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Após 20 anos, 'O Homem Que Matou Dom Quixote' enfim chega aos cinemas

Após 20 anos, "O Homem Que Matou Dom Quixote" enfim chega aos cinemas

Diretor Terry Gilliam teve inúmeros problemas de produção desde que decidiu levar a história às telonas

Publicado em 20 de junho de 2019 às 21:14

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Adam Driver e Jonathan Pryce estrelam o longa "O Homem Que Matou Dom Quixote". (Elite Filmes/Divulgação)

É impossível começar um texto sobre o “O Homem Que Matou Dom Quixote” – em cartaz nos cinemas do Estado – sem ser repetitivo, ou mesmo soar clichê. Afinal, falar dos bastidores da produção de Terry Gilliam soa bem mais interessante (ou seria dramático?) do que abordar o próprio filme em questão.

Considerado o projeto “maldito” do ex-Monty Python, o cineasta embarcou em uma verdadeira saga quixotesca para terminar o longa-metragem, seu grande sonho (e obsessão) como realizador. Iniciada em 1998, a produção demorou quase 20 anos para ficar pronta. Inicialmente, Gilliam perdeu os dois Dom Quixotes originais. Jean Rochefort e John Hurt tiveram que se afastar das filmagens por problemas de saúde (ambos acabaram morrendo pouco tempo depois).

Tragédias nos sets de gravações (com inundações dos cenários na Espanha), financiamentos cancelados e até um imbróglio judicial – movido pelo produtor português Paulo Branco, que tentou impedir a estreia do filme – também acabaram prejudicando ainda mais o processo de pós-produção. Tanto tormento rendeu um ótimo documentário, “Perdido em La Mancha” (2002), de Keith Fulton e Louis Pepe, em que o cineasta descreve em detalhes todo o seu calvário.

  

Diretor Terry Gilliam em ação nos bastidores de "O Homem Que Matou Dom Quixote". (Elite Filmes/Divulgação)

Infelizmente, os problemas dos bastidores acabaram afetando o resultado final de “O Homem Que Matou Dom Quixote”. Nem as boas ideias surrealistas afastam o filme da narrativa confusa, que erra ao apostar em diálogos forçados e repletos de clichês (como críticas à máfia russa, vista como a dona do dinheiro, e alfinetadas a mulheres desprotegidas, quase objetificadas), atuações fora do tom (especialmente um Adam Driver caricato e canastrão) e o que seria o maior erro do longa: embarcar no gênero pastelão, um humor físico, quase vulgar, que não se adequa a uma história que tende (ou deveria tender) ao lirismo, mesmo em forma de comédia.

A trama tenta fazer piada (mórbida, por sinal) com os próprios problemas enfrentados pela fita. Um cineasta famoso (Driver) é contratado para fazer uma superprodução sobre o personagem criado por Miguel de Cervantes. Em crise de ideias, ele acaba lembrando (?), por meio de um DVD pirata (?), que, quando era estudante de cinema, fez um projeto sobre o mesmo tema. Ele decide revisitar a antiga história encontrando o seu ator original, um sapateiro que enlouqueceu (Jonathan Pryce, ótimo, mas que quase se perde nos exageros) e pensa que é Dom Quixote de verdade.

FORA DO TOM

Terry Gilliam até tenta dar originalidade a sua trama. Soa interessante a série de metáforas entre o século XVI (a Inquisição e a perseguição aos mouros) e o presente (imigrantes ilegais e paranoias sobre terrorismo). Porém, a falta de sutileza e o excesso de lisergia acabam estragando as boas sacadas. Curiosamente, a criatividade lisérgica, quase paranoica, sempre foi o ponto forte das histórias do diretor, especialmente se olharmos o sucesso de filmes como “Brazil” (1985), “As Aventuras do Barão Munchausen” (1988) e especialmente “Os 12 Macacos” (1995), o seu melhor projeto.

Não adianta buscar sentido em “O Homem Que Matou Dom Quixote”. O filme, inclusive, não faz questão de ser linear e esse nem é o seu maior problema. Na tentativa de manter o personagem histórico no universo da cultura pop (fato que ainda é), o roteiro acaba subvertendo o sentido de loucura. O que era para ser lirismo na busca pelo amor impossível de Dulcinéa, a luta com os moinhos de ventos (no sentido metafórico de busca pela liberdade) ou mesmo a presença da relação freudiana entre Id (Dom Quixote) e Superego (Sancho Pança), acaba virando “egotrip” pelas mãos pesadas do diretor.

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