Antes de qualquer juízo de valor sobre O Gênio e o Louco (2019), que estreia nesta quinta (18) nos cinemas do Espírito Santo, é preciso contextualizar sua turbulenta produção, o que pode explicar os problemas estruturais do filme.
Megalomaníaco e perfeccionista (vide as confusões causadas nos bastidores de seu filme mais controverso, Apocalypto, de 2006), Mel Gibson gestou o projeto de O Gênio e o Louco por mais de 10 anos. Amigo do diretor do longa, Farhad Safinia, estreante atrás das câmeras e um dos roteiristas de Apocalypto, o astro queria regravar cenas na Universidade de Oxford - onde se passa boa parte da trama - e aumentar o orçamento já estourado. Com a recusa dos produtores, Gibson e Safinia abandoram a produção antes da finalização e se recusaram a promovê-lo depois de pronto.
O resultado do filme espelha os problemas de seus bastidores. Trata-se de um drama desigual, de boa contextualização de época (figurinos e direção de arte), mas narrativa arrastada, com um pé no melodramático e atuações acima do tom (especialmente de Sean Penn, um bom ator, mas que adora um overacting e cair na caricatura cênica, lembrando aqui sua desastrosa presença em Uma Lição de Amor, de 2001).
LOUCURA E GENIALIDADE
Na trama, que tem uma premissa interessante, James Murray (Mel Gibson, digno no papel) é um estudioso de línguas que recebe, na metade do século XIX, o desafio de reunir todas as palavras e verbetes da língua inglesa em um único projeto, o hoje conceituado Dicionário de Oxford.
Seu maior companheiro de jornada é um ex-cirurgião do exército americano, William Chester Minor (Sean Penn), com fantasmas de guerra para serem exorcizados e que mata um homem no auge da loucura. Internado em um sanatório britânico, o médico fica obcecado pelas letras e cataloga milhares de novas palavras, sendo definitivo para a confecção do dicionário.
Baseado no livro de Simon Winchester, O Professor e o Louco (título mais sensato do que o do filme no Brasil, pois o gênio em questão é Chester Minor e não James Murray), o longa dispara para todos os lados sem chegar a lugar algum. Causa estranheza uma sequência de ação na abertura (com tiroteios e assassinatos). Estranho para um drama de época. Além disso, um romance platônico que não chega a lugar nenhum, entre William Chester Minor e a viúva do homem que ele assassinou (vivida pela boa Natalie Dormer, de Game of Thrones e Penny Dreadful), também soa fora de contexto.
"Dicionário de Oxford": palavras que causam controvérsia
Considerado o livro mais completo em termos de catalogação de palavras e verbetes da língua inglesa, O Dicionário de Oxford virou referência para estudantes e pesquisadores da língua bretã. Editado pela conceituada universidade que dá nome ao projeto, já teve duas edições impressas (uma em 1928, época em que se passa o filme O Gênio e o Louco, e outra em 1989), atualizações anuais e uma versão online, lançada em 2000, que recebe quase três milhões de acessos por mês. Uma terceira edição está sendo feita há 19 anos e deve ser lançada no início da próxima década.
Com cerca de 20 livros, que juntos somam mais de 21 mil páginas, e milhares de palavras catalogadas, o Dicionário de Oxford anualmente escolhe uma palavra do ano, que, normalmente, é motivo de debates acalorados entre os estudiosos e pesquisadores. No ano passado, a escolhida foi tóxico, eleita tanto por questões ambientais óbvias, como por conta da onda conservadora que está assolando o mundo na atualidade. Causaram polêmica em 2015, com emoji que chora de rir, e em 2016, com pós-verdade. Comenta-se que, para 2019, a escolhida deve ser brexit, uma referência à saída do Reino Unido da União Europeia.
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