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Por que o áudio está passando a ser parte da vida das pessoas?

Por que o áudio está passando a ser parte da vida das pessoas?

Diretora de Parcerias de Mídias e Livros do Google na América Latina fala sobre o mercado de audiolivros no Brasil e sobre a presença cada vez mais forte do áudio na rotina diária

Publicado em 16 de março de 2019 às 21:26

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Andréa Fornes trabalhou em jornais impressos, revistas e televisão antes de voltar seus esforços para o mercado digital e chegar ao Google. (Google/Divulgação)

Há menos de um ano o Google Brasil lançou no Brasil o serviço de abooks, ou audiolivros. O serviço que já estava disponível em 45 países demorou para chegar por aqui, mas logo alcançou o sucesso entre os usuários – o Brasil já figura entre os dez países que mais usam esse recurso. Andréa Fornes é Diretora de Parcerias de Mídias e Livros do Google na América Latina e responsável pelo serviço.

Para ela, além do livros, o áudio já é cada vez mais presente a rotina das pessoas que querem otimizar o seu tempo. No meio do trânsito das grandes cidades, durante uma caminhada no calçadão, cozinhando, qualquer ocasião pode ser uma oportunidade para ouvir um podcast ou um novo livro. “O que eu vejo é que pouco a pouco essa resistência está acabando e o áudio está passando a ser parte da vida das pessoas. É mais prático, mais rápido e mais versátil, no sentido de poder levar pra qualquer lugar”, pondera Andréa Fornes, em entrevista por telefone.

Atualmente já são 2060 títulos disponíveis no Google. Entre os preferidos dos brasileiros estão os livros de autoajuda e negócios, como “Arte de Guerra”, de Sun Tzu, que aparece como o mais vendido. O serviço também oferece a possibilidade de acelerar a narração ou deixá-la mais lenta. Muito além do Google, o crescimento desse mercado é geral. Estados Unidos e Europa já possuem um mercado mais consolidado. No Brasil, que já tem mais de um smartphone ativo por habitante, surgem novas produtoras de audiolivros, planos de assinatura com vários títulos disponíveis e as editoras começam a investir mais como uma forma de, quem sabe, vencer a crise que se instala nas grandes redes de livrarias.

>Na entrevista, Andréa Fornes fala sobre a praticidade dos audiolivros, o mercado brasileiro e os planos de expansão. Confira.

Por que o Google Brasil decidiu investir em audiolivros?

É parte de uma estratégia maior do Google, que é a aposta no conteúdo de áudio. Estamos fazendo um trabalho bastante importante com o Google Assistente (uma assistente pessoal virtual). A língua portuguesa aparece em terceiro lugar entre todas presente no assistente, atrás do inglês e do espanhol. O audiolivro tem se mostrado uma tendência muito forte em função da escassez de tempo das pessoas. Com a vida corrida que muitos levam hoje em dia, elas alegam não ter tempo para sentar e ler um livro físico, ou mesmo um ebook. Então o audiolivro vem compensar essa falta de tempo. É um formato que a pessoa pode ouvir em qualquer lugar, no metrô, caminhando, no banho, no carro... É fácil e as pessoas passaram a não ter mais desculpa para não “ler” um livro.

E qual o balanço depois de um ano do lançamento?

Vemos um crescimento muito grande. A base de usuários que antes era forte nos Estados Unidos e na Europa está crescendo na América Latina e na Ásia, então é uma boa notícia pra gente porque como a penetração de (sistema operacional) Android é grande, apostamos que as pessoas vão cada vez mais consumir ebooks para ouvir nos telefones. Nos Estados Unidos esse formato está disponível no Google Home Assistant que deve chegar ao Brasil ainda este ano.

Quais os tipos de audiolivros mais consumidos pelos brasileiros?

Existe um grande apelo de uma categoria que chamamos literatura de autoajuda/negócio. É a categoria mais procurada entre os brasileiros. Entre os livros mais vendidos estão “Arte da Guerra”, de Sun Tzu, “Ansiedade – Como Enfrentar o Mal do Século”, de Augusto Cury, e “Eu Vou Te Ensinar A Ser Rico”, de Ben Zruel.

Existe um tipo de livro mais fácil para quem quer começar a consumir esse tipo de conteúdo?

Acho que a pessoa deveria começar pelo autor ou pelo gênero que é da preferência dela, porque aí é mais garantido que ela vai se engajar e ouvir o livro até o final.

Em quais horários as pessoas costumam ouvir os conteúdos em áudio?

Detectamos três momentos importantes. O primeiro é de manhã cedo, quando a pessoa consulta o conteúdo de áudio para saber da previsão do tempo, ouvir notícias e saber do trânsito. Depois, o outro momento é quando a pessoa faz o trajeto para o trabalho ou para levar o filho na escola., no carro. E o terceiro é ao final do dia, quando ela escolhe um conteúdo para entretenimento, que pode ser um livro para elas, ou uma história infantil para os filhos. Essa cultura de contar histórias para crianças existe há muito tempo. Então o narrador do audiolivro é um narrador de histórias.

Após o lançamento já surgiram novas ferramentas?

Continuamos com as mesmas ferramentas. Temos um recurso que permite ao usuário determinar em que velocidade ele quer ouvir o livro, se quer algo mais pausado ou uma narração mais acelerada, que encurta o tempo que ele precisa para terminar o livro. Essa é uma ferramenta que considero muito útil porque você vai decidindo em que ritmo quer consumir aquele livro.

Você acha que existe resistência de algumas pessoas, de achar que estão trapaceando ao ouvir um audiolivro?

Eu acho que não mais porque as pessoas estão se habituando cada vez mais a consumir conteúdo em áudio, seja no WhatsApp, nos assistentes... O que eu vejo é que pouco a pouco essa resistência está acabando e o áudio está passando a ser parte da vida das pessoas. É mais prático, mais rápido e mais versátil, no sentido de poder levar pra qualquer lugar.

Qual a grande diferença de um livro e um audiolivro?

Eu sou uma leitora voraz, então eu vou te dizer que sigo lendo livro físico, sigo lendo ebooks e passei a ouvir audiolivros também. Acho que com o audiolivro eu tenho mais oportunidades, então às vezes estou em algum lugar esperando uma reunião, uma consulta médica ou no trânsito e se tenho alguns minutinhos vou aproveitar e ouvir alguma coisa. É um jeito de preencher o tempo de uma forma agradável. E não ocupa espaço como um livro físico. Minha experiência pessoal é que como consumo muito, pra mim também faz diferença porque chega uma hora que tenho que começar a doar livros porque não tem onde colocar, e o audiolivro otimiza espaço.

As pessoas estão cada vez mais com dificuldade de concentração, não é fácil se distrair?

Depende da pessoa. Eu estou justamente agora lendo muito sobre esse tema de como precisamos nos concentrar no momento presente. Tudo acaba, as coisas não duram para sempre, então é importante você desfrutar ao máximo do momento presente. Eu acho que a partir do momento que você se encontra no momento atual sem, ficar pensando no passado e no futuro, você consegue aproveitar ao máximo.

Existe risco da história ser modificada de acordo com o narrador? Como é esse processo?

O narrador do audiolivro influencia barbaramente. Ele não tem condição de mudar o conteúdo da história, mas tem condição de cativar o usuário ou não. Vou dar um exemplo em inglês do audiolivro “Minha História”, de Michelle Obama, que ela mesmo narra. No Brasil temos o livro “Sua Vida em Movimento”, do Marcio Atala, que faz a própria narração do livro. É legal porque todo mundo acompanha o programa dele e já reconhece a voz. É muito diferente ter um narrador que não é o autor. Em alguns casos o autor não tem tanto apelo e popularidade, aí faz menos diferença. Ouvimos muito dizer de profissionais que trabalham com produção de audiolivro que o narrador pode impulsionar ou derrubar a obra.

E a produção de audiolivros no Brasil também está crescendo?

Estamos vendo mais ‘players’ chegando ao mercado, o que é sempre bom. Existe também muita movimentação das editoras. Há um ano, quando eu conversava com editores, havia uma certa relutância em produzir audiolivro, era um meio incerto. Um ano depois o que vejo é que editoras estão apostando bastante no formato, inclusive para combater essa crise no mercado editorial, que se instaurou devido à situação difícil das livrarias.

Hoje já existem até os resumos de livros em formato de áudio. O que acha disso?

Eu acho que é valido, mas nada como mergulhar em uma história de cabo a rabo. Em um resumo você sempre está perdendo alguma coisa. Otimiza o tempo, mas também reduz a experiência.

Como funciona o trabalho com as editoras?

Temos agregadores parceiros que trazem títulos de várias editoras e disponibilizam para nós. Uma coisa importante é que o Google oferece um serviço de audiolivro à la carte. Existem vários players que possuem o esquema de assinaturas, mas no Google você compra cada livro individualmente. São vários títulos de diferentes editoras e trabalhamos com editoras individualmente na base da exclusividade de audiolivros.

Acha que o mercado ainda tem muito a crescer?

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No mundo inteiro, no último ano, o número de usuários diários do Google Assistant cresceu quatro vezes; nos mercados emergentes, esse crescimento foi de sete vezes. Então acho que esse crescimento está acontecendo.

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