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'Diários de Classe' acompanha três analfabetas às voltas com racismo

"Diários de Classe" acompanha três analfabetas às voltas com racismo

Em cartaz no Estado, documentário ainda relata machismo e transfobia

Publicado em 7 de março de 2019 às 18:15

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Filme acompanha mulheres em busca de alfabetização em Salvador. (Igor Souza/Divulgação)

Em certo momento de “Diários de Classe”, Maria José discute com uma colega de sala os motivos de não conseguir frequentar as aulas em determinados dias da semana. O problema é que nesses dias ela tem que ficar com os filhos da patroa à noite, uma mulher com quem está “desde que ela era uma menina”, diz uma das protagonistas.

Em cartaz no projeto Projeta às Sete, no Cinemark, o documentário de Igor Souza e Maria Carolina acompanha Maria José e outras duas mulheres: Vânia Costa, uma encarcerada que quer aprender a ler para se defender no tribunal, e Tiffany, uma jovem às voltas com a sua recém-descoberta transexualidade.

“A gente queria mostrar que existe muito mais gente analfabeta ao nosso redor do que a gente imagina”, explica Maria Carolina, em entrevista do C2. “Muita gente do mercado informal não teve acesso à escola quando era criança. São 13 milhões de brasileiros nessa situação”, completa a diretora.

Filme registra também momentos fora de sala. (Igor Souza)

NARRATIVA

 

“Diários de Classe” não é um documentário padrão, com intervenção constante dos diretores ou narração para conduzir o espectador. Ao invés disso, o filme deixa que as imagens filmadas contem a história das três protagonistas.

“Tínhamos a pesquisa e os temas que queríamos abordar, mas não tínhamos o domínio das situações”, relata Maria Carolina. Ela conta que eles já tinham a experiência de exibir filmes nas salas de aula e fomentar a discussão dos alunos. “Mas sempre pensamos na escuta. Nosso principal processo era fazê-las entender o que queríamos e saber o que elas tinham para nos mostrar”, conta a diretora.

A presença da câmera naqueles ambientes, segundo ela, causava certo estranhamento, então é natural que em certos momentos as situações pareçam “atuadas”. “Tem um pouco de performance ali. As pessoas sabiam que a câmera estava ali, mas as personagens foram se acostumando”, diz.

Os diretores Igor Souza e Maria Carolina da Silva. (Elo Company/Divulgação)

CHOQUE

 

Maria Carolina conta que, filha da classe média, se surpreendeu com a vida das mulheres que acompanhou. “Somos atravessados por essas questões diariamente. Muitas pessoas fecham os olhos para isso, mas não podemos fechar. Foi impactante... São experiências de vida muito vivas, muito fortes as que registramos”, lembra. “Mas são mulheres conscientes de seus lugares. Elas sabem da posição que estão, têm ciência de que aquele lugar, para elas, não foi uma escolha”.

O curioso é perceber, no filme, que muitas vezes os próprios responsáveis não sabem como lidar com as situações. Ao acompanharmos Tiffany dando entrada em um abrigo, acompanhamos também a solícita atendente não sabendo como tratar uma menina trans. “Era a primeira menina trans que eles recebiam. Sempre tem esse problema institucional e vivemos em uma sociedade transfóbica. Serve pra gente ver como é difícil estar nos espaços”, analisa Maria Carolina, que celebra a importância de o filme estar em um circuito comercial.

“É importante pelo tema e para aproximar o filme de um público que não é costumaz de documentários”, pondera.

SERVIÇO

Diários de classe

Documentário. (Brasil, 2017, 79min.).

Direção: Maria Carolina da Silva e Igor Souza.

Elenco: Vânia Lúcia, Maria José, Tiffany.

Cotação: ****

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