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Exposição discute o papel da siderúrgica na rotina da cidade

Exposição discute o papel da siderúrgica na rotina da cidade

"O Grande Vizinho" traz imagens do mineiro Rodrigo Zeferino que registrou o entorno da usina e também o interior da empresa

Publicado em 22 de março de 2019 às 23:25

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Nascido em Ipatinga, Minas Gerais, o fotógrafo Rodrigo Zeferino cresceu cercado por chaminés, gasômetros e torres da usina siderúrgica instalada na sua cidade natal – um cenário bem parecido com o que temos na Grande Vitória. São esses elementos e a relação da cidade com essa indústria que compõem a exposição “O Grande Vizinho”, em cartaz a partir do dia 19 de março na Léo Bahia Arte Contemporânea, no centro de Vitória.

“Essa paisagem bastante peculiar sempre foi algo natural pra mim. Até que saí de Ipatinga, morei um tempo fora, e quando voltei tive uma experiência, uma sensação diferente, de não achar a paisagem tão normal. Isso me despertou o olhar”, conta Rodrigo.

Durante pouco mais de dois anos, Rodrigo percorreu sozinho as casas dos moradores próximos à usina. O objetivo era registrar os habitantes da cidade mineira diante desse notável vizinho para refletir como as pessoas convivem todos os dias com esse cenário, que muitas vezes passa despercebido. Os moradores acabaram se tornando figuras secundárias à frente da estrutura gigantesca a partir dos registros de Rodrigo.

O título da exposição faz referência ao livro “1984”, de George Orwell, e à figura autoritária do Grande Irmão. A série fotográfica, que começou a ganhar forma em 2015, recebeu o Prêmio Fundação Conrado Wessel de Arte 2016/2017. A mostra já passou pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Ipatinga. Essa é a primeira vez que Rodrigo traz suas obras para o Espírito Santo.

“Eu me deparei com uma imagem do meu arquivo que resumia essa ideia do grande vizinho. Era um prédio e dava pra ver a janela com uma pessoa e no fundo aquela estrutura um tanto quanto intimidadora. A partir daí já comecei a mapear a cidade com os pontos que precisava fotografar”, conta.

O OUTRO LADO

Depois de vencer o prêmio, Rodrigo decidiu partir para uma segunda fase do projeto, que também está presente na exposição em Vitória. O trabalho se complementa com a entrada de Rodrigo na usina. Foram meses de negociação, mas o fotógrafo mineiro registrou durante quatro meses os detalhes dentro da siderúrgica que os vizinhos só conseguem ver de longe. “Quando você chega perto aí você tem a noção da grandiosidade da estrutura”, diz.

Todas as imagens foram registradas à noite. Rodrigo se especializou em imagens noturnas e já possui um histórico com as fotografias em ambientes escuros. As luzes da usina se destacam ainda mais e detalhes imperceptíveis durante o dia ganham forma nas fotografias.

“A olho nu não podemos perceber certas coisas e a câmera consegue revelar algo que não estamos acostumados a ver. A luz noturna nessas fotos já é uma forma de desconstrução da paisagem. Para esse trabalho, quando a luz acende, a usina fica ainda mais colossal. Quando criança, escutava a lenda urbana de que durante a noite a siderúrgica expelia ainda mais gases, já que as pessoas não notavam. Mas cheguei à conclusão que o que causa essa impressão é a luz refletindo na atmosfera, que gera uma aura luminosa”, conta.

Para os moradores, a série fotográfica mudou a percepção do cenário que avistam no horizonte. Ipatinga foi planejada e construída ao redor dessa usina. Até poucos anos atrás a cidade era praticamente dependente e ela era basicamente a única atividade economicamente q tinha.

“Alguns moradores quando viram as fotos se sentiram surpresos e disseram que a exposição mudou o olhar. E esse é o objetivo de qualquer artista, de tocar o olhar de alguém”, reflete Rodrigo.

SERVIÇO

O Grande Vizinho

Exposição de Rodrigo Zeferino

Visitação: de terça a sexta, das 14h às 20h; sábados, das 10h às 14h. De 19 de março até 18 de maio.

Local: Léo Bahia Arte Contemporânea. Rua Nestor Gomes, 160,,Centro, Vitória

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Informações: 98114-0148

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