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Longe da folia, escolas de samba são nota 10 com projetos sociais

Longe da folia, escolas de samba são nota 10 com projetos sociais

Aposta das escolas é melhorar a comunidade e dar mais oportunidades a jovens com projetos gratuitos de educação, música e ações que ajudam até a moradores de rua

Publicado em 13 de maio de 2019 às 23:06

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03/05/2019 - A Mocidade Unida da Glória (MUG) realiza projetos sociais com a comunidade durante o ano. Entre eles, está a escolinha de judô do professor Ibsen. (Fernando Madeira)

Na passarela do samba, elas arrasam com alegorias faraônicas, fantasias luxuosas e enredos que ilustram bem a realidade do Espírito Santo. Fora da época carnavalesca, os espaços das escolas viram ambientes da comunidade, que são usados para desenvolver projetos que dão show de solidariedade. Algumas agremiações apostam em oficinas e atividades de graça para jovens, na busca de um futuro melhor para a própria comunidade, e até investem em ações para distribuir comida e roupas para moradores de rua.

Na Unidos da Piedade, na Capital,  Pedro Sacramento criou há cerca de dois anos, ao lado de dois outros colegas, a rede Voluntários do Bem. O projeto chega a dar 160 pratos de comida por semana para moradores de rua da região do Centro de Vitória, onde a escola está localizada, como forma de plano de combate à fome em uma ação integrada à Prefeitura de Vitória (PMV).

"São 45 voluntários, de cozinheiras a motoristas, que nos ajudam. Nós distribuímos toda a comida às quartas-feiras e, devido à fama do projeto, já fomos convidados até por outras prefeituras para realizar projetos em outras cidades e regiões", destaca Pedro, garantindo que tudo é mantido com recursos da Piedade e do Hortomercado, que fornece os alimentos.

De acordo com o coordenador, o principal é trazer a comunidade para atuar como voluntária e fazer com que personagens-chave da escola entendam a importância das ações. "Nós já temos planos para aumentar o projeto. Queremos dar aulas de reforço para crianças, oficinas de culinária, tudo de graça. Agora, temos que focar em fazer reformas na quadra e cozinha da escola para ter local apropriado para isso", adianta.

Pedro lembra que, muitas vezes, os voluntários aparecem mas, nem sempre, é possível colocar o projeto em prática devido a falta de estrutura física. “Tem professor de música, cozinheira, todo mundo quer ajudar. Por isso, estamos investindo forças em ver um jeito de agilizar essas obras”.

Equipe do projeto Voluntários do Bem, da Piedade, distribui cerca de 160 pratos de comida por semana para moradores de rua da região do Centro de Vitória. (Reprodução/Instagram @voluntariosdobemvix)

FORÇA DE VONTADE

Há cerca de nove anos, o professor de judô Ibsen Pettersen dá aulas em escola particular da Praia do Canto, em Vitória, mas decidiu oferecer o serviço para a Mocidade Unida da Glória (MUG). "O presidente adorou. Hoje atendemos mais de 200 jovens, de 5 a 17 anos, e alguns deles chegam a competir em campeonatos no Brasil inteiro”, conta, explicando que o projeto vai além do judô.

“O presidente já queria colocar em prática o que é chamado de MUG do Futuro, um projeto que envolve as crianças da região em várias atividades. O judô é chamado de Faixa Dourada, mas têm aulas de música também", completa.

Para Ibsen, essa transformação social é o que mais é importante. Ele conta que o projeto tem números que apontam que muitos alunos melhoraram o desempenho na escola regular quando passaram a frequentar as atividades do projeto. Isso porque, com mais tempo ocupado, as crianças podem desenvolver mais habilidades e criarem disciplina.

Alunos do projeto Faixa Dourada, do MUG do Futuro, desenvolvido pela escola de samba da Glória, em Vila Velha. (MUG/Divulgação)

"Muitas das crianças têm famílias desestruturadas e a gente vem para ajudar nisso também. Recentemente, a mãe de uma das nossas melhores alunas foi presa, levando droga para o marido na prisão. Então, é desse modelo o cenário que a gente tem que lidar. Mas a melhora é visível, desde a primeira experiência que esses jovens têm com o judô e as demais atividades", reitera.

Alunos do projeto Faixa Dourada, do MUG do Futuro, desenvolvido pela escola de samba da Glória, em Vila Velha. (MUG/Divulgação)

Segundo o judoca, o projeto é todo mantido com recursos da escola e dele próprio, que doa parte do salário para as aulas que dá diariamente na MUG. No entanto, às vezes são feitas campanhas para arrecadar fundos para alguma ação específica, como a troca do tatame.

Recentemente, ele recebeu cerca de R$ 3 mil de um doador que queria ajudar nessa troca, que é uma demanda que está com certa urgência. "Para trocar tudo, é necessário cerca de R$ 13,5 mil. Mas esses R$ 3 mil já ajudam bastante e vão compor o fundo para fazer essa obra", exemplifica.

O professor de judô Ibsen Pettersen e os alunos do projeto Faixa Dourada, do MUG do Futuro, desenvolvido pela escola de samba da Glória, em Vila Velha. (MUG/Divulgação)

FESTAS AJUDAM A MANTER PROJETOS SOCIAIS

Na Unidos de Jucutuquara, desde janeiro é realizado, mensalmente, o que chama de Roda de Samba da Jucutuquara. No projeto, participantes frequentes e interessados pela escola podem aprender a tocar algum instrumento e desenvolver novos enredos.

"Em outras palavras, é um grande evento de troca de experiência e talento entre os músicos", define o coordenador Fernando Bastos, afirmando que o projeto se paga sozinho com a cobrança das entradas.

Realizada no Mercado São Sebastião, na Capital, a primeira edição da festa reuniu cerca de 500 participantes. Muitos deles eram moradores da comunidade aprendendo a tocar um instrumento.

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"A nossa ideia é atrair esse pessoal para as demais festas da Jucutuquara de forma que eles fiquem mais assíduos na nossa programação. Desse jeito, vamos desenvolvendo mais festas e pensando em formas de expandir nossa atuação na comunidade", finaliza.

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