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Crítica: 'Se a Rua Beale Falasse' é poético e poderoso

Crítica: "Se a Rua Beale Falasse" é poético e poderoso

Barry Jenkins, de "Moonlight", mistura poesia, amor e racismo em adaptação do livro de James Baldwin

Publicado em 13 de março de 2019 às 22:59

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"Se a Rua Beale Falasse". (Sony Pictures/Divulgação)

É quase desrespeitoso que “Green Book – O Guia”, de Peter Farrelly, tenha levado o Oscar de Melhor Filme em um ano em que “Se a Rua Beale Falasse” não tenha sido sequer indicado ao prêmio principal. Dirigido por Barry Jenkins (“Moonlight”), o filme que estreia hoje no Estado trata do mesmo tema do vencedor do Oscar, o racismo, mas o faz de maneira delicada, quase poética, mas muito mais forte.

O roteiro, adaptado por Jenkins a partir do livro homônimo de James Baldwin, acompanha Tish (KiKi Layne) e Alonso (Stephan James), dois jovens negros que vem suas vidas se transformarem quando ele é preso por estupro pouco antes dela descobrir que está grávida. As famílias de ambos, então, dão início a uma busca para provar que o jovem é inocente.

Apesar da premissa de drama jurídico ou quase policial, “Se a Rua Beale Falasse” usa recursos desses gêneros apenas para conferir urgência à narrativa ou alterar sua dinâmica em determinados momentos. Na maior parte do tempo o espectador acompanha um quebra-cabeças da vida do casal e presencia momentos chaves da trama registrados com naturalidade.

“Se a Rua Beale Falasse”, assim como “Moonlight”, tem um quê do cineasta chinês Wong Kar-Wai na maneira como o diretor utiliza os planos – os closes com fundos desfocados, os olhares diretos – e movimenta sua câmera, principalmente nos diálogos a dois, para contar a história. Além disso, Jenkins e o diretor de fotografia James Laxton escolhem quadros estilizados e por vezes subjetivos, reforçando o aspecto poético da obra.

O filme de Jenkins é uma história de amor narrada pela protagonista, mas é também uma história sobre racismo. O cineasta ambienta a trama na mesma época em que ela foi escrita, os anos 1970, e, ao contrário do que faz Spike Lee em “Infiltrado na Klan”, não faz questão de relacioná-la aos dias atuais. Isso, porém, não diminui a força e o impacto do roteiro, que, mesmo sem ter um clímax propriamente dito, desperta os mais diversos sentimentos no espectador.

EXPLOSÃO

Regina King em "Se a Rua Beale Falasse". (Sony Pictures/Divulgação)

 

Enquanto o casal de protagonistas se preocupa com a poesia, é Sharon (Regina King), mesmo com pouco tempo em tela, a responsável pelos picos de emoção. Premiada com o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel, Regina King consegue alternar calor materno e obstinação na busca pela verdade.

O filme se completa com outros coadjuvantes em alto nível – Pedro Pascal, Diego Luna, Ed Skrein –, todos com papéis relevantes à trama. Quando Brian Tyree surge como um antigo amigo de Alonzo, um detalhe de “Moonlight” vem à tona: a quase inevitabilidade de problemas legais para jovens negros americanos.

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Ao fim, “Se a Rua Beale Falasse” é o anti-“Green Book”. A história de amor escrita por um negro (James Baldwin) e levada aos cinemas por outro (Barry Jenkins) não tem a figura do salvador branco e tampouco suaviza sua mensagem. É poético e bonito... um direto de direita com luva de pelica.

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