após o documentário".

Bruna lembra que o teatro, a cultura e a profissão que escolheram "perdeu uma grande diva que sempre lutou pela arte", em suas próprias palavras. "Nos despedimos dessa mestra que será inesquecível em nossas vidas", conclui.

Para ela, Bibi viveu seus 96 anos da melhor forma possível e agora o sentimento é de poder representá-los da melhor forma possível. "Ela é um símbolo da arte. Deixou um legado lindo", finaliza.

BIBI FERREIRA: 77 ANOS DE CARREIRA

A cantora Bibi Ferreira, quando recebeu a equipe de A GAZETA em ensaio de seu espetáculo "4X BIBI", em 2017. (Pedro Permuy)

Do alto de seus 77 anos de carreira, Bibi Ferreira fez algumas visitas ao Espírito Santo. Apesar de sempre trazer música diferente para ecoar entre capixabas que a prestigiavam, era repetitiva quando dizia: "Amo Vitória. É como se fosse um mini Rio. É um mini Rio". Se referia à capital capixaba dessa forma e não passava pelo Estado sem degustar a tradicional moqueca capixaba. 

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Vitória é muito parecida com o Rio de Janeiro em vários aspectos. É encantadora

Bibi Ferreira, artista
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Mas foi no cenário internacional que Bibi se tornou referência. Principalmente nas últimas décadas de carreira, era figurinha fácil nos teatros mais badalados da Broadway, em Nova York, nos Estados Unidos, onde também era requisitada para apresentações anuais. Se apaixonou pela música da francesa Edith Piaf, quando protagonizou em "Bibi Canta Piaf" e pelo norte-americano Frank Sinatra, quando fez "Bibi Canta Sinatra". "Mas me identifico mais com Sinatra", retrucou, em bate-papo com o Gazeta Online, em 2017.

(Selmy Yassuda/Reprodução/Facebook Bibi Ferreira)

Por contra própria, a artista decidiu pôr um ponto final na sua trajetória frente aos holofotes no ano passado. Na ocasião, emitiu nota oficial à imprensa e disse ter plena consciência da decisão que estava tomando. Nesta quarta-feira (13), Bibi deu seu adeus, vítima de uma complicação cardíaca, quando passou mal em sua casa no Flamengo, no Rio de Janeiro. 

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Nunca pensei em parar. Essa palavra nunca fez parte do meu vocabulário, mas entender a vida é ser inteligente. Fui muito feliz com minha carreira. Me orgulho muito de tudo que fiz. Obrigada a todos que de alguma forma estiveram comigo, a todos que me assistiam, a todos que me acompanharam por anos e anos. Muito obrigada

Bibi Ferreira, artista
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Já em 2017, no Espírito Santo, ela já tinha cantado a pedra de que estava em turnê de despedida. Em entrevista ao Gazeta Online, à época, o empresário de Bibi confidenciou que "4X BIBI" seria a última grande turnê de uma das vozes mais marcantes do teatro musical brasileiro. E foi. 

(Reprodução/Facebook Bibi Ferreira)

À época, Bibi também deixou clara sua paixão pelo público capixaba e pelo Espírito Santo: "Vocês são maravilhosos. Sempre interagem, respondem muito bem às propostas dos meus espetáculos". 

A artista Bibi Ferreira em um "Programa do Jô", na TV Globo. (Ricardo Martins/TV Globo)

O ENSAIO DE BIBI FERREIRA

Nesta última apresentação no Estado, Bibi convidou a reportagem do Gazeta Online para ir ao ensaio do espetáculo "4X BIBI". Veja imagens exclusivas do ensaio de Bibi Ferreira no Teatro do Sesi, em Vitória (imagens de Pedro Permuy)

HISTÓRIAS E CANÇÕES DE BIBI FERREIRA

Último lançamento de Bibi, o CD "Histórias e Canções" destaca a trajetória que ela percorreu de quando nasceu, em 1922, até hoje.

“Lá, pelos meus 13, 14 anos”, brincou Bibi Ferreira quando se referiu ao século XVII antes de cantar “By a Waterfall”, segunda faixa de “Histórias e Canções” – CD e DVD. A dama do teatro brasileiro remontava à infância para se lembrar de grandes nomes da música nacional e internacional. E, é claro, brindava ao pai, o dramaturgo e diretor Procópio Ferreira, com óperas que levam uma interpretação com um toque diferente.

As árias cantadas por Bibi, apesar de respeitarem a harmonia composta por Verdi, Francesco Maria Piave e Gioachino Rossini, têm a letra alterada. Naquele momento, o grande passatempo dela, como a própria artista declarou, era encaixar os versos da MPB nessas obras centenárias. A paixão pelas óperas vem do pai, que enchia a casa de vinis com os mais requintados compositores.

Por outro lado, foi com a mãe, a bailarina Aida Izquierdo, que Bibi aprendeu cinco idiomas. E não é à toa que no neste álbum a artista dá show na interpretação de “Cuesta Abajo” e “Esta Noche me Emborracho”, dois sucessos do saudoso Carlos Gardel.

“Minha mãe exigia que eu falasse só espanhol em casa. E era o que eu fazia. E os tangos... O irmão da mamãe, tio Antônio, trabalhava na embaixada argentina no Rio de Janeiro. Ele ficava sabendo da chegada dos grandes astros argentinos ao Brasil, e esses cantores iam lá para casa para jantar. Eles cantando, afinando os violões, e eu lá, afinando os ouvidos”, disse.

(Selmy Yassuda/Reprodução/Facebook Bibi Ferreira)

"À LÁ AMERICANE"

Certa vez, Bibi brincou em um show dizendo que Piaf, cantora francesa que a artista também interpreta, dizia que as canções que ela traduzia para o inglês eram “à lá americane”. Coincidência ou não, a dama do teatro tem uma queda pelas canções americanas e percebe-se um quê de fã quando ela se apresentava nessas faixas.

“Sem dúvida Sinatra é com quem eu mais me identifico. Aos 11 anos me lembro de já escutar e ficar apaixonada pelo ritmo”, destacou. Seja pelo romantismo de Hollywood ou a Broadway “pé no chão”, como Bibi classifica o clima da avenida mais famosa de Nova York, “Nasty Man” e “By a Waterfall” foram as apostas do novo álbum para homenagear a música dos EUA.

(Reprodução/Facebook Bibi Ferreira)

MUSICAIS

No espetáculo, Bibi lembrava dos musicais que já fez – mas também surpreendia com os que quer fazer. “My Fair Lady”, “Hello, Dolly” e “O Homem de la Mancha” estão na lista que ela colecionou de sucessos de bilheteria. No entanto, ela deixou clara a vontade de protagonizar em novas apresentações. “Vocês me subestimaram, mas eu ainda vou fazer”, disparou, às gargalhadas.

Cantando e contando, ela destaca “Memory”, do musical “Cats”, “America”, de “West Side Story”, e “My Favorite Things”, da “Noviça Rebelde” – cantadas em um fino inglês, of course.

ERA DO RÁDIO

Enquanto nos Estados Unidos a população aplaudia as superproduções dos espetáculos mais famosos do mundo, aqui, no Brasil, Bibi se lembrava de Orlando Silva, Francisco Alves, Ângela Maria e Elizeth Cardoso.

“Todos primavam por um repertório de extremo bom gosto”, dizia. A dama do teatro interpretava “Nossos Momentos”, “Onde Anda Você”, “Nem Eu”, “Meiga Presença”, “As Praias Desertas” e “Eu Sei Que Vou te Amar” para ilustrar a passagem dos anos 1940 no país.

(Reprodução/Facebook Bibi Ferreira)

"E NÃO VAI TER PIAF?"

Apesar de ser fã mesmo da música americana, foi interpretando a francesa Edith Piaf que Bibi fez o que é o considerado um dos maiores sucessos da carreira. “Em todo show tem uma pergunta que não falta: ‘ué, mas não vai ter Piaf’”, contou, interpretando, também, até a forma como o público reagia.

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O que tinha que estar nesse show está. E de todas as histórias, as que lembram meus pais são as mais importantes

Bibi Ferreira, artista, sobre Histórias e Canções
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“Grande compositora. Ela era singular na música”, disse, se referindo a Piaf. “Ela só gostava de duas coisas na vida: cantar e amar. E amar no sentido prático. Sempre tinha um amante, um namorado. O último amor de Piaf tinha metade da idade dela – essa sorte, por exemplo, eu não tive”, contou, às gargalhadas.

(Selmy Yassuda/Reprodução/Facebook Bibi Ferreira)

Confira a última entrevista realizada pelo Gazeta Online com Bibi Ferreira.

No disco, você fala muito dos seus 13 e 14 anos, até em tom de brincadeira. Mas, de fato, nessa idade você teve algum contato com a música que te marcou? Seu pai já te apresentou à ópera nessa época?

Sim, muita coisa aconteceu nessa época. Eu cantar na Radio Ipanema, fazer o filme Cidade Mulher, onde cantava uma musica do Noel Rosa. Alias, fui ensaiado por ele. E papai me apresentou o de melhor na musica, nas letras, no teatro, sempre. Desde que me conheço por gente, papai era referência para mim. As operas foi o tempo todo que morei com ele. Ele chegava da rua com aqueles bolachões e ficava ouvindo direto. 

Falando em ópera, você destaca que hoje passa o tempo escrevendo letras de músicas populares que se encaixem em árias famosas. De onde saiu essa ideia? Você acha que de alguma forma isso incentiva as pessoas a se interessarem mais pelos clássicos?

Para mim é uma grande brincadeira que faço, só isso, que surgiu dessa época do papai, pois ouvia as óperas e ainda não as entendia. Brincava de cantar com letras que eu sabia. Sem nenhum objetivo intelectual ou de promoção da música clássica, mas que é muito divertido juntar Vedi com Leandro e Leonardo, é! Exercito a inteligência...

No CD, você parece inclinar um pouco mais para as músicas americanas. Em "By a Waterfall", por exemplo, a interpretação é emocionante. Realmente há um amor maior por essas músicas? (Vale lembrar a sua interpretação em Ol' Man River, também)

Eu conto no DVD, as musicas americanas foram minha primeira influencia e referencia de fato. Esse é o som que gosto. Adorei fazer o Sinatra por causa disso. Meu maestro foi mais para o jazz, como em queria, em relação aos arranjos do Sinatra. Ficou deslumbrante. Você vai ouvir no CD. Adorei o resultado.

"Histórias e Canções" vai rodar algumas cidades do Brasil, ainda, depois de lançados CD e DVD? Que tal uma visita ao Espírito Santo (risos)? 

Não, esse espetáculo já acabou há anos, depois já fiz três novos espetáculos. Agora estamos em cartaz com "Por Toda a Minha Vida", voltando ao repertório brasileiro. Está muito bom de fazer. Agradeço o convite do Espírito Santo. Adoro Vitória

Ficou alguma história de fora do CD? Algo que tenha te marcado muito, também?

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Não. O que tinha que estar nesse show está. E de todas as histórias, as que lembram meus pais são as mais importantes.

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